terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Charlatanice e o Preço do Obscurantismo.

No inicio do governo, em segundo mandato, os acontecimentos na área cultural transformaram-se em cenas do mais genuíno teatro do absurdo. E aqui não vai nenhuma depreciação contra o teatro. Nada melhor do que "Esperando Godot", a genial peça do dramaturgo Samuel Becket, para tentar explicar tanta indefinição e tanto marasmo. Na peça, personagens esperam por outro que nunca chega, na vida real de artistas e produtores culturais piauienses, espera-se por gestões culturais dignas da classe que nunca chegam. E o que dizer da incomunicabilidade do teatro de Eugene Ionesco? É assim, também, entre o governo e a classe artistica: o primeiro tentando desconhecer a existência da segunda, num total descompasso com a realidade. Mas o problema maior não está em conhecer ou desconhecer, existir ou não existir, o problema está em desvalorizar e espezinhar propositadamente.
De inicio, houve a mobilização da classe através do Forum de Música e do Conselho Estadual de Cultura por que se espalhou que a Fundação Cultural do Piauí ia deixar de existir ou se fundir com outro. Iss seria a contramão da história. Inclusive, o rcclame geral dos artistas era para que o governo criasse a Secretaria de Estad da Cultura. Impossivel querer acabar com o único orgão oficial de cultura na esfera estadual quando todos os esforços do goerno federal são exatamente ao contrário, estruturar o Sistema Nacional de Cultura, via União, Estados e Municipios. Tudo bem, a Fundação continua. A questão não está em acabar com um orgão por que seu gestor foi inepto e inoperante. A questão é mais profunda e podemos sentir isso pelo desprezo com que o Estado trata a cultura, esquecendo que esa área é uma das mai importantes geradora de emprego e renda de nosso pais e que a economia da cultura pontua em todos os debates. Esse posicionamento, uma herança maldita da velha elite que dominou o Estado, e que via a cultura como adorno e como enfeite, parece continuar até hoje nos bastidores do poder, posição que conseguiu se entranhar no pensamento comun do mais simples mortal piauiense, aquele a quem falta comida e água potavel. Se falta isso, para que cultura e arte.
A nossa percepção em determinado momento é relativa, assim como a realidade, quando se trata de questões èticas, estéticas, lembranças, imaginação, solidariedade, então, perdemos principalmente a capacidade de perceber a realidade e passamos a ser vitimas de nosso próprio destino. O problema, às vezs, é entender ou perceber verdadeiramente o que está por detrás de cada forma, de cada função, de cada medida. Porque tamanho descaso do Estado com a cultura piauiense? Onde está a razão de tudo isso? E aqui colocamos o Estado como um todo, o que engloba os municipios. É preciso perceber as artimanhas, a parte oculta do descaso, a charlatanice para poder entender por que uma área tão importante da sociedade é maltrtada como a área cultural, percebendo também, como colocamos acima, por que a nossa sociedade, um tanto fragilizada por falta de segurança,alimentação, educação e cidadania plena, faz coro numa imitação simplória do poder público na desvalorização de sua cultura e de seus criadores.
Até mesmo no seio da classe artistica, e talvez aí esteja o erro trágico maior, a nossa harmatia, perde-se a firmeza do conjunto e parte-se para a individualidade. Aí, o artista centra fogo em quem não é seu inimigo, e os companheiros, os amigos, os compadres, passam a ser só aqueles que concordam - por que esses tem sempre a capacidade de concordar com tudo - e os que discordam passam a ser inimiugos, jogados no limbo, numa guerra de confronto terrível e numa descontituição do antagonista que beira a sandice, o que só serve para dar continuidade ao total obscurantismo cultural em que o Piauí é jogado, sem contar que a transformação social é zero e os mortos e feridos são muitos para o deleite do poder. Podemos perceber o jogo do poder quando não transformamos nossos própios sentimentos? Ou não queremos perceber esse jogo de dominação a que somos submetidos? O que mais queremos em nosos meio artistico/cultural que não seja a transformação dos sentidos, dos sentimentos e da própria sociedade? Portanto, o confronto da classe contra ela mesma é ainda muito visivel em noso meio. E continua a fazer seus estragos. Veja a escolha da nova presidente da Fundac, onde muitos aplaudiram e tantos outros execraram.
