segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Questão do Ator Piauiense

Há muito tempo vem me preocupando a inserção do ator piauiense no mercado de trabalho. Não só como gestor de uma Escola Técnica de Teatro, que trabalha a formação profissional do ator, mas como produtor e diretor teatral tenho levantado essa questão junto a vários artistas de teatro.
Existe ainda uma confusão, de certa forma normal, mas também duradoura em nosso meio, de que não existe mercado de trabalho para o ator piauiense. A pergunta, então, vem de cara? Pra que formar profissionais de teatro? Se esse dilema ainda é forte no meio teatral, imagine fora dele, onde as universidades particulares e as universidades públicas piauienses, sem contar outros seguimentos sociais, fazem questão de desconhecer o nosso teatro. Claro que o mercado de trabalho para o ator piauiense é incipiente, mas isso impede a formação e a capacitação de mão-de-obra? Se não preparamos a mão-de-obra, como enfrentar o mercado de trabalho, seja aqui ou lá fora? Feita essa observação, lá vem outra questão de fundo: a questão artistica não deve visar o mercado de trabalho. Arte é outra coisa, sim, concordo. Mas concordo, também, que o artista precisa viver de seu trabalho.
A colocação sobre o mercado de trabalho é que tem levado nosso artista de teatro ao impasse: ser o não ser ator? Assumo ou não assumo? A crueldade da dúvida é que tem levado verdadeiros talentos ao estaleiro, a desistência pura e simples. Aliás, os produtores teatrais do Piauí, sempre que descobrem um bom ator, se peguntam: quando é que ele vai trocar o palco por um salário minimo de balconista? Não que ser comerciário seja ruim, ou ganhar um salário também. Mas é que parece que o dinheiro que o ator piauiense ganha, ele não considera. E olhe que como produtor eu digo: o ator piauiense, formado e consciente, ganha dinheiro, e não lhe falta trabalho. Mas isso é preciso ser ator, investir-se do papel da representação, ser no sentido do devir e estar sempre antenado a procura de papel. O ator tem como função atuar, seja no palco, na tv, na publicidade ou no cinema, e, ainda, socialmente, isso significa investir-se da máscara de ator e não dizer simplesmente que é, e fugir na hora de atuar. Esconder no bairro onde mora, no trabalho que executa ou em cada esquina sua profissão. Ser ator, mesmo em Teresina, Piauí, Brasil, é uma profissão digna. Mas tem que encarar. Não é querer ser funcionáro público em primeiro lugar, ou vendedor de perfume, ou comerciário, é querer ser ator em primeiro lugar. Quantos médicos não são cantores, pianistas, atores? Eles se dizem artistas? Não, se dizem médicos. Agora nossos atores, e aqui não generalizo, nunca dizem que são atores, preferem dizer que são empregados na fundação tal, na secretaria tal, no supermercado tal, e tome irresponsabilizadade na hora do ensaio, por que não tem tempo. Por que aquele emprego lá é mais importante do que ser ator, do que seu sonho de vida. Triste realidade de nossos atores.
Bem, espero ter suscintado um debate que está me apaixanando muito. Mesmo por que nosso teatro, mesmo com todas as mazelas, continua em pleno desenvolvimento, e será seguramente a arte maior em pouco tempo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

