sábado, 18 de abril de 2015

O QUE QUEREMOS


           O tema da identidade cultural é recorrente quando discutimos cultura, inclusive, para podermos avançar para outra questão - o que queremos.
           A reflexão é, por demais pertinente, quando estamos dialogando sobre as atividades artística - culturais, parte prática da cultura. A pergunta, então, viria direta - qual a identidade cultural do Piauí?Muitos haverão de questionar que esse é um tema passado, fora de propósito, e que está um tanto fora dos diálogos culturais. Depois outros dirão em que um mundo globalizado discutir identidade cultural pode engesar, imobilizar o próprio desenvolvimento da cultura, ou ainda que se está fugindo da modernidade de novas tendências que povoam a cada segundo a aldeia global, onde tudo se pode.
             Penso que por isso mesmo o tema seja tão instigante e tão interessante. Em relação a identidade cultural do Piauí podemos dizer que é o único Estado onde os tambores da criação batem iguais a todos os outros. Não temos diferencial algum. A nossa música, o nosso teatro, a dança, a literatura, são iguais a todas as outras. Iguais? Talvez seja o modo de dizer, mas na realidade nem podemos fazer essa comparação, pois nessa arte ainda não saiu da invisibilidade. O que, convenhamos, a torna incomparável á outros Estados no sentido do conhecimento. Claro, não se pode comparar aquilo que não se conhece. E aqui colocamos que a invisibilidade, esse desconhecimento de nossa arte, essa não quebra de barreiras venha, exatamente, por querer se igualar a todas as outras. E isso, no fundo, pode gerar imitação, o que podemos estar criando apenas a imitação da imitação. O que não leva a nada.
             Mas muitos dirão ainda para que identidade cultural se somos uma metrópole nova, somos uma cidade cosmopolita, cidade em construção, em constante mudança? Com esse argumento acabam-se com as tradições culturais; derruba-se o patrimônio histórico, e termina-se enterrando qualquer tentativa de criação de um diferencial.
              Vamos dizer que se respondessemos a pergunta, o que somos, o que convenhamos é difícil, poderíamos responder a primeira questão - o que queremos. Muito simples, seria como dizer eu sou um ator, eu quero ser um ator, essa é minha profissão. Então, tudo aquilo que for bom para a minha profissão é o que eu quero, tudo aquilo que for bom para a classe artística eu vou defender. Pronto, na definição do que sou está aquilo que eu quero.
                Para nós é um ponto crucial. Se não sabemos o que somos, não sabemos o que queremos, e se não sabemos o que queremos, como definir uma pauta de discussão cultural? Uma pauta compatível com os desejos coletivos, com as lutas por melhores políticas públicas de cultura e com os objetivos que queremos atingir?
                O que não podemos é continuar nessa tarefa inglória de construir sonhos fora da realidade prática, o que não podemos é continuar nesse eterno retorno. Nessa eterna invisibilidade, pelo simples fato de não queremos amadurecer. De não querermos encarar de vez o que queremos, e lutar por isso.   Dessa forma  continuaremos apenas a lamentar a sorte de,também, ter  nascido em um Estado invisível para o país e para o mundo.