quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O PRIMEIRO ROMANCE



         Corria o ano de 1965. Minha família tinha chegado do Maranhão,de retorno para o Piauí, no ano anterior. Morávamos no bairro Piçarra, a menos de um quarteirão da Avenida Miguel Rosa, de onde avistávamos o Cine São Raimundo, chamado de Baganinha. Foi nesse cinema que assisti muitas vezes o humorista Zé Trindade, um dos maiores do Brasil.
          Eu e minha irmã estudávamos no Colégio Miguel Borges, no bairro do Barrocão. Lembro que, quando chovia, aquele bairro realmente se transformava num imenso córrego de águas barrentas e caudalosas de meter medo a qualquer um. A água era tanta, que muitas vezes,os alunos do colégio não podiam sair e ficávamos ilhados dentro da escola, até a correnteza passar.
          Eu era uma criança frágil, um menino magricela, que sofria de asma e muito suscetível a outras doenças. Por isso, sempre tive um comportamento mais contemplativo, meio solitário, no entanto, jamais de solidão, isso por que eu tinha uma imensa capacidade de sonhar. Vivia sonhando com tudo que era bom, e isso me dava uma imensa vontade de viver.
         Naqueles anos,o governo americano, através de um programa de cooperação com o governo brasileiro, mandava merenda para as escolas públicas do país. Os alunos faziam festa. Era leite em pó feito com uma mistura de néscau que era apelidado de pau de índio. Esse leite, a merenda escolar mais comum,  era acompanhado de um pãozinho pequeno, que quando estava duro, os alunos faziam a guerra dos pães dentro das salas.Um deus nos acuda. E eu só olhava, quieto, na minha.
            Foi numa manhã, não me lembro de que dia, que dei com o livro lá em casa. Era o romance Crime e Castigo, um calhamaço de mais de seiscentas páginas, de um escrito russo chamado Fiodor Dostóievsk. Comecei a ler o livro imediatamente, e aquele enredo me cativou tanto que eu não esquecia um só minuto do livro, e quando estava em casa, e meu irmão não estava lendo, por que o livro tinha sido trazido  por ele, ficava ali impaciente aguardando minha vez.
          Na escola, durante a leitura daquele romance, eu ficava pensando na história e qual seria o destino daquele personagem insólito, e minha quietude ainda era maior o que fazia com que minha professora, dona Jacira, várias vezes colocasse sua mãe em minha testa perguntando se eu estava doente. Realmente, durante a leitura do livro eu sentia o corpo quente, febril.
           Ao terminar aquele romance Crime e Castigo eu não tinha dúvida, seria um escritor de romances. Melhor ainda, eu gostaria de me parecer com aquele escritor, que na contra capa daquele livro estava de barbas longas,umas enormes olheiras e um bigode bem tratado. Não me lembro se era uma foto ou uma pintura, só sei que queria ser ele e escrever um romance. Coisa que depois de quase cinquenta anos ainda não conseguir escrever, um romance. Mas continuo tentando. 
               

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

SINDICATO DOS ARTISTAS E TÉCNICOS DO PIAUÍ - SATED-PI, COMO NASCEU.


         Corria o ano de 1988 e o movimento de teatro amador do Piauí estava um tanto fragilizado naquele momento quando, só para dar um exemplo, existiam duas federações representando o teatro do Estado, o que para a própria Confederação Brasileira de Teatro Amador, entidade representativa da classe a nível nacional, era um absurdo. Foi no final daquele ano que tivemos a ideia de começar a discutir a criação de um orgão que representasse os profissionais do teatro do Piauí, tendo em vista a existência de alguns Sindicatos de Artistas e Técnicos no Brasil. 
         A primeira providencia que tomamos foi reunir algumas pessoas para discutir a proposta, não queríamos nem pensar da resistência que poderia haver. Houve dois, três encontros,então,lembro que foi formado uma comissão para elaboração de estatutos da entidade de classe que por consenso, naquele instante, se chamaria Associação Profissional dos Artistas e Técnicos em Espetáculos  de Diversões do Piauí - APATED-PI. Eu, José Nazareno e Wellington Sampaio formamos comissão para escrever os estatutos. Já corria o ano de 1989, e as discussões avançavam. Foi, então, que houve um seminário Sobre Propostas Para a Área Cultural, aqui em Teresina, promovida pela Secretaria de Cultura do Estado -Fundação Cultural do  Piauí. Para o evento veio, como conferencista, a produtora cultural Iara Sarmento, de Minas Gerais, ligada ao Sindicato dos Artistas daquele Estado. Numa conversa que tivemos com Iara ela nos esclareceu que o melhor seria criar logo Sindicato dos Artistas e Técnicos do Piauí e não apenas uma Associação, que não teria força de lei para defender os artistas e técnicos profissionais. Era o que faltava para nós.
          Portanto, a ideia da Associação foi abortada e apenas transformamos seus estatutos nos Estatutos do Sindicatos dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Piauí. Criado no ano de 1989, nas dependências do Theatro 4 de Setembro, o Sated-Pi,  nasceu sob a desconfiança dos amadores, que viam na sua existência uma ameaça a classe. Lembro que Pierre Baiano, um ator muito conhecido por todos os amadores do Estado, fez um discurso exaltado condenando a criação do Sindicato. Mas a entidade foi criada, ainda que com apenas treze pessoas assinando a ata de criação. Fui eleito o seu primeiro presidente e para o registro do Sindicato na Delegacia Regional do Trabalho foi uma verdadeira via crucis, já que tínhamos que provar primeiro que éramos profissionais. Foi uma burocracia enorme. Meu registro profissional foi o de número um, a partir daí passamos a filiar outros profissionais.
        Criado o Sated-Pi a luta foi intensa para mostrar verdadeiramente a sua necessidade.Fizemos a ponte do Piauí com diversos Estados que já tinham Sindicato, comparecendo a congressos, seminários e foruns, mas não fomos capazes de mostrar aos profissionais de teatro e dança do Estado a real força da entidade, nem mesmo para os profissionais técnicos do Theatro 4 de Setembro. Apesar do Sated-Pi ter filiado quase todos as pessoas de teatro e dança do Estado patina entre a incompreensão e o descrédito.Mas isso se deve muito mais ao mercado de trabalho e a própria desvalorização, claro, dos artistas e técnicos para com seu orgão de classe.
          Como a pessoa que difundiu a ideia de criação do Sated-Pi, e foi seu presidente por três vezes, acreditamos no Sindicatos dos Artistas como orgão de classe, e temos certeza de sua importância. Basta valorizar e acreditar.
           