ATRÁS DE PATROCÍNIO

A coisa mais dificil para um produtor cultural é a captação de recursos. Um Deus nos acuda.. Projetos debaixo do braço começa a via crucis. E passou o tempo em que se procurava os orgãos oficiais de cultura, hoje estão fálidos e só tratam de gerência de patrimônio e pessoal, o resto são as leis de incentivo, portanto, a possibilidade de um não é certeza.
A questão do patrocínio cultural no Estado do Piauí merece um debate de fundo e não simples interrogações e perplexidades. Isso pode gerar farpas entre quem produz e quem tem possibilidade de patrocinar. As perguntas são muitas: Quais as empresas que patrocinam cultura em nosso Estado? Quais os produtos ou marcas piauienses que podem ser associados à produção cultural? Existe markenting cultural nas empresas piauienses? São perguntas desafiadoras que podem esclarecer e, de certa forma, fundamentar uma ação em um sentido mais amplo do produtor cultural. É bom não confudir patrocínio, puro e simples, com marketing cultural, nem com o famoso "pai trocínio" de algumas empresas.
Dois aspectos chamam a atenção nesse desafio: primeiro, o parque industrial do Piauí ser muito incipiente e a matriz de grandes empresas instaladas aqui serem de fora do Estado: segundo, a publicidade das empresas locais serem ainda dirigidas para a venda de seus produtos, para a sobrevivencia do mercado, sem agregação do produto a uma visão de marca, ou seja, de marketing. No varejo, é bom aplicar dinheiro num show de grandes bandas de axé ou forró, de preferencia de outros estados, nada contra, do que aplicar num projeto de relevancia cultural.
Ao produtor cultural piauiense resta pensar que existem difiuldades em todos os estados, é fato sim, mas a diferença é gritante. Aqui o produtor tem que lutar contra vários fatores que fogem à lógica do patrocínio, e um desses fatores é que ninguém sabe quais os critérios que as empresas locais usam para distribuir seu dinheiro ou suas doações para a cultura. Não seria interessante estabelecer regras claras e objetivas? Mas, vamos com calma. Antes, se poderia até dizer por que é que se estar patrocinando, ou por que não pode patrocinar. Mas o que tem-se visto são castas de privilégios, patrocinios à cata de retornos fáceis, e um certo ranço com a maioria das manifestações culturais, ou mesmo, contra esse ou aquele produtor. Afinal de contas são tão poucos e o mercado ainda menor. Claro, a empresário tem livre arbitro para patrocinar aqui que gosta ou mesmo quem quizer, mas a sua empresa precisa de transparencia. Muitas vezes a falta de critérios é que gera embates de forma incompreensivel e, às vezes, intolerante tanto de um lado como do outro. O simples não de uma empresa se não bem fundamentado não convence, mas sim torna-se objeto de especulações.
Existem muitos projetos que mereciam ser patrocinados no Estado do Piauí. Obviamente, que existem fragilidades gritantes entre os produtores culturais, aliás, muitos até usam esse nome de forma equivocada. Produzir não é fazer arranjos, improvisar, nem mendingar, produção cultural é uma profissão na economia da cultura. Neste sentido, quem sabe a profissionalização de um bocado de gente que se diz produtor cultural não fosse importante para o próprio desenvolvimento dessa área? Melhoraria muito, principalmente, nos orgãos culturais, onde se confunde funcionário público com artista, produtor cultural com dirigente de orgão de cultura.
Patrocinado e patrocinador têm que ter uma relação de iguais, pois estão vendendo produtos, nas suas devidas dimensões. Ás empresas hoje não cabe apenas uma visão capitalista, ainda que vivamos nesse sistema. Mecanismos existem muitos para que as empresas apliquem na cultura. Isso não é filosofar ao vento, é uma questão de desenvolvimento, de responsabilidade,de grandiosidade, pois se embalar nas criações humanas faz bem e supera a pobreza de espirito.

terça-feira, 29 de junho de 2010

E Nós, o Que Faremos?

Está tudo bem com o povo da cultura? Todo mundo criando, produzindo, apresentando? Pois é, até parece que está tudo bem, mas tenho a impressão que são só aparências, ou melhor dizendo: tudo é silencio, e o manto do silencio faz as coisas parecerem normais.
Vou me deter mais especificamente ao teatro, minha praia. Mas isso, também, servirá para todas as áreas artisticas, afinal de contas estamos no mesmo barco, ou melhor dizendo, no mesmo Estado, mesmo lugar, mesmo chão. O que bem poderia ser no mesmo estado, de penúria. Será isso? Sei lá pode ser que tenha algum artista em extase de felicidade, e a gente não saiba. E aí esse artigo passará como puro ranço, pra ele, claro. Mas como nada é unanimidade, tanto faz. Depois como é bom ter um blog, escrevemos o que queremos e não corremos o risco de pegar um brogue.
Vamos começar pelas leis de incentivo. No Piauí, elas, pelo contrário, desestimulam. A Lei A. Tito Filho, do municipio de Teresina ainda não pagou os projetos do ano passado, e é por que todo mundo está correndo pra lá. Realmente, tinha aquirido uma certa credibilidade até chegar alguém como gestor e parar tudo. Porém, nada como um dia depois do outro. As leis ficam os gestores passam. O da Fundação Monsenhor Chaves já passou. O Sistema de Incentivo à Cultura, do Estado, se perdeu no tempo: durante oito anos do governo petista não saiu do papel. Só para se ter uma idéia ainda não pagou os projetos contemplados em 2008, haja paciência, e saco, hem! Mas também queríamos o que com tanta promessa de salvação da pátria? Não era o
PT que ia fazer a redenção cultural do Piauí? Fez? Não é por nada, não. No entanto, me pareceu uma das piores gestões neste setor. Afora os tambores, quilombolas e a negritude, que eu também adoro, a coisa desandou. Até pareceu um certo òdio, ou uma vingança maligna contra todos aqueles que há mais de vinte anos fazem cultura. Aliás, teve uma proposta terrível do inicio da gestão cultural do PT no estado que era: ninguém com mais de vinte anos de cultura terá vez. Quem sabia dessa? Será que botaram isso em prática gente?
Bem, mas nós da cultura temos culpa. Somos parados politicamente. Só enxergamos o próprio umbigo, e nem na hora do aperto nos juntamos. Sindicato pra que? Federação de Teatro pra que? Acabamos com tudo, não temos forum de nada. E o pau comendo nos couros, principalmente dos novos talentos, os descobertos pelos festivais, pelos concursos literários, pela vontade de fazer. Esses, coitados, não tem pra onde correr. Vamos para por aqui tá? Quem quizer fazer coro comigo, espernei, eu faço isso do meu modo. E só me expresso assim, mesmo nese tipo de veículo global quando a coisa está preta. Alguém da cultura acha o contrário?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

