segunda-feira, 27 de agosto de 2018

BASTIDORES DA CENA TEATRAL PIAUIENSE - FIM


             Corria o ano de 1979, ano de grandes produções do teatro piauiense, quando estava em cartaz a peça "O Chico e a Seca", de Wilson Gomes, montada pelo Grupo de Teatro Nazaré - Grutena. Wilson é um querido amigo do teatro. Como eu gostava de acompanhar alguns espetáculos anotei esse causo de bastidores.
            A peça se apresentava no Centro Social Leão XIII, na Vila Operária. No elenco, além de Wilson, faziam parte Rainha da Floresta e o violeiro Pedro Costa. Para ajudar o grupo fiquei, naquela apresentação, fazendo a bilheteria. Só que antes de ir vender os ingressos, achei por bem vestir uma camisa de mangas que estava no camarim, com largos bolsos, para botar o dinheiro. Lá para tantas, quando sai da bilheteria e estava assistindo o espetáculo, notei uma demora na cena, Rainha da Floresta, que fazia o papel de mãe e avó de um personagem não entrava em cena. E haja enrolação. Corri nos bastidores ver o que estava acontecendo. Quando a Rainha me viu entrar com a camisa, meteu a mão em um dos bolsos e tirou seu aparelho de dentes.Lavou e meteu na boca. Ela  simplesmente fazia o papel de mãe com dentes e de avó sem dentes. Achei fantástico!
             De outra feita, e essa aconteceu no grupo Raízes coordenado por mim, apresentávamos o espetáculo Chiquinha, uma peça infantil de minha autoria, com um elenco fantástico, desde Lili Martins, Adalmir Miranda, Nádia Rodrigues, Kleber Fé e outros. Tinha uma cena em que a personagem de Nádia Rodrigues ficava amarrada de mentirinha numa cerca cenográfica. Só que o ator que contracenava com ela amarrou de verdade suas mãos na cerquinha. Claro que ela não notou. Na hora da fuga, ela não conseguiu desatar o nó, ficou aquele sufoco. O ator sorria nos bastidores. Apenas eu notei a brincadeira, que não deixava de ser uma pequena maldade. Nádia, depois de forçar bastante, e não conseguir se desatar, derrubou a cerquinha cenográfica e fugiu, como fazia na cena. a criançada adorou. Depois foi desfeito o mal entendido. Coisas do teatro.
             Por último, e ai vou omitir o nome do ator, aconteceu em pleno Theatro 4 de Setembro. Apresentávamos a peça Auto do Corisco, de minha autoria, pelo Grupo Raízes. Casa com bastante gente. O ator tinha brigado com o Grupo, mas iria fazer sua última apresentação da peça. Na cena final em que atuava, terminada a cena, ele não saiu pela coxias, mas pela platéia. E foi embora com o figurino que usava. Hilário! Hoje é um querido amigo, de sempre. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

BASTIDORES DA CENA TEATRAL PIAUIENSE II


            Continuando com as cenas de bastidores do nosso teatro, presenciadas e vividas por nós, passamos a contar mais algumas dessas perólas.
            No ano de 1981, no II Congresso Brasileiro de Teatro Amador - CBTA, promovido pela Confederação Brasileira de Teatro Amador, a Confenata, realizado no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo,  fervilhavam as discussões políticas, tanto do movimento amador como da política brasileira. A delegação piauense tinha se preparado muito para este Congresso, tendo em vista que as propostas da Confenata para o movimento foram bastante discutidas. Uma das propostas do Piauí era a de dividir o país em Regionais da Confenata, para uma melhor Coordenação das ações do orgão no Brasil. A proposta era fantástica e seria apresentada pela delegação. Um dos mentores principais dessa proposta fora José da Providência, diretor e cenografo teatral, já falecido.
             No Congresso em São Paulo, as discussões varavam a noite. O Piauí, muito timido, não apresentou sua principal proposta em plenário, mas a delegação conversava muito nos bastidores. Quando menos se esperava, a delegação de São Paulo apresentou a divisão da Confenata em Regionais e foi aprovada com louvor. O Piauí não foi citado na proposta, mas seguramente era nossa. Quando nós fomos  para os bares naquela noite, pois ninguém era de ferro, um dos delegados de São Paulo se aproximou de mim e do Providência, e se vangloriou de ter criado a proposta defendida em plenário. Perguntou ao Providencia o que ele tinha achado. Providencia passou uma imensa descompostura no cidadão, dizendo que ele era um cafajeste, embusteiro, e ladrão de ideia. Acabou o papo na hora, e o cara saiu de rabo entre as pernas.
               Lá para os anos de 1985, eu era presidente da Federação Piauiense de Teatro Amador, e andava muito pelo interior do Piauí assistindo a eventos ou peças de teatro. Essa aconteceu em Monsenhor Gil, num desses eventos da cidade. Acompanhava um grupo de teatro. O pessoal do grupo bebia pra caramba, obviamente que eu acompanhava com imenso prazer. A peça a ser apresentada pelo grupo era um espetáculo infantil. Claro que vou omitir o nome das pessoas envolvidas, meus queridos amigos. Lá para as tantas, já na montagem do cenário, alguns ainda bebados, brigaram feio. No elenco tinha um ator que usava muletas, por sinal de grande talento. Ele tinha se trepado em uma escada para colocar uma empanada de fundo no cenário. Sua bengala ficou ao lado da escada. Foi ai que seu desafeto tirou as bengalas do lado da escada, e o ator ficou em cima da escada sem poder sair para lugar nenhum. Foi um deus nos acuda. O ator brincalhão fazia lorotas com o amigo na escada. Tinha escondido as bengalas. Depois de muitos pedidos, trabalhos em atraso, e ameaça de todos os lados, até eu entrei na discussão, as bengalas apareceram. E o ator pode deixar a escada e se arrumar para o espetáculo. Depois, nas conversas, o riso corria solto. Todos em paz, para o bem do teatro.