domingo, 30 de outubro de 2016

A MOÇA E O LIVRO.


          A primeira vez que a viu foi na Galeria de Arte, era uma manhã de sol brilhante, como quase sempre é brilhante o sol de todas as manhãs de Teresina. Não sabe se foi notado, pois estava completamente absorta lendo um livro. Sua imagem sentada e a longa saia estampada com flores até aos pés, calçados em delicadas sandálias de couro cru, e a sua imagem de pele alva e cabelos louros caindo aos ombros, estavam absolutamente de acordo com sua fina blusa de malha rosa. 
         Ficou por segundos a observá-la no seu silencio de encantamento na leitura daquele livro. Na Galeria de Arte do Complexo Cultural estava havendo uma exposição de quadros, formada por lindas aquarelas e naturezas mortas, mas que pareciam insignificantes diante dela,sentada de pernas cruzadas  naquele puf, tão simples e angelical, como uma fotografia saída de um ensaio de moda, feita por um fotografo famoso.
         Naqueles poucos segundos de olhos fixos nela chegou a conclusão de que não era o brilho do sol que fazia a alegria daquela manhã, que não era o brilho do sol que iluminava a terra, mas a incrível beleza daquela moça. Foi com esse pensamento que voltou a si, e se deu conta de que precisava sentar na sua mesa para mais um dia de trabalho.
          Entre papeis e tarefas chatas a cumprir não esqueceu da moça na Galeria de Arte. Que livro seria aquele? Quem seria ela? Qual o seu nome? E o pior: Ainda a veria? Eram interrogações que lhe assustavam por que, além de lhe desconcertar dos afazeres, tiravam-lhe do seu mundo acomodado e triste em que estava atolado naqueles dias de cão!
           Depois de vinte anos de um amor avassalador, tresloucado e único, tinha ficado só, e a solidão que se abatera sobre ele era daquelas em que opiniões, ajudas, conselhos, de nada valiam, por que pensava que o mundo tinha desaparecido, que sua vida tinha acabado, e que o amor. esse mistério da vida, nunca mais faria parte da sua. E agora vinha aquela moça e seu livro!
          A vontade foi de deixar tudo para vê-la novamente, mas ela não se encontrava mais na Galeria. Foi ai que se deu conta de que precisava urgentemente acordar para as coisas da vida.Mas como esquecer as lembranças, como desapegar das coisas que estão tão arraigadas em sua vida? Tinha deixado de pensar no amor há algum tempo, e agora aquela moça vinha acordar tudo dentro dele?
          Mas adianta procurar o amor? Não é ele que lhe encontra? Filosofia barata! De uma coisa tinha certeza, quando a encontrasse novamente ela é quem lhe diria se gostava dele, pois a mulher é quem escolhe o homem. E ela o escolhera, com sua pele alva, seus cabelos louros, seus olhos castanhos escuros, sua boquinha meio dentuça, e sua incrível alegria de viver! Foi um amor sincero e verdadeiro!
           As feridas da vida passada ainda precisavam ser fechadas, afinal de contas ele tinha vivido por vinte anos com outra pessoa. E veio os desencontros, as decepções, os contratempos. A moça que gostava de ler não suportava a sua ausência, não entendia a sua preocupação com a outra, nem o silencio sobre o futuro dos dois, pois ela tinha entregue seu amor para ele sem restrições. Ele fora um covarde aos olhos dela, mas a verdade é que ele tentava agir como um homem na conciliação dos fatos, para poder se entregar ao novo amor de sua vida.
         O livro que a moça lia na Galeria de Arte era O Pequeno Príncipe. Ela estava em constante descoberta da vida, e não entendia por que ele não largava tudo para estar com ela. Para ele, o tempo iria  dizer a ela que a vida não é simples assim. Aquela moça e seu livro tinham-lhe tirado do limbo. E a cada dia seu amor por ela crescia cada vez mais, de forma densa e verdadeira. E era esse amor que ele tinha que mostrar a ela a cada encontro, reconquistando-a. Um amor sem restrições, que protege, dedica-se. Um amor eterno, para sempre. Afinal de contas o passado tinha ficado totalmente  para trás.

