sábado, 9 de dezembro de 2023

TEMPO DE CONTAR 6

            A bebida da moda entre a turma era o uisque Royal Label, uma cachaça melhorada da época, forte para caralho! Um litro já bastava para três quatro de nós. Naquele meio dos anos de 1970, todos beirando os 16 ou 18 anos não existia porteira. A liberdade era total, ou se não era a gente fazia ser. 

            As saídas eram dias de sábados. O meio de semana era estudo e trabalho com afinco, trabalho para aqueles que trabalhavam. As saídas eram planejadas e marcadas com antecedência. Isso para não ter surpresa, e também para garantir o uisque e os acessórios, que geralmente eram Latas de Kitut, Salsichas enlatadas e Azeitonas. Nunca entendi ´porque não havia queijo, enfim. 

             Nada de namoradinhas naquelas saídas. Para aqueles que tinham uma, o jeito era dispensar naquela noite. As vezes não era fácil explicar! Porque não podiam sair com a turma? O que havia de tão importante nesses encontros? Simplesmente nada, só bebidas e papo de homem. Opa, melhor dizendo papo de jovens! Mas também não era bem assim! Nas saídas podia acontecer de tudo, e a busca era infernal para que acontecesse. Então, a companhia das garotas não era uma boa.

              Era muito simples. Um de nós levava as bebidas e os tira-gostos e outro levava o gravador e fitas cassete, tudo em mochilas. As vezes traçavamos os percursos outras vezes não, deixava-se ir. Parava em algum lugar e tome uisque com tira-gosto. Uma festa.

                Como todos morávamos na zona norte o percurso era a zona sul. O encontro era no bar do mil reis, Coelho de Resende com Amazonas, jogávamos um pouco de sinuca bebendo Montila com Coca-Cola e depois o mundo da noite. Coelho de Resende, Frei Serafim, Praça Pedro II, Primeiro de Maio, José dos Santos e Silva, Barão de Gurguéia e por ai vai. A noite era nossa. e só terminava com os raios do sol. O que fazíamos na noite? É outra história.   

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

MEU AVÔ ERA INCRIVEL!

 

               Duas palavras que meu avô adorava eram incrível e fantástico. Gostava de escutar ele dizendo, isso é incrível! Isso é fantástico! Ah, meu nome é Lia, e eu adorava meu avô. Eu não sabia muito bem o que significavam aquelas duas palavras. Fantástico eu imaginava que podia vir de Fanta, um refrigerante muito popular quando eu era criança. Existia Fanta uva e Fanta laranja.  Eu gostava muito de Fanta uva. A outra palavra incrível eu achava que devia ser uma coisa que não existia. É, porque eu, como criança,  nunca tinha visto  uma coisa incrível.

                Mas falando em refrigerante meu avô detestava qualquer um. Coca Cola então nem se fala. Lia, não beba isso minha netinha! Faz mal! Eu via todos meus colegas tomando e não passavam mal nenhum. Meu avô devia ser cismado com alguém que inventou a Coca Cola Ele contava uma história de uma mulher e seu filho pequeno. Viajavam em um trem. O menino começou a chorar pedindo comida para a mãe. meu avô ficou perturbado com aquele chororo.

             - Mamãe, 'tou com fome! Esbravejava o menino.

               Meu avô não aguentou mais. 

            - Minha senhora peça uma coisa aí pra esse menino! Um Sanduixi, um pão com queijo! Eu pago.

               O menino calou a boca, olhou para meu avô e para sua mãe.

            - Tu quer o que, Zezinho?  Perguntou a mãe.

               A criança tornou a olhar para os dois, e sapecou.

            - Eu quero pão com Coca Cola!

               Meu avô respondeu na mesma altura.

            - Pão sim. Coca Cola não!

              O menino se calou, e sua mãe não disse nada. 

             Meu avô dizia que a Coca Cola era o mal criado pelo imperialismo americano para dominar o mundo. Para mim aquelas coisas que ele dizia contra o refrigerante não faziam sentido. Só fui entender sua raiva muito tempo depois.

                Como eu adorava meu avô!

 

              

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

A FAZENDA

 

               A fazenda não era propriamente uma fazenda do nosso imaginário. Mas era uma fazenda. Pelo menos era denominada dessa forma. Só não tinha nome, no entanto, todos conheciam como a fazenda. O local era tranquilo, e se não fosse a presença de algumas vacas e bois, alguns cavalos e éguas, alguns jumentos e jumentas, a tranquilidade seria eterna.

