segunda-feira, 30 de novembro de 2020

UMA CRÔNICA PARA A MOÇA QUE GOSTA DE FLORES.

               Tão sensível como as pétalas das flores que ela tanto adora, cultiva com carinho e guarda no coração.Falar que é bela, torna-se comum. Vamos apenas dizer dos cabelos longos e pretos, que modulam seu rosto suave, destacando uma boca harmoniosa e sensual, enquanto desce por um corpo de perfeição escultural.Veste-se com esmero e esplendor, evidenciando curvas, não por ousadia de exibição do corpo gracioso, mas por gratidão e alegria por assim poder fazer, e mostrar.

                   Tudo nela é criação divina! E, como se não bastasse, persegue a perfeição em tudo que faz, não se importando se nem tudo na vida seja perfeito. Parece estar sempre sonhando acordada, mas só parece, pois a moça tem os pés muito bem  firme na realidade, muito bem firmes, sim! E assim ela vai conquistando sonhos, e corre veloz não contra o tempo, mas com o próprio tempo.

                   A moça cria personagens. Ela é atriz! Mas também dança com leveza e sedução, porque é uma dançarina! E seu corpo se molda com grande flexibilidade e delicadeza, ela é yoga! E ainda se lança em acrobacias e malabarismos na dificil arte do circo e da corda acrobática.A moça que adora flores e as guarda no coração não cansa de se superar, afinal de contas a vida para ela é uma dádiva de Deus, e devemos aproveitar.

                     Ainda não falamos do sorriso da moça, sorriso luminoso!Em tudo que ela faz transborda vida a cada gesto, o sorriso se espalhando a cada olhar, acolhedor e cheio de generosidade.  O sorriso da moça, tão delicado, pode parecer um enigma, como uma pintura expressionista, que precisamos decifrar.Por tudo isso a moça é amada. Amamos a moça por tudo que ela é! 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A MORTE DO ATOR ANTONIO DE PAULA SILVA, O PALHAÇO BELEZA

 

             A morte de Antônio de Paula Silva, o palhaço Beleza, ocorrida a primeiro de abril de 2002, foi emblemática. Ator e bonequeiro, o artista foi, digamos assim, engulido pela própria terra, quando um quarto de sua casa onde dormia sumiu numa cratera. Mas, o que poderíamos dizer de uma fatalidade tão grande? Fatalidades acontecem, dirão alguns. Mas, como foi acontecer aquilo? Ora, são fatalidades, acontecem e pronto, dirão outros. Senão, não seria fatalidade.

           Muito bem. Está tudo explicado, foi uma fatalidade. Mas, porque com o ator e palhaço Beleza? O artista, que na década de oitenta e inicio dos anos noventa do século passado, lotava o Theatro 4 de Setembro fazendo a alegria de milhares de crianças; o artista rebelde que criticava orgãos culturais e entidades representativas dos próprios artistas; o artista que vivia de vender seus bonecos em avenidas e praças; enfim, o artista que bebia a vida em grandes goles, literalmente. Isso pode ter explicação: Beleza foi engulido pela terra que tanto ele amava.

             Perceberam a metáfora? Entenderam por que foi tão emblemática sua morte? O que é feito com os artistas de nossa terra? Como é que se trata a arte nesse Estado? No caso de Beleza, não foi suicídio, mas bem que poderia ter sido. Porque seu talento foi o tempo todo vilipendiado, massacrado e posto de lado. Não pelas crianças que o amavam tanto. E, aqui, não vamos confundir o homem com o artista e criador, o homem com sua arte, pois é assim que muitos artistas locais são tratados: se não se enquadram morrem a míngua ou são engulidos pela terra. Uma perversidade do Estado e do município, onde os orgãos culturais, criados para o amparo e o incentivo à arte, são meros gestores de prédios públicos e administração de funcionários, muitos deles inéptos. Se bem que se fizessem isso com competência, ainda vá lá. Também, não se trata de dar emprego a artista, mas trabalho, renda, respeito, dignidade.

         Beleza não se enquadrava. Era um artista do desalento, de imensa competência em sua àrea. Era um dos melhores bonequeiros do país e um palhaço excepcional. Gritava, mas não era ouvido. Não se enquadrava em guetos, grupelhos, que hoje imperam na cultura piauiense. Quantos artistas gritam, mas não são ouvidos? Não estamos falando aqui daqueles que gritam em favor do próprio umbigo. Mas, do artista engajado na sua arte, produtor do belo. Estes não são ouvidos, por que na gestão cultural impera a lei do nada: nada de novo, nada de ousadia, nada de gritos, nada do contra, só a política dos iguais e a economia do resto. Que beleza poderia ter sido o palhaço Beleza, amparado e incentivado pelo seu talento, levando e espalhando alegria para todos nós.

            Beleza se foi há muito anos e sua morte, engulido pela terra que tanto amou, nos fortalece e nos dá a certeza de que precisamos lutar cada vez mais para que nossa arte seja valorizada, e nossos artistas não continuem sendo engulidos pela terra.

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

ESTADO, SOCIEDADE E CULTURA

                                                                 Jornal O Dia - 05 de novembro de 1991


                Neste dia cinco de novembro, reservado as comemorações culturais, poderíamos despejar um leque de lamentações a toda sociedade, pois bastaria a colocação: a cultura piauiense tem alguma coisa a comemorar no seu dia? Poderíamos até lembrar alguns eventos como a Semana dos Folguedos, o Salão Internacional do Humor, e outros de pequenos portes, mas como o próprio nome diz são eventos, somem com o próprio vento. Decididamente a cultura não pode viver somente dessas promoções, pois torna-se um circulo vicioso. O que fazer?

                A nova Constituição do Brasil reafirma e amplia a responsabilidade do Estado na questão cultural, principalmente no tocante aos documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens e os sítios arqueológicos. Se a própria Constituição define o papel a ser desempenhado pelo Estado, deve-se considerar que a cultura em geral e a arte em particular só se desenvolve em clima de liberdade. Na medida em que o artista goze de autonomia, a criatividade nas artes alcança a sua expressão mais elevada, portanto, não cabe ao Estado produzir cultura, mas sim criar condições necessárias para o seu desenvolvimento. Ao viver somente de eventos os orgãos culturais estão desenvolvendo e estimulando a cultura? Os eventos vivem por si só? O que dizer do dia-a-dia da cultura? Onde está o incentivo ao teatro, a música, ás artes plásticas, a literatura?

               Reafirmamos que ao Estado não cabe produzir cultura, mas sim criar condições para que ela se desenvolva, e entende-se como criar condições ao desenvolvimento cultural a atuação do Estado em vários aspectos. Para isso é fundamental a vontade política de investir na cultura.O investimento em todas as áreas é gerador de riquezas e desenvolvimento, de recursos e empregos. Porque não  estimular e valorizar a formação de profissionais para atuação nos vários segmentos culturais?

                É verdade que a participação da sociedade. como um todo, é fundamental para o avanço da cultura. Agora é preciso que os administradores culturais planejem com seriedade, que formem uma consciência cultural voltada para a participação não só da sociedade civil, mas dos agente públicos, com convencimento da iniciativa privada. Isso só se faz com seriedade. Cultura não é artigo supérfluo. Como o feijão, ela é necessária todos os dias.