sábado, 1 de outubro de 2016

NOVAS PROPOSTAS VELHAS



          Todos nós da sociedade civil esperamos, em cada eleição, escutar as  propostas dos  candidatos a cargos políticos, seja de vereadores, prefeitos, deputados, senadores ou governadores. A eleição deste ano é para os cargos de vereador e prefeito. É sempre bom refletir sobre o que os candidatos falam ou, melhor ainda, sobre o que eles prometem.
          A nós artistas, produtores culturais, escritores, criadores de arte não é diferente a expectativa das propostas para o desenvolvimento do setor cultural. Pena é que nos últimos anos a desmobilização da classe em relação as eleições municipais de Teresina, é simplesmente gritante. Alguém pode até perguntar, mais já houve mobilização da classe artística de Teresina em relação a eleições municipais? Claro, que sim. Basta dizer que a Fundação Cultural Monsenhor Chaves foi criada da mobilização da classe; Basta citar, também, que toda a programação de eventos culturais dessa mesma Fundação foi solicitação da classe, através do Sindicato dos Artistas, implantada há mais de vinte anos atrás.
         O problema, e é uma opinião nossa, é que a administração municipal de Teresina envelheceu nesse setor, e há mais de vinte anos não propõe coisas novas, não avalia o que existe e, ainda por cima, acabou com alguns programas existentes. Veja alguns: Lei A. Tito Filho não existe mais, ela que é um verdadeiro instrumento de apoio a produção cultural; Acabou-se com os Festival Nacional de Monólogos, Salão de Artes Plásticas de Teresina, Salão de Fotografia, Festival de Cinema e Vídeo, entre outros. E não se deu alternativas para outros eventos. Louve-se para não errar, a residência artística na área de artes plásticas.
         No entanto, o problema maior é que se você for ver as propostas dos candidatos, de todos eles, para a área cultural, é uma repetição da repetição da repetição. Absolutamente nada de novo. Vejam, Teresina é a única capital do pais que não tem um evento cultural a nível nacional. Somos invisíveis. Nesse sentido, parece que cabe ao Estado preencher as lacunas culturais do município. Até mesmo o único evento a nível nacional e internacional existente no município, este na  área de teatro, é realizado por um grupo de teatro. Diga-se de passagem sem nenhuma ajuda do munícipio.
         Portanto, é uma pena que os candidatos não tenham se inteirado do setor cultural. Não se falou em marcos regulatórios: Lei do Patrimônio municipal; Sistema municipal de Cultura; Lei de Incentivo Municipal - Mecenato, ampliando o Fundo Municipal de Cultura; Conselho Municipal de Cultura, hoje inexistente; Plano editorial do município; Profissionalização do setor e regularização de editais culturais. Quer dizer, ficaram repetindo, e alguns deles sem conhecimento, de atividades corriqueiras da Fundação Cultural do Município. Uma pena.
        E assim, a classe fica que como perplexa, sem reação. Uma pena para uma capital que beira a um milhão de habitantes, e que a cultura parece uma coisinha de menos importância para a vida das pessoas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

III FESTIVAL DE TEATRO AMADOR DO PIAUÍ



            No ano de 1979, a Federação de Teatro Amador do Piauí - FETAPI, descentralizou o seu Festival de Teatro para o interior do Estado, e a cidade escolhida para sua realização foi a cidade de Monsenhor Gil, cujo prefeito naquele ano era o o médico e militante da área cultural Antonio Noronha.
             Cerca de setenta artistas amadores , principalmente, de Teresina aportaram naquela cidade por cerca de uma semana. É bom dizer que a cidade de Monsenhor Gil não tinha teatro, como ainda hoje não tem, e a hospedagem de toda a delegação do Festival foi feita num casarão da cidade, que ficava de frente para a praça da Matriz. Era nesse espaço que aconteciam as reuniões da Federação, os debates do Festival e a alimentação  de todos os grupos amadores participantes. Quanto aos espetáculos de teatro eram apresentados em um espaço que servia de festa para a comunidade, o que parecia mais uma palhoça, pois era coberto de palha, com um cercado de talos de buriti. No entanto, tudo muito limpo.
            Muitos fatos dignos de notas aconteceram nesse evento. Em primeiro lugar, dizer da acolhida da prefeitura que não mediu esforços para a realização do Festival. Doutor Noronha, o prefeito, como era carinhosamente chamado, era uma figura participava e fez de tudo para que o Festival fosse um sucesso e foi. 
            O primeiro fato que registramos é que naquele período a ditadura militar ainda dava as cartas, de forma muito forte na área da cultura. Então, o cuidado era para que os artistas não exagerassem nas suas estripulias. Para tanto, foi feito um trabalho entre todos no sentido de maneirar nas atitudes e nos gestos, pois além de tudo a própria comunidade da cidade era muito provinciana. Lembro que existia até um lugar determinado para se fumar maconha, isso para quem fumava, claro. Pois por lá não iria aparecer nem um tipo de repressão. Quanto a censura, houve um episódio interessante. Um dos artistas participantes do festival desenhou o fusca de cor azul, pertencente ao censor federal chamado Antonio Peixe, e colocou as palavras - cuidado com o azulzinho do peixe! Foi motivo de risos durante o festival. Outro lance interessante foi a partida de futebol entre os amadores e o time da cidade. As caras olhavam para os artistas e achavam graça até da forma que a gente corria no campo. Eu mesmo fui dar de cabeça na bola e cai pra trás que quase não me levanto.  Quanto ao Beleza foi dar um chute na bola e o peito do pé arrastou no chão que ficou em carne viva. Claro que apanhamos de não sei quanto a zero.
          Fato importante, que todos os participantes lembram com muitas risadas, aconteceu na primeira noite do Festival quando todo mundo estava armando suas redes para dormir. Com tudo calmo, o amador Raimundo Dias, uma das figuras mais queridas do meio, já deitado, estava preocupado com sua mãe que dormia em outro local. De repente, uma grande queda. O próprio Raimundo grita - Esse se lascou! Risos e depois, silencio, quando  Raimundo interroga - Mamãe?...Mamãe? Para surpresa geral era a mãe de Raimundo Dias que tinha caída quando as cordas de sua rede deslizaram da travessa.
          O mais o Festival de Teatro Amador de 1979, foi um dos melhores realizados no interior do Estado. O verdadeiro congraçamento entre a classe.
 