               Aqui e acolá a rotina era quebrada com os cavalos desembestados correndo inguém.

no cercado atrás das éguas, levando tudo em turbilhão. Os cavalos  tinham a mania de querer morder as éguas no pescoço, mas isso devia ser uma forma de amor dos animais porque logo depois eles cobriam a companheira, que aceitavam tudo calmamente. Quanto a jumentada nem se falava muito em relação a isso, por que os jumentos cobriam as jumentas no silencio. Não vamos falar do resto dos animais, como cabras e bodes, ovelhas, galinhas e galos. A única coisa estranha em relação aos galos é que alguns cantavam fora do horário.

                A fazenda, portanto, era tranquila. Mas por que tanta nostalgia e banzo sentiam as pessoas que por lá moravam? Era uma certa solidão diária que impedia de serem felizes completamente. Muitos deles andavam moribundos pelos ambientes. Não era falta do que fazer, nem falta de como se divertir, nem falta de saborear  comidas  das mais diversas. Tudo estava ao alcance dos moradores da fazenda. O silencio e a solidão em que viviam seus moradores não tinha explicação. Empregados dos mais intimos aos mais distantes já tinham se acostumados com o silencio e a fala calma e mansa de seus patrões. Para eles era uma coisa incompreensivel. Todavia, alguns se dava por satisfeitos e felizes, pois seus patrões não levantavam a voz para ninguém.

              A fazenda está lá. A alegria passa longe daquele local. Mas os animais fazem a festa. Talvez seja por isso mesmo que ela ainda esteja lá, bela e imponente.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

SOBRE O TEMA DE UM TEXTO

 

              Raramente um ator ou atriz de um espetáculo responde de pronto a uma pergunta sobre qual o tema de seu espetáculo. Muitas vezes confunde-se o tema com o enredo ou o argumento. Outras vezes, conta sobre o espetáculo de forma geral e, se for um drama ou uma tragédia, já vai logo dizendo que o espetáculo é sério mas também tem comédia pelo meio. É uma forma de agradar ao público viciado em comédia.

             O tema de um texto teatral muitas vezes está explicito e outras vezes nem tanto, sendo necessário mesmo uma discussão sobre. Qual o tema de Medeia, tragédia do tragediografo grego Eurípedes?  Simples vingança de uma mulher traída? Discussões e discussões tem-se feito sobre esse texto que é um dos mais perfeitos  da dramaturgia. 

            Descobri o tema do texto dramático é um dos primeiros exercicios numa montagem, isso gera segurança na discussão e no aprofundamento do enredo. É bastante interessante descobrir as intenções que não está ás claras sobre os personagens, seu comportamento, seus gestos, suas ações. As intenções implicitas de um texto podem gerar formas de compreensão e ajudará firmemente o ator na composição de seu personagem.

           Lembro de uma discussão sobre o tema de O Pagador de Promessas, do autor brasileiro Dias Gomes. Muito se falou sobre os percursos de Zé d Burro, sua fé, seu caráter, seu amor pela mulher. Mas o tema de fundo do texto é um só - intolerância religiosa. Zé do Burro não pode entrar com su   a cruz na igreja. 

          Obviamente que um texto pode suscintar mais de um tema, no entanto, com certeza um será o predominante. Mas essa é outra história.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

ARTICULA PI -FINAL

       

           Em relação ao Sistema de Incentivo Estadual á Cultura – SIEC, propomos:

               - Que o Sistema de Incentivo Estadual a Cultura – SIEC, seja aberto de fevereiro a novembro de cada ano;

               - Que os projetos sejam liberados por critérios técnicos, e não por rateio do dinheiro entre os contemplados, e que os proponentes dos projetos tenham livre acesso aos pareceres, quando requisitados;

            - Que o Conselho Deliberativo do SIEC seja extinto, passando as suas atribuições do SIEC ao Conselho Estadual de Politica Cultural;

            - Que seja retirada da Lei do SIEC a porcentagem para projetos de interesse do governo do estado, por entendimento de que o Estado deve investir em projetos culturais de seu interesse.

              Tendo em vista o estabelecimento de critérios democráticos para a escolha dos membros do Conselho Estadual de Cultura – CEC, propomos;

           - Que o Conselho Estadual de Cultura – CEC, seja paritário, deliberativo, consultivo e fiscalizador, de conformidade o que preconiza o Sistema Nacional de Cultura – SNC, transformando-se em Conselho Estadual de Política Cultural – CEPC;

           - Que os conselheiros da sociedade civil do CEPC sejam eleitos pelos seus respectivos fóruns setoriais de cultura representativo de cada categoria artística;

           - Que o Conselho Estadual de Politica Cultura – CEPC, tenha verba de manutenção, retirando-se a obrigatoriedade do pagamento de jetons para conselheiros.

