terça-feira, 5 de setembro de 2017

TEMPO DE CINEMA - II



             Quando o Cine - Theatro 4 de Setembro fechou as portas, no ano de 1973, o Cine Rex reinou absoluto como cinema em Teresina, isso por que o Cine São Raimundo, o famoso Baganinha,  já estava nos seus últimos dias, digamos, de glória.  E tome pornochanchada e filmes de sexo no Cine  Rex.
             Mas a atividade de cinema em Teresina ocorria, também,  em cine clubes, como o cine-clube do Colégio Diocesano, onde além de passar filmes, discutia-se cinema e ministrava-se cursos de cinema em super - oito. Uma coisa  fantástica. É bom que se diga que o super oito era como se fosse uma  febre em Teresina. Claro, que para poucos. No entanto, falar em movimento de cinema era falar em super - oito. Teresina foi palco dessa bitola, como nos filmes de Torquato Neto, Antonio Noronha, José Wilson, Saraiva, e outros. 
           Lembro que no inicio dos anos oitenta, participei de um curso de super - oito no Museu do Piauí, e meu grupo produziu um filme chamado  A Comilança. Fiz o roteiro e filmamos na Praça Saraiva. O titulo era dúbio, mas não passava de um bando de pessoas comendo frutas como melancia, melão, banana, maçã, goiaba, até morrer de comer. Existia uma verdadeira concorrência na hora da exibição dos filmes, todos querendo assistir a produção um dos outros. Teresina tinha concurso e mostra de cinema super - oito. O fino da bossa!
           Mas eu não assistia só filmes. Eu passei a surrupiar cartaz de cinema. Ficava até tarde nos bares da Praça Pedro II, até conseguir arrancar algum cartaz na porta do Cine - Rex. Uma aventura. As vezes tinha um assistente só pra me avisar pra não se pego. Outras vezes não dava certo mesmo, tinha que correr. Vivia com a cabeça povoada de astros de cinema daquela época. Todos do faroeste americano e italiano. Lembro de Franco Nero, Giuliano Gemma, Antony Steffen, Lee Van Cleef, Lee Marvin, as atrizes Jane Fonda, Grace Kelly, Brigit Bardot, do mexicano Fernando Sancho e do chinês americanizado Toshiro Mifune, e o inesquecível John Wayne e sua pontaria infalível.
           Veio o Cine Royal, com ele o cinema de arte. O cine clube do Diocesano fazia estudos dos filmes e distribuía impresso para o público. As sessões eram sábado pela e manhã e as sextas, a noite.Imaginem, vinte e duas horas.A sessão da sexta era lotada, um point da moçada mais cabeça. Um dia estávamos na Praça Pedro II esperando a sessão e alguns da turma começaram a fumar maconha. Quando entramos no cinema e apagaram-se as luzes, durou poucos minutos as luzes acenderam de vez. Era a policia a cata dos maconheiros. Alguns amigos tinham trocado de camisas para não ser reconhecidos. Alguns rapazes foram apontados por policias e levados do cinema. Mas a sessão continuou. Tempo de arrepiar.
         No Cine Royal dei de cara com o mundo fascinante dos bons filmes. Já não os via apenas  pelos atores ou atrizes, mas sim pelos diretores. Veio o mundo de Pasoline, Franco Zefirelli, Ford Copolla, de Bernardo Bertolucci, de Robert Altman, Walter Hill, Elia Kazan, Stanley Kubrick, Ridley Scott e Akira Kurosawa. Não posso deixar de mencionar alguns filmes para mim inesquecíveis, não é uma lista, apenas lembranças; Divida de Sangue, O Homem Que Matou o Facínora, No Tempo das Diligências, Era Uma Vez No Oeste, O Dolar Furado, Viva Sapata, Os Sete Magnificos, O Conformista, O Evangelho Segundo São Mateus, Apocalipse Now, O Caçador de Andróides, 2001 - Uma Odisseia no Espaço. E por aí vai.
       Enfim, viva o cinema!