sábado, 23 de julho de 2016

II CONGRESSO BRASILEIRO DE TEATRO AMADOR



         No inicio do ano de 1981, precisamente nos dias  28 de janeiro a 01 de fevereiro, aconteceu o II Congresso Brasileiro de Teatro Amador - CBTA, no Teatro Ruth Escobar, na cidade de São Paulo. A delegação piauiense, representando a Federação de Teatro Amador do Piauí, era composta por Ací Campelo, Afonso Lima, Afonso Miguel Aguiar, Williams  Martins e José da Providencia. 
       Os artistas piauienses tinham se preparado exaustivamente para participar daquele evento, com discussões sobre a pauta do congresso, no entanto, o mais importante foi a proposta que levaríamos para o debate de regionalização da Confederação Brasileira de Teatro Amador, promotora do evento. Não uma regionalização simplesmente geográfica, como a Confenata tentava impor,  mas uma regionalização por  afinidades. Essa proposta seria defendida por nossa delegação.
         Naquele mesmo ano e, por incrível que pareça, no mesmo período iria acontecer o I Encontro Brasileiro de Arte Independente, durante os dias de 25 de janeiro a 08 de fevereiro, no Teatro Pixiguinha, no Sesc/Pompeia, na capital Paulista. Portanto, juntou uma coisa com a outra, e mais uma vez o teatro piauiense rumava as malas para participar de uma mostra teatral. Os espetáculos que viajaram para São Paulo foram, A Guerra dos Cupins, de Afonso Lima, dirigido por José da Providencia e montado pelo Grupo de Teatro Pesquisa e O Princês do Piauí, de Benjamim Santos, montado pelo Grupo Teste de Espetáculo, dirigido por Tarciso Prado. 
          A viagem foi uma verdadeira saga. Os dois grupos com a ajuda da Fetapi alugaram um ônibus da Itapemirim, onde além do elenco das duas peças iam também os delegados da própria Federação, uma festa para ninguém botar defeito. Para se ter uma ideia a viagem eram dois dias e uma noite na estrada, que foram regados a cachaça, vodka e marijuana  a valer. 
          O II CBTA transcorreu em um clima de guerra política, onde grupos de poder lutavam pelo comando da Confederação Brasileira de Teatro Amador, varando noites de debates e discussões que pareciam não chegar ao fim, levando a melhor o velho PC do B, quando foi eleito José Carlos Matos do Estado do Ceará, para presidente. Quanto a nossa delegação teve uma enorme participação no Congresso, todavia, nossa proposta de regionalização da Confenata não foi aceita, talvez por falta de uma maior firmeza na sua defesa. No entanto, Afonso Lima foi eleito suplente da diretoria executiva da Confederação e, por um golpe do destino, pois o presidente eleito José Carlos Matos morreu em um acidente aéreo no Estado do Ceará, Afonso Lima assume a vice-presidência da Confederação Brasileira de Teatro Amador. 
        Quanto ao I Encontro de Arte Brasileira Independente foi um monte de equivoco, a começar pelo próprio titulo, onde o próprio evento era patrocinado pelo governo assim como a ida dos Estados a São Paulo. Então, a grande pergunta era o que seria arte independente Brasileira? Portanto, uma pergunta que ainda  permeia a discussão atual.
         Das várias lembranças ficaram muitas, entre as quais, de nossa hospedagem no Estádio do Pacaembu, quando as camas tremiam com a sacudida da galera assistindo o jogo acima de nós; outra, desta vez maravilhosa, foi termos assistido a estreia da peça Rasga Coração, de Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, no Teatro Sergio Cardoso, depois da liberação da peça pela censura federal. 
         