              Tendo em vista o aprimoramento dos mecanismos de participação social no processo de elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas de cultura, propomos:

          - Que o Estado do Piauí elabore o seu Plano Estadual de Cultura, com validade de 10 anos, dentro das diretrizes do Sistema Nacional de Cultura – SNC, com a realização de conferências municipais e conferência estadual de cultura, de forma a contemplar princípios, objetivos, diretrizes, metas e ações a serem implementadas pelo Estado do Piauí;

          - Que seja implementada reestruturação da Secretaria de Estado da Cultura do Piauí, com realização de concurso púbico, e a revisão organizacional do órgão, com a revisão da legislação cultural vigente, em especial, ao tocante, ao patrimônio cultural e aos mecanismos de financiamento e fomento.

            O ARTICULA-PI. ao se dirigir a Artistas, Técnicos, Criadores, Produtores Culturais e a todas e todos da sociedade com esta Carta Aberta, pretende convocar para o debate  artístico-cultural do estado, de forma livre e democrática.

 

             ARTICULA-PI                

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

ARTICULA PI 1

                    Vamos publicar aqui a primeira parte de uma carta aberta do movimento Articula- Pi, Frente da sociedade civil para as políticas publicas do Piauí, publicada e lida para o público no Seminário de Políticas Públicas, realizado pela Frente, na Universidade Estadual do Piauí, com uma palestra de Célio Turino, ex-Ministro Interino da Cultura. 

                                   AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA CULTURA 

           Nós do ARTICULA-PI, frente de luta da sociedade civil para as políticas públicas de cultura, encaminhamos esta Carta Aberta para conhecimento e discussão de Artistas, Técnicos, Criadores e Produtores Culturais do Estado do Piauí, assim como a todos e todas aqueles que  de forma geral possam se engajar nesse processo.

            O Brasil atravessa um novo momento político  em que a democracia retoma o protagonismo social possibilitando avanços em  todas as áreas, sobremaneira, a área cultural massacrada nos últimos quatro anos do governo federal. Nesse sentido, externamos  total confiança no governo que ora se inicia, tanto  na esfera federal como na esfera estadual, possibilitando extensivos debates da classe cultural.

           Os debates do ARTICULA-PI foram frutos de preocupação com o desenvolvimento cultural do Estado e foram travados de forma democrática entre os seus membros, com representação de diversas áreas da arte e da cultura, e da sociedade civil. Dessa forma, o objetivo do movimento ARTICULA-PI foi o de rever e aprofundar as propostas do programa de governo do então candidato Rafael Fonteles, hoje governador do Estado do Piauí.

          Portanto, vamos  transcrever aqui para o conhecimento de todas e todos, artistas, técnicos, criadores e produtores culturais do estado, o que está colocado no programa de governo do Piauí  na área cultural, que é:

         - Estabelecer critérios efetivamente democráticos para a escolha dos membros do Conselho Estadual de Cultura – CEC, garantindo paridade entre poder público e a sociedade civil;

        - Aprimorar os mecanismos de participação social no processo de elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas de cultura;

        - Aprimorar o Sistema de Incentivo Estadual a Cultura – SIEC.

          Portanto, o ARTICULA-PI, depois de exaustivas reuniões e debates, consensuou as seguintes propostas para aprofundar e aprimorar a área cultural do Estado, objetivando o seu pleno desenvolvimento:


sexta-feira, 14 de julho de 2023

A PRIMEIRA VEZ NO RIO DE JANEIRO

               Corria o ano de 1981 e eu fui contactado pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT e pela Fundação Nacional de arte- FUNARTE, para fazer assistir um seminário chamado Teatro e Comunidade que iria acontecer na cidade do Rio de Janeiro. Entre surpreso e eufórico fiquei meio receoso em me mandar para o Rio de Janeiro sozinho. Ainda mais que seria a primeira vez que viajaria para aquela cidade. Seria tudo pago, hospedagem, alimentação e passagens. Passagens aéreas. Então, imagine! A primeira vez no Rio de Janeiro, e de avião! Coisa que eu nunca tinha andado também.

              Depois de pensar os prós e os contras confirmei que iria. E Fui. Peguei a Vasp e partir. Cheguei ao Rio de Janeiro já esperavam no aeroporto o pessoal de apoio da Funarte.  Participariam do evento vários artistas do Brasil. Na época eu era da diretora da Federação de Teatro Amador do Piauí, e minha escolha pelo Serviço Nacional de Teatro talvez fosse pelo trabalho que fazia no Grupo de Teatro Raízes, do qual eu era coordenador, e com  alguns trabalhos patrocinados pelo SNT.

              Instalado no hotel Ambassador, na Cinelandia, ficava perto de tudo. Teatro Municipal do Rio, Teatro Rival, o Bar Amarelinho, onde muitos artistas do Rio se encontravam, quer dizer, pra mim uma farra.