Esse teatro do absurdo em que assistimos a cultura do Estado ser tratada anos após anos dá bem a dimensão do descasoe do obscurantismo em que somos mergulhados. E aqui a relação teatro do absurdo com a nossa realidade cultural ultrapassa ao próprio absurdo da realidade, pois trata-se não criar uma realidade mas de vivenciá-la da forma mais mesquinha possível, onde artistas e produtores enfrentam diariamente um campo de batalha sinistro pela sobrevivencia, tomando calote do Estado, onde não se pagam cachês de apresentações artisticas, não se cumprem contratos e nem convênicos de leis de incentivo, e rir-se ainda da miséria sobrando mortos para todos os lados da cultura, onde gerações de talentos desaparecem antes de aparecer ou então viram zumbis renegados em seu próprio território. E assim sendo seremos e continuaremos a ser um Estado relegado a permanecer no escuro cultural.
É uma vergonha que a cultura e a arte valam cada vez menos em nosso Estado. Gerações de artistas sem ter condições de emergir, por maior esforço que faça, por que participantes, de forma indireta, de um rateio, uma partilha do Estado feita entre grupos de novos ricos, novos companheiros e familias tradicionais que continuam a se perpetuar no poder, fazendo o lado mais turvo da politica. Para que cultura em um Estado que debocha da criação, da inteligencia, do turismo, do lazer e do planejamento? Para que cultura em um Estado que condecora com medalhas de méritos e premia corruptos com cargo público? Claro que não é o Estado que produz cultura e arte, mas cabe ao Estado constitucionalmente propiciar condições e meios de difusão, divulgação e preservação de seus valores culturais.
É apenas um ponto de vista de quem percebe e escolheu o seu campo de atuação. E não se esconde das responsabilidades de uma sociedade carente culturalmente como a nossa. Portanto, na situação em que se encontra a área cultural - com o patrimonio arquitetonico indo ao chão. bibliootecas desatualizadas, casas de cultura pedindo socorro, arquivos púlicos aos pedaços, leis de incentivo que existem mais no papel e uma total falta de visão e de profissionalismo na gestão cultural, não é quem vai exercer o cargo de presidente de orgão oficial de cultura que importa, nem questionar a forma de escolha. Alias, soa estranho como um partido questionou uma escolha que é sua. Já que na partilha dos cargos a cultura foi lhe entregue, nada mais justo que esse partido escolha quem bem entender e arque com a responsabilidade de governar. Só não teráo direito de enlamear o governo que participa com uma má gestão. Repetimos, na atual conjuntura cultural do Piauí, o escolhido para gerir o orgão oficial de cultura bem que poderia ser um carneirinho, um burrinho, umavaquinha ou um macaquinho, com todo respeito aos animais e aos primatas, pouco iria adiantar. Pois não vimos e nem deslumbramos em nenhum momento na esfera do governo a importancia da cultura. Pelo contrario, até parece que ela foi rejeitada.
É só pensarmos na demora em que os gestores públicos de cultura foram alçados aos seus cargos, como se não existisse ninguém preparado para assumir tais funç~es. Onde fica a inteligencia do Estado, pessoa capacitadas e preparadas para exercer qualquer cargo no setor cultural? Com que interesses e objetivos se escolhem gestores de cultura no Piauí? Qual o maquiavelismo por trás disso?Custa acreditar que os objetivos sejam escusos, prefirimos apostar que é para não funcionar mesmo e que a cultura continue de pires na mão. Até compreendemos os éssimos saláris e a doação e a doação que precisa ter quem assume esses cargos, mas isso também foi criado pela própria desvalorização do setor.
Esse retrato cruel da cultura em nosso Estado, podemos exemplificar com o ato de uma promotora pública que acabou com o desfile das escolas de samba de Teresina, usando argumentos fajutos, apagando da memória mais de sessenta anos de tradição. Quem do lado do Estado se posicionou contra? Quem do lado do municipio se posicionou contra? Pelo contrário! Oba, até que enfim acabamos com o carnaval! Uma das mais genuínas tradições culturais, viva! Não parece orquestração? Realmente, vivemos tempos absurdos, e como diria o genial Shakespeare, existe algo de podre no reino da Dinamarca, e nós completariamos, e no reio do Piauí.
O descaso, o obscurantismo e o deboche em que se encontra a área cultural do Estado, deveria ser motivo de indignação. Afinal de contas somos parte de um universo maior. E o que pagamos por isso é imensuravel e irrecuperavel. Temo compromisso com o desenvolvimeno do Estado n concepção mais plena do termo. Então, que o povo da cultura descubra-se, valorize-se e assuma cada vez mais , com responsabilidade e dignidade, a sua verdadeira função no todo do qual é parte - um Estado culturalmente isolado e sumido em um mundo globalizado. Sei que os verdadeiros artistas e produtores culturais já fazem demais, mas que não se cansem e nem se entreguem numa arena de pão e circo, e que façam valer cada vez mais o seu brilhantismo, o seu talento e a sua voz para colocar este Estado onde ele merece, coisa que os politicos e as suas velhas e novas práticas nunca colocaram.