quinta-feira, 23 de junho de 2016

SALÃO MUNICIPAL DE ARTES PLÁSTICAS


          Corria o ano de 1994, Teresina não contava com um salão municipal de artes plásticas, onde artistas da área, profissionais ou aprendizes, pudessem dar visibilidade a seus trabalhos, concorrer a troféus e premiações e serem homenageados.
           Criar um salão municipal de artes plásticas estava na programação elaborada por nós, naquele ano diretor do Departamento de Arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, faltando apenas detalhes para o seu lançamento, e essa oportunidade veio com o desafio de inauguração da Casa da Cultura de Teresina, feito fenomenal do então prefeito Wall Ferraz. O salão municipal de artes plásticas faria parte dos eventos de abertura da Casa.
        Lembro da preocupação do prefeito quando lançamos a ideia para ele por que, segundo seu pensamento, não sabia da reação dos artistas e também não queria a casa com dois ou três quadros dependurados na galeria que seria ali aberta. De minha parte, mesmo sabendo que seria um grande teste, eu o tranquilizava dizendo que ele iria se surprender.
           A Coordenação de Artes Plásticas da Fundação era entregue a professora Pollyana Jericó, zelosa e competente no que fazia. Nossa preocupação, sem dúvida, era com a participação dos artistas, como eles reagiriam a ideia de um salão, se existiria demanda, e com a sustentabilidade do evento. Tudo  era pensado de forma amadurecida,  por que não podíamos errar de forma nenhuma. 
      Trabalhamos dobrado naquele ano. A inauguração da Casa da Cultura demandava vários equipamentos: Bibliotecas, sala de dança, auditório, sala de cinema e vídeo, galeria, museu, palco aberto e salas de oficinas. Era um trabalho e tanto para uma equipe reduzida. Contar os bastidores da inauguração da Casa seria uma saga.
              Dois episódios me chamaram atenção na inauguração. O primeiro, quando o professor Wall bateu o pé e proibiu a colocação de um busto do Barão de Gurguéia no pátio interno da casa, como queriam seus descendentes, por que, segundo ele, não iria homenagear um escravocrata. O segundo, foi quando o cartunista Albert Piauí mostrou o livreto da história da casa para o professor, com uma capa preta, cor que ele não gostava, e foi recusado imediatamente. Um deus nos acuda! Fiquei de falar com o prefeito por que mesmo não tinha mais tempo de fazer outro livreto. Na vistoria final ás obras da Casa da Cultura o professor Wall não esqueceu um detalhe, falamos do salão de artes plásticas e eu toquei de leve no livreto. Tudo certo.
            O I Salão Municipal de Artes Plásticas de Teresina foi aberto na inauguração da Casa da Cultura, com mais de 130 0bras expostas na Galeria Lucílio Albuquerque e por alguns espaços da Casa. O evento foi abraçado pelos artistas plásticos de forma fantástica, encheu os olhos dos visitantes e fez o prefeito não caber de si de satisfação. O Salão durou mais de quinze edições, valorizando as artes plásticas e descobrindo novos valores.
            Infelizmente, a miopia cultural de alguns dirigentes da Fundação Monsenhor Chaves andam passo a passo com a incompetência e a falta de zelo com os programas culturais, como foi o caso do Salão. Simplesmente deram fim.

domingo, 22 de maio de 2016

DOIS ACONTECIMENTOS DO TEATRO PIAUIENSE EM 1986


      Dois acontecimentos do teatro piauiense ocorridos no ano de 1986 chamaram a atenção da classe teatral. Naquele ano o teatro no Estado do Piauí estava vivendo um dos seus melhores tempos com realização de mostras de teatro, congressos, seminários e uma produção de espetáculos que ganhavam prêmios em vários festivais pelo Brasil afora.
       O primeiro acontecimento que passamos a relatar foi um racha no movimento de teatro local entre a Federação  de Teatro Amador do Piauí - a FETAPI, e a própria classe teatral, quando a Federação de Teatro, por um erro estratégico de gestão, passou a trabalhar apenas com os grupos já sedimentados do movimento relegando a último plano os chamados grupos de teatro da periferia, que naquele período eram muitos. Claro que houve uma reação muito forte, inclusive, da parte de grupos filiados  Federação. Mas não houve consenso, e o racha aconteceu. A parte atingida, liderada por Raimundo Dias, um dos grandes articulistas do movimento teatral criou a FITA - Federação Independente de Teatro Amador, congregando todos os grupos de teatros de bairros e outras lideranças do teatro. A Fita logo tomou folego, fez seminário de teatro, circulação de espetáculos e se fortaleceu junto aos orgãos de cultura do municipio e do Estado.
        O outro acontecimento aconteceu em agosto daquele ano de 1986. Apoiado exatamente pela Fita e criado pela atriz Carmem Carvalho e pelo ator Galdiran Cavalcante, nascia o Festival de Monólogos Atriz Ana Maria Rego, em homenagem a grande atriz piauiense. O I Festival de Monólogos Ana Maria Rego aconteceu no Bar Divina Comédia, que ficava no bairro Vermelha, na casa de Galdiran. Nesse período, nós estávamos como coordenador de artes cênicas da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, da Prefeitura de Teresina, e apoiamos o festival com caminhão de apoio, onde se realizavam os espetáculos em cima da carroceria, e sistema de som.
        Daquele primeiro Festival de Monólogos participaram com espetáculos, os atores José Wilson, Raimundo Dias, João Brito, Isa Ferreira e o próprio Galdiran Cavacante, numa noite realmente memóravel sem que ninguém soubesse que aquele ato faria história no teatro piauiense.
           A Federação Independente de Teatro Amador, depois de muito lutar, inclusive, para unificar o movimento de teatro amador do Piauí foi extinta em 1987 quando, por outro erro de estratégia, seu presidente Raimundo Dias teve a ideia de viajar para o Congresso Brasileiro de Teatro Amador, como representante do teatro piauiense. Ora, isso seria impossível, já que não podia existir duas entidades por Estado representando a mesma categoria, e quem representava o teatro piauiense, por direito, era a Federação de Teatro Amador do Piauí, FETAPI. Mesmo assim Raimundo Dias foi ao Congresso Brasileiro, mas foi impedido de participar.
        Quanto ao Festival de Monólogos Ana Maria Rego teve vida longa. O II Festival foi realizado pelo grupo Raízes de Teatro, em 1989, com o apoio do Liceu Piauiense, e o III Festival foi realizado pelo Fundação Cultural Monsenhor Chaves, levado por nós para aquele orgão. Depois o Festival de Monólogos Ana Maria Rego virou festival nacional de monólogos, o primeiro evento nacional de teatro acontecido no Piauí e que trouxe enorme divulgação para o teatro local. O Festival Nacional de Monólogos Ana Maria Rego teve mais de quinze edições, até ser extinto pela burrice e falta de visão de dirigentes da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