               O Seminário - Teatro e Comunidade foi de uma impotância muito grande para mim, foi lá que conheci pessoas como Ana Mae Barbosa, Luiza Barreto Leite, e tantas outras que fizeram conferencias.

               Um fato interessante aconteceu no Amarelinho, na primeira noite do Semnário . Um funcionário do SNT chegou pra mim e erguntou se eu conhecia o ator e cantor Octavio Cesar, que era do Piauí. Confesso que ainda não tinha ouvido falar em Octávio Cesar.  Mas disse prontamente que o conhecia e, ainda, que era seu amigo. Octávio Cesar estava com um espetáculo em um teatro. Fiquei popular com o funcionário.

               Esse fato contei para Octavio Cesar anos depois, quando ele foi foi homenageado pela TV assembleia com o Troféu Pauta Cultural. Nunca contado antes.  

               

quinta-feira, 22 de junho de 2023

MAIS UMA VEZ SOBRE A TRAGÉDIA

                  A tragédia aqui discutida é sobre o prisma da dramaturgia, melhor dizendo, da tragédia grega. O que preconiza, e ai mais ou menos, o filosofo Aristóteles no seu livro Poética. 

               Quando falamos que uma morte de transito, um acidente de morte não se configura como uma tragédia, é que a tragédia é construída em um espaço de tempo, e a premissa é conhecida por todos. Como exemplo, podemos citar a tragédia Édipo Rei, de Sofocles. O oráculo diz que Édipo vai matar o pai e casar com a mãe. Esse destino do herói é imutável, o que vamos conhecer no percurso do herói é como se darão esses fatos. Ai se instala a tragédia.

                 Dessa forma, fica caracterizado que a tragédia é uma construção do destino. Alguém cheio de saúde que, de repente, descobri um câncer seria uma tragédia? No aspecto da descrição, sim. O câncer poderia ser de familia, portanto, quase imutável, sem jeito. Depois essa pessoa não morreria de uma hora para outra. seu sofrimento para se tratar, sem corpo, outrora cheio de saindo, se desvanecendo com o tempo, e a doença incurável, se configuraria como uma tragédia.

                É interessante que a tragédia moderna se dar de várias formas. Temas na modernidade é o que não falta. E, muitas vezes, a realidade é tão mais cruel do que a ficção. Quantas coisas trágicas abarrotam o mundo? São milhares de imigrantes morrendo em alto mar dentro de barcos abarrotados, tragédia anunciadas. Pois ninguém vai acreditar que todo aquele contigente de pessoas vai escapar do ma em fúria. O que se espera é de como as mortes vão acontecer e,pior, sem ninguém fazer nada.

               Jesus na sua infinita bondade não quis escapar da cruz, mas poderia não ter acerto o destino traçado pelo pai. Portanto, podemos falar não em tragédia da paixão de cristo, mas no drama e no sofrimento de Jesus. 

       

segunda-feira, 22 de maio de 2023

SOBRE A TRAGÉDIA

                 É muito difícil hoje você falar em tragédia na dramaturgia usando como parâmetro a tragédia grega. A realidade hoje em dia é muito mais cruel. Vamos pensar apenas em um dos  textos seminais da dramaturgia trágica grega - Medeia, de Eurípedes. Quanta semelhança com os dias atuais! Mães e pais matando os filhos, ou mesmo os dois juntos.

                Portanto, realmente não é fácil. Na concepção clássica da tragédia, diz-se que o herói não consegue ultrapassar os obstáculo que se apresentam para ele e que seu destino está traçado não existe volta, ou seja, o obstáculo é intransponível. E tem mais, o herói quase sempre morre, ou perde todas as suas forças pra lutar. Eu, por exemplo, tinha raiva quando o meu mocinho do cinema morria no final do filme. Ah, não tinha graça nenhuma!

                No entanto, mesmo o herói morrendo ou vencido em sua luta, sua luta continua a ser perpetuada por todos. Sendo assim o herói pode até morrer mas seu exemplo continua para aqueles que acreditam na sua luta. A morte do herói assim não é em vão, por mais trágica que seja.

               Diz-se na tragédia grega que o destino do herói é traçado pelos deuses. Portanto, ele não tem dominio sobre seu destino.Ele é imutável.  E isso é dito ali, no seu nascimento. Vejamos o exemplo da tragédia Édipo Rei, em que Édipo tem seu destino traçado pelo oráculo. Édipo vai matar o pai e casar com a mãe. Tudo acontece como foi dito.