SOBRE AS LEIS DE INCENTIVO

Vez por outra vem à tona as discussões sobre as leis de incentivo cultural - Lei A. Tito Filho, da Prefeitura Municipal de Teresina e o Sistema de Incentivo Estadual à Cultura-SIEC, do Governo do Estado do Piauí. As discussões sempre foram pontuais, sem profundidade e, muito menos, esclarecedoras do real papel que essas leis têm para o nosso desenvolvimento cultural.
O Sistema de Incentivo Estadual à Cultura - SIEC, Lei Nº 4.997, de 30 de dezembro de 1997, reformulada e modificada pela Lei Nº 5.405, de 14 de julho de 2004, compreende os mecanismos de Mecenato e Fundo, e foi criada no Conselho Estadual de Cultura, por nossa iniciativa, quando èramos conselheiro. De tanto ser modificado o Projeto original, é uma lei quase morta, pois ficou inviabilizada sua efetivação pela baixa renuncia fiscal do governo, ficando em 70% do valor do projeto em se tratando de patrocinio e de 50% em se tratando de investimento. Qual o incentivador que se arrisca a aplicar na lei, tendo em vista ainda a grande burocracia, a devassa em sua empresa e a demora do governo em restituir seus créditos fiscal? Mas não tem só isso: O Conselho Deliberativo da Lei não é paritário e tem como presidente do Conselho a presidente da Fundação Cultural do Piauí, portanto, sem autonomia.
Um aspecto questinável do Siec são as regras de aprovação de projetos. Só para exemplificar, no edital 2008, publicado no Diário Oficial, foram distribuidos o minimo de projetos a serem aprovados e a quantia a ser recebido, em cada área: Artes Cênicas - 15 projetos de R$ 15.000,00 e 05 projetos de R$ 25.000,00 mil, na lista final de aprovados sairam mais de 20 projetos. Não signiicaria quebra de regra do edital? Ora, ou foram aprovados projetos fora dos valores estipulados ou foram diminuidos orçamentos dos projetos. Até se entende que algum produtor faça projeto de 8.000,00 concorrendo na faixa de 15.000,00 mas isso não seria falha na confecçao do projeto? Portanto, essas coisas confundem o produtor cultural. Não fica claro quais as regras, que deveriam também constar do edital. Além do que o SIEC precisa ser estruturado com sua comissão de funcionamento, que vá desde o acompanhamento do projeto à sua execução e prestação de contas. O mais fica-se boiando num emaranhado de respostas mal dadas.
Quanto a Lei A.Tito filho, Lei Nº 2.194, de 24 de março de 1993, alterada pela Lei º 2.548, de 10 de julho de 1997, que tive a honra de participar da elaboração do anti-projeto, lei que tem a gestão da Fundação cultural Monsenhor Chaves, gestora do Fundo Municipal de Cultura, os equivocos são muitos, a partir de sua gestão.
Em primeiro lugar, a Lei é um fundo, portanto, não deveria ter publicidade em seus produtos. Ora, quem aplica na Lei tem 100% de isenção fiscal, portanto, a marca é da prefeitura Municipal de Teresina. Alguém pode dizer que sem a publicidade das empresas a lei não funcionária, mas é bom lembrar que a empresa só estar adiantando seu dinheiro. Além do que a própria Prefeitura poderia acabar com essa coisa e ela mesmo colocar o dinheiro no Fundo Municipal de Cultura. Outra coisa é que a FCMc sugere aos incentivados que procurem as empresas para patrocinar seus projetos, ora, isso é Mecenato não é fundo.
Outro fato é que a Prefeitura Municipal de teresina não está destinando a dedução fiscal do IPTU para a lei A.tito Filho, só o ISS. Isto é fato. Ademais é vergonhoso um montante de apenas 500.000,00 mil reais para uma capital com mais de 800 mil habitantes. Vamos fazer um calculo simples com dados da Prefeitura do ano de 2007: entre as receitas tributárias, arrecadadas diretamente pela Prefeitura- ISS 54.009,760,62 e IPTU 14.304,012,51. Agora vamos deduzir os 3% de isenção para a Lei A.tito Filho, isso daria aproxidamente 2.270.000,00 dois milhões e duzentos e setenta mil reais. Para onde vai esse dinheiro?
A Prefeitura Municipal de Teresina diz que aplica 2% de seu orçamento em cultura, parabens à Prefeitura. No entanto, esse dinheiro é destinado para a manutenção da máquina burocrática, manutenção de equipamentos culturais e de eventos da FCMC, às vezes mla produzidos e sem retorno de público. O Investimento mesmo na àrea cultural é zero pelo fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, que parece não passar de gestora de problemas estruturais.
Dito isto, se tiver uma coisa que defendemos são as leis de incentivo, por que nos parecem instrumentos democráticos de livre concorrencia, onde ganham aqueles projetos de excelencias artisticas, ou que assim deveriam ser. Mas como vimos as leis precisam de ajustes. Também, não é preciso que os orgãos oficiais de cultura joguem tudo para as leis de incentivo, esquecendo seus principios básicos de estimulo à arte e a cultura, de uma forma mais ampla.