Quando eu era bem criança, bem
criança ainda, ouvi minha mãe rezar – “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por
nós...”. Foi a primeira vez que ouvi o nome de Santa Maria. Então, pensei que
só existia uma santa: Santa Maria, a mãe de Deus!
Virei menino, e descobri que
existiam muitas santas. Descobri isso convivendo com minha mãe. Tantas santas! Era
Santa Luzia, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Santa Madalena, Nossa
Senhora da Conceição, Santa Teresinha...eram tantas! Fui criado sem a presença
de meu pai, sem os olhos e a face de meu pai, sem os seus carinhos, sem o seu
amor e as suas lágrimas; fui criado sem os conselhos, sem a retidão e o suor do
trabalho de meu pai. Mas tudo isso, e
muito mais, tive de minha mãe. E o suor, o cansaço e a fadiga do trabalho, e as
lágrimas que ela derramou, de forma incondicional, para me tornar um homem, foi
o que me fizeram pensar, cheio de paz e
gratidão, que além de todas aquelas santas da minha meninice, existia outra
santa – minha mãe!
Mas minha mãe era uma mulher,
pensei. Mas as outras santas não eram mulheres? Claro, mas nem todas as mulheres
eram santas, ainda que na minha cabeça, minha mãe continuava sendo uma santa. E quando me tornei um homem, com toda minha
formação de ética, e de caráter, herdado de uma mulher, passei a admirar as
mulheres e a respeitá-las. Não. o respeito do temor, não a admiração da
idealização, mas o respeito pelo que as mulheres representam no meu imaginário:
a sabedoria, a perspicácia, a fortaleza.
A beleza e a inteligência me
fascinam, nesse ser ás vezes inigmático,
indecifrável, cheio de nuances. E a beleza aqui não é a beleza física, o belo
em si, mas a força do ser. E a fascinação pela sabedoria delas me faz pensar no seu poder de convicção, na
certeza de seu papel no mundo. Mesmo porque, na minha imaginação, se a mulher
não existisse qual o mundo que existiria?
E nesse mundo tão cruel, em que as mulheres são mortas e violentadas, no
seu direito sagrado de ser apenas mulher, fico perplexo com tanta estupidez
humana. Como ser humano, e homem, vindo ao mundo e criado por uma mulher, no
esforço do seu trabalho e no amor dela pelos seus semelhantes, posso com
convicção engrossar o coro dos descontentes com tamanha barbárie. Nunca o homem
foi tão lobo do homem.