                 Interessante é que nesse sentido levantamos sempre um debate em sala de aula. A morte de Jesus Cristo na cruz é uma tragédia? A gente sempre escuta na encenação da paixão de cristo o refrão - venha assistir  a Tragédia da Paixão de Cristo. Ora, Cristo sabia de seu destino e podia transformá-lo se quisesse. Portanto, seu destino não era imutavel. Ficaria mais apropriado, então, chamar de Drama da Paixão de Cristo. Como é realmente denominado na história do teatro.

                 Outra coisa. Nem tudo que se denomina de tragédia é. Uma morte no transito, uma casa que cai, um assassinato, isso não é tragédia. É acidente. 

                   Voltaremos!

                 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

SOBRE DRAMATURGIA

               Sempre lecionei teatro, me formei pra isso. Licenciatura Plena em Educação Artistica - Artes Cênicas, na Universidade Federal do Piauí. Isso quando tinha artes cênicas. Depois comecei a escrever, produzir e dirigir espetáculo de teatro. 

            Na Escola de Técnica de Teatro Gomes Campos fui professor de algumas disciplinas, entre elas, Literatura Dramática. Gostava muito de falar sobre os fundamentos do teatro na Grécia e no mundo, principalmente na Grécia berço do teatro ocidental. Era bacana falar dos tragediografos gregos, principalmente Eurípedes. 

                Sobre o Drama, por exemplo, as aulas eram bastante participativas. O que é o drama? Drama é ação, conflito. Sem isso nada evolui. Geralmente eu exemplificava para os alunos com um papo de namorados. 

                O namorado - Tudo bem?

                A namorada - Tudo bem!

                O namorado - Ah, certo.

                A namorada - E você como está?

                O namorado - Eu estou bem, bem.

            Quer dizer o diálogo não evoluiu, pois se tudo está bem, continuará tudo bem, é obvio! Na dramaturgia não funciona assim. Pois sem ação não há conflito.

                 Mas vamos dizer que o namorado pergunte:

                 O namorado - Tudo bem?

                 A namorada - Não, está tudo mal! Com raiva logo.

                 O namorado  - O que aconteceu?! pergunta ele aflito.

                  Pronto. Está estabelecida a ação e, consequentemente, o conflito! A partir daí tudo flui e se resolve, ou não,. mas o importante é que se chega a algum lugar.

                 A dramaturgia me fascina!

        

            

terça-feira, 4 de abril de 2023

REVIVER CARNAVAL IV

                   No Seminário Rumos e Identidade do Carnaval de Teresina - REVIVER CARNAVAL,, realizado em 1997 pela Fundação Cultural Mons. Chaves/PMT, uma das falas importantes foi do carnavalesco Manoel Messias, presidente da Escola de Samba, discutindo o tema Escola de Samba.

                  O SENHOR MANOEL MESSIAS - Respondendo a primeira pergunta o que se deve fazer de mais urgente para a retomada do carnaval de Teresina, eu gostaria de deixar bem claro que seria a convocação dessas escolas de samba - as que já existem para que elas façam um levantamento do que possuem, porque quase dez anos . Eu toecarnaval, tem muita escola de samba que não tem mais nem instrumento, não é o caso do Sambão, não! O Sambão está lá com todos seus instrumentos guardados, mas eu sei que existe escola de samba que não tem mais esses instrumentos. Então, seria um levantamento para se saber quais são as necessidades  mais pendentes para que essas escolas pudessem se organizar agora, convocando os seus componentes. Porque eu disse e digo de novo, não se faz um batuqueiro do dia para a noite. Infelizmente houve a dispersão, nós temos que começar tudo de novo! Então, seria primeiramente um contato , essa comissão que vai ser formada deve convocar essas escolas de samba, logicamente que elas vão comparecer, elas vão ser convocadas para mostrar oque elas tem, de que é que necessitam para que possam retoma o carnaval.

                  Vamos a outra questão, o que foi que foi feito esse tempo todo que não houve carnaval. Há escola de samba aqui em Teresina que nunca deixou de fazer atividade. Eu tomei conhecimento que a Unidos da Saudade sempre fez essas discussões, está sempre promovendo bingos a fim de angariar dinheiro e tem material comprado. Tem também um trabalho muito bem feito pelo carnavalesco Jamil que nos convocou, diretores de escola de samba, e que fez um projeto para a retomada  do carnaval, inclusive nós participamos de várias reuniões. Ele tem um projeto belissimo! Nós que fazemos carnaval nunca ficamos de braços cruzados, e estamos contribuindo com os carnavais das cidades próximas. Nós fizemos três sambas enredo para a escola de samba de Barras, três vezes campeãos! Então, nossos componentes eram levados para lá. Eu nunca fui mas compus os sambas com outros carnavalescos. Nós nunca deixamos de atuar no carnaval. Agora em termos de angariar recursos só conheço as promoções de bingos, rifas assim só isso!

quarta-feira, 22 de março de 2023

REVIVER CARNAVAL PARTE III

                                                   A FALA DO SENHOR MARCOS PEIXOTO.