NOSSO ATOR BELEZA


         Chamava-se Antonio de Paula Silva, nosso querido ator Beleza, já falecido. Beleza foi um dos mais conhecidos animadores do teatro infantil piauiense das décadas de setenta e oitenta, lotando o Theatro 4 de Setembro com suas apresentações. Era uma figura brincalhona, sempre com um sorriso nos lábios, curtidor da vida e da bebida, e muito querido por todos aqueles que o conheciam. 
          As histórias de bastidores de Beleza eram muita conhecidas do pessoal de teatro. Aqui, neste escrito,  vamos lembrar apenas de três delas, que acreditamos dar a dimensão do seu espírito brincalhão e cheio de surpresas.
             A primeira ocorreu no ano de 1985, quando da realização do III Congresso Brasileiro de Teatro Amador, acontecido em Vila Velha, Paraná. Beleza fazia parte da delegação de artistas amadores representantes da Federação de Teatro Amador do Piauí, a FETAPI. Naquele Congresso dos amadores brasileiros ninguém se entendia, apesar das discussões vararem a noite. O certo é que chega o último dia e na pauta estava a renovação da diretoria da Confederação Brasileira de Teatro Amador, a CONFENATA, promotora do evento. Como ninguém se entendia não houve consenso para a eleição, assim partiu-se para o confronto com duas chapas concorrentes. Na última hora surge o Beleza, avisando no plenário que iria inscrever mais uma chapa. Tumulto, ninguém entendeu nada, muito menos nós do Piauí. O certo é que quando ele foi chamado para inscrever sua chapa, simplesmente ele abriu a boca e tirou a dentadura. Foi um deus nos acuda. Coisas do Beleza!
          As duas outras aconteceram no Theatro 4 de Setembro, a primeira quando ele terminou de apresentar sua peça infantil He-Man, o Verdadeiro, e foi interpelado por uma senhora raivosa quando ele saia do camarim do teatro. A senhora mostrou a ele um panfleto em que estava escrito que a peça já tinha sido apresentada com sucesso em Bueno Aires, Nova Iorque e Uruguai, e ela queria uma explicação por que seu filho não tinha gostado da peça. Beleza, então, virou-se e disse; Minha senhora, a peça foi apresentada no bairros Buenos Aires, e planalto Uruguai, em Teresina, na cidade de Nova Iorque, no Maranhão. Certo? A senhora saiu enfezada do Theatro. A segunda, foi quando ele foi apresentar sua peça e faltava compor uma parte do cenário, que era um jardim. Beleza não se fez de rogado. Arrancou dos jarros plantas e palmeirinhas que decoravam a antiga galeria do Theatro, na rua primeiro de maio, e fez seu cenário. Quando a direção do Theatro descobriu o ato já era tarde, a única coisa que restava era punir o grupo do Beleza, mas como, se tudo nele era fantasia?
           As histórias de Antonio de Paula Silva, o Beleza,  fazem parte do folclore teatral piauiense. Voltaremos com mais histórias desse folclore.

sábado, 26 de março de 2016

SOBRE O CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA


        No dia 07 de abril próximo, conforme edital da Secretaria de Estado da Cultura do Piauí, serão eleitos 03 membros representativos dos artistas e produtores culturais para o Conselho Estadual de Cultura do Piauí. A regra para eleição dos conselheiros de cultura está na Constituição do Estado, onde o poder Legislativo, via Assembleia Estadual, elege 03 membros; o poder Executivo, via governo,nomeia 03 membros, e as entidades representativas dos produtores e artistas elegem mais 03 membros.
       O Conselho Estadual de Cultura do Piauí foi criado nos anos setenta, e revitalizado nos anos noventa, no governo do senhor Freitas Neto, ganhando sua estrutura e composição atual. Tive a honra de participar como Conselheiro, de 1992 a 1994, de sua revitalização ao lado de intelectuais e figuras ilustres do porte da Doutora Diva Figueiredo,dos professores Raimundo Nonato de Santana, Cineas Santos, Maria Figueiredo e Manuel Paulo Nunes, do Doutor José Eduardo Pereira, entre outros.
        O CEC/PI, é um orgão consultivo, sem poder de deliberação, importante Forum não só de apoio, mas de discussão, debates e proposição de políticas públicas do governo para a área da cultura. Naquele primeiro momento do novo Conselho houve um esforço enorme dos conselheiros não só na normatização do próprio orgão como também na proposição de leis para o desenvolvimento de nossa cultura, como a Lei do Patrimônio Histórico e Artistico Estadual assim como da Lei do Sistema de Incentivo Estadual a Cultura, cujo ante - projeto foi elaborado por mim, com base na lei de incentivo a cultura de Pernambuco. Coloque todo meu esforço e minha determinação na discussão  e aprovação dessa lei, que foi sancionada no primeiro governo de Mão Santa, e ainda hoje está aí como um importante instrumento para a produção cultural de nosso Estado. Importante, também, naquele período foi o tombamento como patrimônio do Estado, o prédio do Theatro 4 de Setembro.
       Acreditamos que o Conselho Estadual de Cultura, da forma em que se encontra, precisa de nova normatização, principalmente,para se adequar as leis da nova política nacional de cultura, pois é impossível que o Estado do Piauí continue fora do sistema nacional de cultura. Esse papel, temos absoluta certeza,será trabalhado durante o mandato do Conselho que, em nossa visão, será o último mandato na forma da representação em que está hoje.
        O Conselho  Estadual de Cultura é um orgão importante, mas para que ele tenha a sua importância de fato, é preciso que os conselheiros trabalhem neste sentido, e não estejam ali apenas representando suas áreas culturais ou o ego do próprio conselheiro. Lembro do respeito que o Conselho tinha anteriormente, não que ele tenha deixado de ser respeitado, mas sem dúvida alguma perdeu importância durante o tempo. E só para lembrar disso, naquela ocasião,1994, havia a intenção entre a prefeitura de Teresina, mandato do prefeito Wall Ferraz, e o governo do Estado, mandato de Freitas Neto, em fazer permuta do prédio da antiga câmara municipal de Teresina, onde seria construída a biblioteca municipal, com o prédio da antiga Fundação Cultura do Piauí. A decisão  dessa troca foi esbarrar no Conselho, que votou contra a proposição, apesar de esforços das duas partes. Eu, como Conselheiro de Cultura do Estado e diretor da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, abstive de votar e disse para o professor Wall que a proposição não passaria no Conselho, como não passou e a decisão foi respeitada para o bem da Fundação Cultural, que assim não seria desalojada. 
        Um Conselho respeitado, propositivo e trabalhador, é assim que desejamos.
      
