Fitou um bom tempo o retrato, olho no olho. Tornou a olhar as horas. Marcos parecia não vir.
A ansiedade era imprópria do seu ser. No entanto, aquele era o seu primeiro teste individual, ditado pela outra dimensão. A dimensão das trevas.Procurava, portanto, tranquilidade em cada gesto dado. Mas o tempo passava e Marcos não vinha. Claro, que o tempo poderia ser recuperado, só os bobos não sabem disso. No entanto, ele queria dar uma demonstração de poder. Marcos tinha de ser conquistado de livre e espontânea vontade, somente assim ele não ficaria responsável pelo seus atos. Queria o amigo do seu lado como um cão fiel, e assim demonstraria para todos o seu poder de sedução. Virou repentinamente para o outro lado da cama. Seus olhos foram diretos no pequeno resto do cigarro no chão. Sobressaltou-se pela visão caótica que vislumbrou. O amigo Marcos envolvido na fumaça em espiral se perdendo no infinito do mundo sombrio.debatia-se aos gritos, a mente em recusa, o corpo ardente, consumindo-o.
. Levantou-se. Correu para a porta e encontrou a empregada, cheia de aflição.
- O telefone...
Pegou de vez o aparelho. A voz do outro lado desesperada:
- Uma desgraça, venha imediatamente! Por favor...
Saiu quase correndo. As visões, a fumaça. Tinha que chegar a tempo.
A casa do amigo estava em silencio. Foi recebido pela mãe que tinha o olhar cheio de dor.
- Ele mandou chamar você. Não quer falar com mais ninguém...
- Eu sei...
O quarto era simples como o dele próprio. A cama de solteiro. A imagem esculpida em argila da figura diabólica colocada em um canto fazia a composição com posters gigantes de figuras importantes da humanidade. Marcos tinha o olhar perdido num ponto qualquer. Ajoelhou-se a seu lado e segurou sua mão. Pediu a mãe do rapaz que saisse do quarto. A fumaça do cigarro ainda era visivel no ambiente. De olhos nos olhos, sentiu a serenidade do amigo como nunca sentira antes. ficou em silencio a observá-lo.
O negócio é atravessar a primeira fronteira. É muito dificil e poucos conseguem por conta própria. Sentiu que não precisaria guiar mais o amigo, de agora em diante seguiriam a mesma jornada , numa união ainda maior em busca do bem. Venceriam as trevas.
O amigo tinha vencido a primeira prova, e ele tinha demonstrado todo o poder de sua mente. O mundo estava a seus pés. Sabia da luta intensa que teria que travar, mas afinal tinha conquistado mais um para o reino das trevas. O combate tinha que ser naquele mundo do mal.