              - Eu gostaria primeiro de lhe falar que a Micarina é o evento mais democrático que existe em Teresina. Cinco mil pessoas pagam para que duzentos mil brinquem. Cinco mil pessoas, lógico que essas pessoas por pagarem, elas tem uma aproximação maior com o trio eletrico, tem o carro de apoio e o cordão de isolamento. No entanto, todo o resto, que e chamado de pipoca, vai fora da corda, brinca do mesmo jeito, acompanha os blocos , e a micarina sempre teve a preocupação de após os desfiles dos blocos colocar uma banda local com o trio eletrico para puxar o que nós chamamos de pipoca.

             Com relação ao compromisso cultural, eu concordo com você, realmente não está existindo, mas isso não é só aqui, está acontecendo em quase todos os locais do pais. Em alguns locais, de uma maneira mais forte , como em Recife, não pelo decreto do prefeito, que não poderia tocar música baiana, e sim porque as pessoas que fazem a cultura do Recife lutaram muito e estão utilizando a tecnologia do trio eletrico, mas estão tocando o ritmo pernambucano. E o bloco da micarina fez isso muito bem, trouxe o Mastruz Com Leite, que é o forró a música da nossa região, o Bloco Amor Que Fica trouxe essa banda. Nós que realizamos a Micarina, resolvemos investir mais cumprindo isso que você cobrou da gente. Nós vamos realizar este ano O Jegue Eletrico, o Arráia da Capitá, até atendendo a uma solicitação do prefeito Firmino Filho, cobrando da gente, já que Teresina precisa de eventos para que a gente possa incentivar mais o turismo.

            Então, neste ano nós já estamos trabalhando em cima do projeto, nós vamos ter o Arraiá da Capitá e o Jegue Eletrico. Vamos colocar forró no trio eletrico e amplificar o som do forró para todo mundo. E você me pergunta, qual o modelo do carnaval de Teresina? E eu te digo que não sei. estou junto com todos vocês para que a gente possa buscar. Mas acredito que temos que encontrar o nosso modelo próprio que não seja a imitação o baiano e nem seja a imitação do carioca, com certeza, eu acho que nós temos que buscar isso.

sexta-feira, 3 de março de 2023

REVIVER CRNAVAL - PARTE II

             Uma outra colocação que eu faço para o Marcos é a seguinte: a Micarina, carnaval fora de época, e eu não sou contra a Micarina, muito pelo contrário, as colocações feitas por ele foram perfeitas, pois trás divisas , turismo. Agora eu acho que a Micarina, ela acaba com a identidade cultural local, ela extermina a identidade cultural local por que ela se reduz ao axé music. Você não ve uma banda local, se há, passa despercebida, enquanto que toda identidade cultural é baiana e toda ela é trabalhada em cima do mesmo ritmo carnavalesco baiano. Acho que a Micarina teria que reverter um pouco essa identidade para que a gente pudesse também procurar a identidade cultural do Piauí, nesse sentido ai, porque senão se tornar até uma coisa imperialista. 

             A partir dessa mudança de comportamento do carnaval, ter um padrão que diz respeito ao nosso local, a nossa especificidade, aliás a Micarina é discriminatória, porque é a partir da compra de abadá que o sujeito vai dançar! É discriminatória nesse sentido. Não existe nenhum sentido o Bloco do Itararé ir para a Micarina, por que ele pertence a sua identidade cultural. Eu diria o seguinte: quem compra um abadá tem segurança , quem não compra leva porrada. Eu já vi isso, fui para a Micarina e sei disso, quer dizer, se você fica fora do ciclo da Micarina, você é um esquecido. Você não esta lá brincando, está vendo quem está brincando. Pois nesse sentido quem produz a Micarina teria muito que contribuir com esse reviver carnaval do carnaval de Teresina.

            A minha pergunta dirigida ao Marcos seria a seguinte, na sua visão, que é um produtor de markentig, qual o modelo do carnaval de Teresina a seguir? O que está faltando para que o carnaval de Teresina reviva, qual a identidade desse carnaval? Será que nós vamos seguir o modelo carioca, o modelo baiano que é que nos estão empurrando mais ou menos.

