segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O MIADO DO GATO - 4

             Foi quando um dos gatos   invasores da casa de dona Jerusa  amanheceu se arrastando pelo quintal. O miado do infeliz até morrer dava pena. Dona Jerusa, toda contente or dentro, era a primeira a perguntar cheia de piedade o que tinha acontecido com aquele bichano. A principio os filhos não levaram aquilo muito em conta, era apenas um gato vomitando os bofes até morrer. Quem podia saber o que era? Mas a medida que foram aparecendo mais gatos com o mesmo mal começaram as desconfianças. Os gatos morriam da mesma forma, com a boca cheia de baba e vomitando. Dona Jerusa, cheia de cuidados, e numa inocência incomum, ainda tentava salvar os gatos nas suas agonias de morte.

          - Nossa Senhora, o que será isso gente? Perguntava ela numa mistura de interrogação e espanto.

          Com o tempo, e a certeza de que a mãe estava envenenando os gatos, seus filhos continuavam no silencio, numa especie de cumplicidade. O problema era saber como ela fazia aquilo, e uma forma de salvaguarda-la, pois não havia dúvidas que era ela a autora das mortes dos gatos, mas ninguem seria capaz de acusa-la de tamanha maldade. Pedro Carmelo, o filho mais velho, tentava dissuadi-la com muito jeito.

        - Mãezinha, a senhora não está matando os gatos não, não é?

        - 'Tá louco, menino?! Oh, filho ingrato pra pensar isso da mãe!

           Mas as mortes dos gatos continuavam acontecendo. Foi quando aquelas mortes ultrapassaram as quatro paredes da casa. O alerta veio de forma dura do vizinho, seu Ernesto, cuidador dos gatos de rua.

        - Se minha gata amarela amanhecer morta vai cair bala! Dizia ele para qualquer um que quisesse ouvir.

          O panico tomou conta dos filhos de dona Jerusa. Ernesto, o vizinho, sempre fora um senhor calado, rispido, recluso e vivendo sozinho, desde a morte da mulher. Apesar de ser amigo de dona Jerusa e de seus filhos, todos sabiam que ele não era flor que se cheirasse. Quem o conhecia falava cobras e lagartos de seu Ernesto. Um homem mal. Tido como pão duro pelos amigos, mal vestido e fedorento. A única coisa que sobrava do home era seu carinho e cuidado com os gatos de rua. Uma boa ação para alguns, uma maneira de se redimir para outros

          Os filhos de dona Jerusa alertados do perigo, começaram a se preocupar com as ameaças de seu Ernesto. Vai que sua gata amarela aparecesse se arrastando pelo quintal.