       
      

domingo, 28 de fevereiro de 2016

SOBRE IDENTIDADE CULTURAL


           Nos anos noventa participei de um Seminário sobre Identidade Cultural na Universidade Federal do Piauí, promovido pelo Departamento de Comunicação e coordenado pelo ilustre jornalista e professor  Fenelon Rocha. Na mesa de debate me lembro da historiadora Claudete Dias.
           Comecei minha fala dizendo que Teresina não tinha uma identidade cultural por que foi uma cidade criada, planejada, e que seus moradores vieram para cá de outros lugares, portanto, trazendo de onde vieram suas tradições, seus hábitos, seus comportamentos e sua cultura. E, sendo assim, Teresina não tinha raízes culturais genuínas. No final do seminário houve um bom debate sobre identidade cultural.
           Mas uma vez colocamos esse tema aqui por que continua a me instigar profundamente o fato dessa história corriqueira entre a maioria da classe artístico -cultural de que não precisamos de identidade cultural, por que somos contemporâneo, uma capital nova, integrada, portanto, a todas as tendências. 
           Mas uma vez recorro a um fato, e este aconteceu em 1995, quando participamos no Rio de Janeiro de um evento no Rio Centro, onde o Piauí se fez presente com sua arte: literatura, artes plásticas, música, fotografia e artesanato. Eu coordenava a parte de literatura e artes plásticas. Lembro que houve um show do grande Edvaldo Nascimento e seu rock no mesmo instante em que um grupo de Recife estava fazendo uma apresentação musical de frevo e maracatu. Não é preciso dizer que o público do nosso autentico rock piauiense era exíguo, quase inexistente, enquanto o outro bombou. Não estou dizendo aqui absolutamente que nosso rock é ruim. Foi apenas uma comparação da diferença, do inusitado, do que faz as pessoas se admirarem, do que não é comum, daquilo que não encontramos em cada esquina do mundo global.  Identidade cultural talvez seja isso, o que faz a diferença.
          Cada vez mais estou convencido de que precisamos encontrar um rumo na nossa criação artística. Pode ser apenas uma opinião. Mas enquanto ficarmos apenas querendo imitar, e mal feito, o que faz a cabeça das pessoas por aí afora, continuaremos sem visibilidade alguma. Será que nosso teatro não tem nada para contar? E nossa música, nossa literatura, nossa poesia? Voltando lá para o inicio, sabe qual o produto  que mais fez sucesso no Rio Centro, o artesanato. As imagens do cabeça de cuia, dos santos esculpidos em madeira, feitos de forma autentica. Penso cada vez mais que nunca conseguimos penetrar no emaranhado mundo da arte por que nosso produto nunca teve a nossa verdade, a nossa história, os nossos hábitos, o nosso ambiente social, a nossa cultura. Até aqui temos sidos meros consumidores, admiradores e macacos de auditório do que vem de fora. Uma pena.