           A pergunta ao Galba é a seguinte: Você produziu divinamente a Banda Bandida, que ria saber se você teve medo de transformar a Banda Bandida numa escola de samba? E qual foi a causa que deu uma parada na Banda, porque eu não acredito que tenha sido só uma questão de segurança. Eram essas as duas colocações que eu queria fazer para os dois.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

REVIVER CARNAVAL - PARTE I

            No ano de 1997, a Prefeitura Municipal de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, promoveu o Seminário - Rumos e Identidade do Carnaval de Teresina, cujo documento se chamou Reviver Carnaval. A presidente da FCMC era a professora Cecilia Mendes, eu era o Diretor do Departamento de Arte e Afonso Lima o superintendente do orgão. O Seminário foi realizado no dia 04 de fevereiro daquele ano na Casa da Cultura de Teresina, com a seguinte programação: Palestra - Em Busca de Identidade: Carnaval em Teresina-Professor Bernardo Pereira da Silva, Departamento de História da UFPI; Painel I - Carnaval Institucional: Escola de Samba. Expositores - Manoel Messias e Oswaldo Almeida. Debatedor - José Gomes. Painel II - Carnaval de Rua: Bandas, Blocos e Trios Elétricos. Expositores - Marcos Peixoto, Galba Coelho Carmo. Debatedor - Ací Campelo. Moderador - Paulo Castelo Branco Vasconcelos.

            O Seminário Tinha como objetivo reativar o carnaval de escolas de samba  de Teresina, desativado há há anos. Uma proposta do então prefeito da capital Firmino Filho. Vamos transcrever aqui minha fala no painel II.

             O senhor Paulo Vasconcelos, mediador: Passaremos a palavra ao debatedor, que vai preferir fazer os seus questionamento em bloco. . Ele terá, portanto, dez minutos e, na sequencia, cada um dos expositores terá três minutos para resposta.

               O senhor Aci Campelo, debatedor. Em primeiro lugar parabenizo a exposição dos dois expositores e vou me colocar como uma pessoa que observa o carnaval de uma forma mais cultural. Não participo de nenhuma escola de samba, portanto, vou ver como uma pessoa de fora, como um e cultural do carnaval de Teresina. Aqui nós ouvimos mais ou menos os rumos do carnaval, como ele poder retornar, algumas opiniões foram dadas, alguns questionamentos, mas nós temos um outro ponto aqui que eu vou me deter, é a identidade do carnaval de Teresina. E é nesse ponto que eu vou me deter mais um pouco pegando, principalmente, a fala dos dois últimos expositores aqui.

               Vejam bem, eu acho o seguinte em primeiro lugar o carnaval seria um forte referencial da cultura piauiense. Acho até que a partir da criação de um ritmo próprio, através de samba enredo de carnavalescos locais nós buscariamos essa identidade. Quem sabe um cd dos carnavalescos locais, das pessoas que fazem samba local.  Nesse ponto, eu colocaria aqui um dos grandes entraves a meu ver que acabou com as escolas de samba de Teresina, que foi exatamente a imitação do modelo importado, ou seja, quando o senhor Oswaldo Almeida coloca que trazia fantasias luxuosas  para o carnaval de Teresina e que alguém ia imita essas fantasias, e imitava, só que não podia arcar com as despesas, e ai corria atrás do poder público. Todas as escolas iam atrás do poder público! Resultado quando o poder público deixou de dar dinheiro, as escolas de samba acabaram! Eu não estou colocando aqui que era ruim trazer as fantasias. Eu estou colocando aqui que nesse sentido  .o que se via não era a identidade local, o que se via era um modelo importado do Rio de Janeiro, as escolas locais procurando o mesmo padrão, era o padrão global, não tinha nenhuma criatividade! É aquele mesmo ritmo de cinco, seis anos atrás, e você vê que quando algum carnavalesco de destaca com sua criatividade mais especifica, a exemplo de Joãozinho Trinta, que tentou desmistificar aquela coisa do padrão global foi quase sacado fora, digamos assim, porque trouxe aquela criatividade que foi colocado aqui pelo Macos Peixoto. Eu acho que é uma visão megalomaniaca do carnaval de Teresina querer imitar o carnaval carioca, e foi onde ele perdeu as escolas de samba.

                                                               Segue

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O MIADO DO GATO - FINAL

          Pedro Carmelo foi quem conversou com a mãe.

       - A senhora sabe que esse nosso vizinho sempre foi doido, mãezinha!

       - E eu lá tenho nada a ver com a morte desses gatos, menino! Que coisa! Ah!...Desgraçado - Continuava a mãe - Devia ter adotado era uma uma criança, tanta delas com necessidade! Agora esse bando de gatos dentro de casa. Isso num vai pagar seus pecados.

        - 'Tá certo, mãezinha. Mas tenha cuidado.

