sábado, 30 de maio de 2020

O TEATRO AMADOR E O MOMENTO BRASILEIRO

                                                     Publicado no Jornal da Manhã, 03.1986


           O artista amador brasileiro não desconhece o quadro politico nacional, tem conhecimento que a atual fase, chamada de transição, não significa o fim do autoritarismo, nem a conquista do estado democrático. Tem pleno conhecimento de que este governo eleito, travestido de democrático, é composto por muitos dos setores que deram respaldo ao regime anterior. Assim começa a carta de Vila Velha, Espirito Santo, tirada no IV Congresso Brasileiro de Teatro Amador, acontecido nos dias 17 a 20 de janeiro próximo passado.
          O Piauí teve participação efetiva neste encontro, assim como no III Seminário Nacional de Artes Cênicas, que teve lugar na Aldeia de Arcozelo, Rio de Janeiro, de 23 a 27de janeiro. A Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo do Piauí, Prefeitura Municipal de Teresina,  Centrais Eletricas do Estado e a Comissão de Assistência Comunitária, com apoio  de dona Tania Napoleão, colaboraram para a ida da delegação piauiense. É dificil avaliar momentaneamente o que estes eventos significarão para o teatro brasileiro. Dificil também fazer um paraelo entre os dois momentos, já que um tratou especificamente dos problemas dos amadores de teatro e o outro traçou um panorama geral das artes cênicas brasileira, seja no âmbito amador ou profissional, assim como dança, opera, circo. No entanto, ficou uma questão entre os dois, o que é ser amador e o que é ser profissional no conturbado momento do teatro brasileiro, se todos estão procurando uma saída? Os problemas parecem os mesmos, e a crise atinge, indistintamente, todas as categorias cênicas. De um lado os não profissionais buscando afirmação, espaços e verbas, e do outro, os que vivem da profissão, tentando furar brechas para, pelo menos, se manterem nos palcos. A verdade é que está muito caro fazer arte no Brasil.
          O Congresso dos amadores serviu para se discutir a pseudo-abertura politica brasileira, tentando ampliar os espaços na sociedade e fazer com que a entidade nacional - Confenata, avance juntamente com a pratica dos amadores, juntando-se assim a vontade de mudanças de todo o povo brasileiro. Isso é dito claramente em outro paragrafo da carta de Vila Velha. "Reparar nosso discurso politico á nova realidade nacional, coerentemente a nossa prática de produção artistica, evitando discursos fosseis, anacronicos, distanciados da expectativa do povo brasileiro, ou seja, procurar associar o discurso á prática". Atenta, de ceerta forma, o amadurecimento da classe amadora nacional. Mais adiante diz-se que os amadores tem um papel importante na redemocratização do pais e devem usar de sua sensibilidade para ter clareza do momento politico, discutindo e elaborando contribuições efetivas do movimento de teatro amador que amparem o desenvolvimento da produção cultural do Brasil. O Congresso elegeu a nova diretoria da Confederação Nacional de Teatro Amador - Confenata, ficando a presidencia no Estado de Goiás, cabendo ao Piauí uma suplencia, na pessoa da atriz Lari Sales. O Piauí também propos sediar o Festival Brasileiro de Teatro Amador em Teresina.
           O Seminário Nacional de Artes Cênicas foi bem mais especifico, sem aquele ufanismo que tanto caracteriza o teatro amador. Em Arcozelo tratou-se de questões como a criação do Ministério da Cultura, a constituinte, nova presidência do Inacen, assim como mais verbas para o teatro.  Na questão do Ministério da Cultura houve uma posição contrária da maioria dos artistas presentes ao seminário, quase um repudio da maneira como o orgão estaria sendo criado, carecendo de uma discussão mais ampla e maior aprofundamento por parte dos setores culturais.Na questão da constituinte foi eleita uma comissão a nivel nacional, composta por Bete Mendes, Cesar Vieira e Zé Mayer. Essa comissão levaria subsidios de todos os setores envolvidos á Assembleia Nacional Constituinte. Quanto a substituição da presidencia do Instituto Nacional de Artes Cênicas, Orlando Miranda, houve um certo constrangimento na hora da discussão para que se tirasse uma lista triplice a ser apresentada ao conselho do orgão. É que a Associação Carioca dos Empresários Teatrais - ACET, se negou a participar daquele momento, alegando ser muito cedo para tratar do assunto. Então, achou-se por bem adiar a escolha da lista triplice, ainda que alguns candidatos ao cargo presentes no seminário continuassem a manter suas candidaturas. Foi um acontecimento importante, cheio de ideias e propostas para fortalecer o teatro brasileiro, e de confiança na mudança da politica cultural do país.
          Para o teatro amador do Piauí foi importante a participação nos dois acontecimentos, por que abriu-se leques de informações e, a partir dessa visão cultural do país, procuraremos traçar nossas atividades de forma a consolidar nosso teatro, que a cada dia tenta se manter mais fortalecido na cena piauiense.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

A CLASSE CULTURAL PEDE PASSAGEM -FINAL


         Lembramos que o Ministério da Cultura foi criado a partir de debates e que correspondeu, em tese, a consolidação de uma estrutura aberta e democrática, a partir dos orgãos existentes, em via de aperfeiçoamento. Agora vem a criação desses novos orgãos culturais que é uma incógnita quanto a suas competências e até mesmo composição.
         Este artigo vem no momento em que entidades artistico-culturais da sociedade civil piauiense promovem o I Encontro de que se tem noticia por aqui, entre artistas, intelectuais e o povo, com os candidatos a governo do Estado. E, para que possamos refletir, é bom lembrar que  o documento que vamos apresentar aos senhores candidatos procura colocar a cultura no mesmo nível de discussão em que é colocado a indústria dentro da sociedade, para que possa fazer parte dessa engrenagem e que, na mesa do planejador, não estejam apenas objetivos econômicos, mas também objetivos culturais, gerando para a sociedade não só valores materiais mas valores espirituais. 
            A produção cultural deve ser fomentada com mecanismos realistas que assegurem sua continuidade e que não fiquem a mercê de interesses ou influências de momentos de qualquer espécie. Ao Estado não cabe se ausentar de seus deveres constitucionais para com a cultura, mas sim exercer papel fomentador do processo cultural, em seus aspectos amplos, corrigindo distorções onde as houver e ajudando áreas culturais mais vulneráveis. Nestes sentido, o documento também procurar evitar distorções, uma vez que incentiva a participação da sociedade civil nas demais obrigações com a cultura, deixando  a participação do ente público mais livre no incentivo direto a cultura fomentando a recuperação ou mesmo criação de espaços culturais, e criando infra -estrutura para a produção cultural.
             O Estado não tem o poder mágico de solucionar problemas tão complexos como os da cultura, ou mesmo de qualquer outra área, no entanto, sem dúvida, é preciso definir metas, caminhos, que até hoje não foram traçados com o devido respeito, gerando resultados insatisfatório. O documento Plano Para Uma Politica Cultural do Estado trás em seu conteúdo uma redefinição e aponta para novos caminhos na área cultural. A classe cultural piauiense, no surgimento de um novo período para o Estado, saberá agir com maturidade aproveitando, também  esse novo ciclo que irá se apresentar.