domingo, 31 de janeiro de 2016

SOBRE A LEI A. TITO FILHO, NOVAMENTE



            Não custa lembrar para os que conhecem e, em especial, para quem não conhece que a Lei que criou o Projeto Cultural A. Tito Filho - Lei A. Tito Filho - foi criada em março de 1993, pelo então prefeito Municipal de Teresina,  professor Wall Ferraz. Essa Lei foi baseada na Lei Rubem Braga, de Curitiba, Paraná, quando foi apresentada por nós quando éramos diretor da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
            A Lei A. Tito Filho, na sua primeira versão era no Sistema de Mecenato, ou seja, o produtor cultural de posse de Incentivos Fiscais do município ia atrás do patrocinador, simples assim. Nesse sistema ela durou de 1993 a 1997, e muitos projetos foram incentivados. A critica mais ferrenha do meio cultural era a  falta de conhecimento da Lei pelos empresários assim como o desconhecimento, também, dos empresários de quem produzia cultura em Teresina, terminando por beneficiar apenas aqueles artistas e produtores que tinham visibilidade na cidade. 
          Na campanha de Firmino Filho para a Prefeitura de Teresina, em 1996, houve um encontro entre o candidato, artistas e produtores culturais que reivindicaram a criação do Fundo Municipal de Cultura, o que democratizaria o acesso a Lei A. Tito Filho. O doutor Firmino Filho foi eleito e imediatamente nomeou uma comissão formada por três membros para rever a Lei e criar o Fundo Municipal de Cultura. Essa Comissão formada por mim, Afonso Lima e o advogado Jean Paulo apresentou ao Prefeito o texto da Lei, nos dois formatos - Mecenato e Fundo, no entanto, o prefeito optou apenas pela criação do Fundo. Dessa forma, a partir da Lei 2.548, de 10 de julho de 1997, Decreto 3.915, de 1998, foi criado o Fundo Municipal de Cultura, dando a gestão do Fundo á Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
           Agora estamos sabendo que a Fundação Monsenhor Chaves nomeou comissão para rever novamente a Lei A. Tito. O que podemos dizer é que da forma que a Lei se encontra não funciona. Primeiro, por falta de gestão e segundo, por que o próprio Fundo Municipal de Cultura não tem como se manter seja por pura falta de interesse da Prefeitura ou pelo próprio sistema de Fundo, onde quem faz a captação do dinheiro é a Fundação Monsenhor Chaves junto as empresas. Ora, a FCMC até o momento mostrou pouco interesse nesse sentido, emperrando a Lei.  Na nossa opinião, caberia os dois sistemas de incentivo - Mecenato e Fundo -, pois Teresina cresceu, os empresários tem maior consciência empreendera e os artistas e produtores estão mais conscientes do seu papel e já aparecem visivelmente como classe profissional. O Fundo ficaria para entidades sem fins lucrativos, e para incentivar a cultura identidade de um povo, de uma cidade.
           Portanto, que essa comissão trabalhe e mostre ao prefeito a necessidade de reformular a Lei mas, principalmente, de cumprir a Lei, por que senão de nada vai adiantar.
             Depois voltaremos ao assunto. É muito importante.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PAU A PAU



                  Foi no ano de 1978 que fiz a estreia de meu segundo espetáculo como autor e diretor, a peça Pau a Pau, com interpretação de Lorena Campelo, Lili Martins, Afonso Miguel Aguiar e Ribamar Rocha, a apresentação  foi no Theatro 4 de Setembro.
                  O texto falava sobre o latifúndio, problemas de terras do nordeste brasileiro, de uma forma meio rançosa. O plot era mais ou menos o seguinte: Um roceiro desafia o coronel da cidade em corridas de cavalos, coisa que nunca tinha acontecido no lugar. Mas a corrida de cavalo era apenas o pano de fundo para a discussão das terras que o Coronel tinha em seu poder, terras tomadas o troco de bananas de várias familias. A disputa da corrida de cavalos levou o povo do lugar a tomar partido, uns do lado do Coronel e outros do lado do roceiro. O embate final dava-se numa quitanda, onde o coronel e o roceiro bebiam pinga antes da corrida. Lá para as tantas, o coronel descobre  que o roceiro botou chifre nele com sua jovem mulher, o homem parte para o roceiro e é morto por ele.
                  Naquele ano a  censura ainda era braba em nosso país, e todos os nossos trabalhos de teatro tinham que passar pela censura prévia da Policia Federal. Lembro que fui liberar o texto e o censor foi taxativo - a peça não podia se apresentar com o final escrito. Era tirar, reescrever ou suspender a estreia. Para mim foi um deus nos acuda.
                    Lembro que discuti  o problema com Lili Martins, ator e cenógrafo da peça, e para o ensaio geral, com a presença do sensor o tempo todo com o texto na mão, fazendo questão de minha presença a seu  lado, ensaiamos apagando a luz antes que o coronel caísse morto em cena. Foi a solução que encontramos para driblar a censura. Só que na apresentação para valer ninguém obedeceu isso, por que sabíamos que raramente algum sensor assistia aos espetáculos
                     Mas o interessante mesmo foi a polêmica. Quando contei a censuara do texto  para Santana Silva, diretor e ator de teatro, meu amigo, ele não contou conversa. Disse que era amigo de Petrônio Portela, e na realidade era, que naquele período era Ministro da Justiça, e que ele daria um jeito. O mais interessante de tudo foi que o Ministro Petrônio Portela, responsável pela abertura politica do pais, veio a Teresina para dar uma palestra. E eu fui a palestra no auditório do Ministerio da Fazenda quase obrigado por Santana e Silva, para falar com o Ministro, vejam só. Terminada a palestra, Santana furou caminho até o ministro, e sapecou. Ministro este é o Ací Campelo, ele é diretor de teatro, tem uma peça sua que foi censurada, e coisa e tal. O ministro simplesmente olhou para mim e não disse nada, só que passei muito tempo sem esquecer daquele olhar. Um olhar que parecia dizer muita coisa.
                    A peça Pau a Pau continuou a se apresentar com o mesmo final que foi escrita. Um roceiro matando um coronel em pleno palco por motivo de terras. Naquele tempo um desafio.