          Outros gatos amanheceram no quintal com os mesmos sintomas dos outros. Depois se arrastarem um bom período pelo chão, sempre com miados horripilantes, morriam vomitando o que comeram. A pressão dos filhos de dona Jerusa em cima da mãe era o cuidado com a bendita gata preta de seu Ernesto. a cada gato morto cada vez mais aumentavam as ameaças de bala do vizinho. A situação já beirava ao pânico. Seu Ernesto ameaçava dar parte a policia e as organizações protetoras dos animais. A única coisa que o impedia era o fato de não ter certeza absoluta de quem estava praticando tamanha maldade com os gatos. No entanto, não havia dúvidas de que a matança partia da casa de dona Jerusa Carmelo.

          Os gatos de rua de Ernesto Madeira diminuiram drasticamente, quando muitos deles já não invadiam os telhados de dona Jerusa numa algazarra infernal, principalmente no tempo de cio. Um alivio para a velha senhora.

           Apesar de Ernesto Madeira ter espalhado para os vizinhos que dona Jerusa era a autora da morte dos gatos, todos envenenados, ninguém acreditava. Primeiro pela bondade de dona Jerusa, depois por que era sabedores das histórias de Ernesto, um homem cheio de mágoas, tentando se livrar das maldades praticadas, escondendo-se na pele de um cuidador de animais abandonados.

           Alguns até omitiam opinião:

        - Criar gatos de rua emporcalhado as calçadas! Onde já se viu?

           Portanto, dona Jerusa Carmelo continuava uma senhora bondosa e intocável. E as ameaças de Ernesto Madeira terminaram como futricas de vizinho mal visto pela comunidade. Dona Jerusa Carmelo morreu nos seus noventa anos de idade. Sua morte foi uma comoção na cidade em que morava, e o velório gerou uma pequena romaria no rumo de sua casa. Todos queriam dar seu último adeus a dona Jerusa Carmelo. 

           Não passou muito tempo da morte da matriarca os filhos começaram a sentir a presença dos gatos nos telhados da casa. Como o tempo aumentou extraordinariamente a presença dos gatos. Eram raras as noites em que os gatos não faziam um tremendo alarido nos telhados da casa, principalmente em cima do quarto onde dona Jerusa tinha morrido, não se sabe se por vingança dos bichados ou por alegria, de lamento é que não era.

           Os filhos não se incomodavam. Para eles era uma herança da mãe.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O MIADO DO GATO - 4

             Foi quando um dos gatos   invasores da casa de dona Jerusa  amanheceu se arrastando pelo quintal. O miado do infeliz até morrer dava pena. Dona Jerusa, toda contente or dentro, era a primeira a perguntar cheia de piedade o que tinha acontecido com aquele bichano. A principio os filhos não levaram aquilo muito em conta, era apenas um gato vomitando os bofes até morrer. Quem podia saber o que era? Mas a medida que foram aparecendo mais gatos com o mesmo mal começaram as desconfianças. Os gatos morriam da mesma forma, com a boca cheia de baba e vomitando. Dona Jerusa, cheia de cuidados, e numa inocência incomum, ainda tentava salvar os gatos nas suas agonias de morte.

          - Nossa Senhora, o que será isso gente? Perguntava ela numa mistura de interrogação e espanto.

          Com o tempo, e a certeza de que a mãe estava envenenando os gatos, seus filhos continuavam no silencio, numa especie de cumplicidade. O problema era saber como ela fazia aquilo, e uma forma de salvaguarda-la, pois não havia dúvidas que era ela a autora das mortes dos gatos, mas ninguem seria capaz de acusa-la de tamanha maldade. Pedro Carmelo, o filho mais velho, tentava dissuadi-la com muito jeito.

        - Mãezinha, a senhora não está matando os gatos não, não é?

        - 'Tá louco, menino?! Oh, filho ingrato pra pensar isso da mãe!

           Mas as mortes dos gatos continuavam acontecendo. Foi quando aquelas mortes ultrapassaram as quatro paredes da casa. O alerta veio de forma dura do vizinho, seu Ernesto, cuidador dos gatos de rua.

        - Se minha gata amarela amanhecer morta vai cair bala! Dizia ele para qualquer um que quisesse ouvir.

          O panico tomou conta dos filhos de dona Jerusa. Ernesto, o vizinho, sempre fora um senhor calado, rispido, recluso e vivendo sozinho, desde a morte da mulher. Apesar de ser amigo de dona Jerusa e de seus filhos, todos sabiam que ele não era flor que se cheirasse. Quem o conhecia falava cobras e lagartos de seu Ernesto. Um homem mal. Tido como pão duro pelos amigos, mal vestido e fedorento. A única coisa que sobrava do home era seu carinho e cuidado com os gatos de rua. Uma boa ação para alguns, uma maneira de se redimir para outros

          Os filhos de dona Jerusa alertados do perigo, começaram a se preocupar com as ameaças de seu Ernesto. Vai que sua gata amarela aparecesse se arrastando pelo quintal.