segunda-feira, 27 de julho de 2009

ADEUS, MINHA BELA TERESINA

Estou sendo saudosista com este artigo, com absoluta certeza e, também, com absoluto prazer. O centro de Teresina, minha bela e querida cidade, está ficando desfigurado, feio, cheio de vazios que a fazem sem vida. Semana a semana uma casa de sentido histórico vai ao chão, sem pena e sem dor. E nós ficamos mais pobres de identidade, de sentidos, procurando no pensamento ao menos uma resposta para tanta insanidade. Claro que existem milhares de respostas, mas nós não queremos escutar as respostas que inventam. A nós, amantes dessa cidade e de sua história, gostaríamos mesmo era que ela continuasse com seus casarões particulares, de onde ela começou e de onde gerou sua gente, suas histórias e nossa herança cultural.
Quando eu fui diretor de arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, da Prefeitura de Teresina nos anos 90, precisamente de 1993 a 2000, foi feito um levantamento completo de todas as casas, monumentos e prédios históricos da cidade. Um trabalho primoroso feito com todo rigor e dentro dos parâmetros de arquitetura e urbanismo. Lembro que o profissional contratado para o trabalho o fez, muitas vezes, durante a noite para não vazar exatamente o seu trabalho, pois serviria para catalogação e preservação histórica. Milhares de fotos foram batidas das casas, prédios e monumentos da cidade, o que gerou uma documentação guardada pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves a sete segredos. Coitados de nós. Quando a documentação foi para a Prefeitura de Teresina as casas começaram a cair de uma por uma. Longe de mim qualquer ligação, mas a coincidência foi incrível. Lembram? O centro de Teresina começou a despencar de uns dez anos para cá.
O que nos deixa tristes e impotentes diante de tanta barbárie pela ganância especulativa, é a indiferença de muitos. A gente escuta de pessoas formadoras de opinião de que Teresina é novinha em folha, portanto, não tem ainda memória histórica. Para que conservar casas velhas, prédios velhos caindo aos pedaços apenas de 150 anos? Vai ter memória histórica quando, então? Dessa forma, infelizmente, nunca. Outros, usando de uma bobice sem tamanho a taxam de cosmopolita. Cidade de passagem, onde o novo mais novo do mundo globalizado está aqui no outro dia. Somos antenados mais do que os outros. É tanto que não damos valor ao que é nosso: ao nosso cantor e compositor, ao nosso bailarino, ao nosso artista plástico, ao nosso teatro, aos nossos literatos, ao nosso futebol, ao nosso bumba-meu-boi, ao nosso folclore. Claro, estamos derrubando tudo. Queremos tudo no chão e que nada se levante, só assim podemos louvar e amar ainda mais o que é do outro. Falta a muitos a percepção de que o outro guardou, e vende caro a nós mesmo aquilo que é deles e que eles louvam e amam.
O exemplo que nos deixa de cabeça baixa está em nossa própria região.Vamos aos estados do Maranhão, onde o centro histórico está totalmente preservado e faz um bem danado você andar à noite e ver dezenas de barzinhos abertos em frente a belos prédios e casarões, onde artistas encantam e cantam seus ritmos e folguedos: O Estado de Pernambuco, com seu Recife velho fazendo um contraponto com o Recife novo: A Bahia, onde o pelourinho destila história e cultura por seus corredores pintados de cores fortes e iluminados, e o Ceará, bem aí, onde o Complexo do Dragão do Mar faz convergir em um mesmo espaço a diversidade cultural em todos os sentidos. Nós, aqui não. Somos os tais, os maiores do mundo, não precisamos de história, muito pior de identidade cultural, ainda mais de simples casarões e prédios velhos a atrapalhar o progresso! Progresso que vem em quatro rodas - e tome carros em lugar de gente. Daqui a pouco Teresina será um grande estacionamento. E nós, que gostamos tanto dessa cidade, estaremos enjaulados e condenados a viver de lembranças. Lembranças? Não, para ser melhor, de banzo. Nunca mais veremos Teresina nenhuma.

O INCRÍVEL MANTO DO SILÊNCIO

O incrível do titulo foi escrito por que eu gosto da palavra incrível. Ela dar um charme todo especial. O leitor interpreta da forma que melhor entender. Para mim o fato foi incrível, de todos os ângulos. E eu tinha que escrever sobre isso. Vamos a ele.
O 26º Salão Internacional de Humor do Piauí aconteceu de 01 a 07 de julho passado, apesar de uma grande torcida contra. Torcida esta que está sempre aposta quando se trata de elevar a nossa auto-estima, quase sempre formada por uma pseudo-burguesia ou por um bando de pessoas que bocejam ao menor sinal de vida inteligente. O Salão é realizado pela Fundação Nacional do Humor, dirigida pelo Albert Piauí que, diga-se de passagem, luta desesperadamente contra todos os tipos de obstáculos. O Salão, já na sua maioridade, até parece um eterno recomeço na sua realização. Falta de profissionalismo? Falta de planejamento? Falta de parcerias? Falta de direcionamento? São várias as perguntas, mas não é sobre isso que queremos falar. Ainda que a torcida contra faça questão de dizer que é falta de tudo isso, e muito mais.
Gostaríamos de colocar que o Salão Internacional de Humor do Piauí é um dos únicos eventos culturais do Estado a nível nacional. Acho que só existe com tamanha envergadura ele e o Encontro Nacional de Folguedos, este promovido pelo governo do Estado. Isto posto, dar margem para o que vamos dizer em seguida. O Salão Internacional de Humor do Piauí é imprescindível para que a cultura piauiense permaneça no calendário cultural do Estado. Portanto, lutar pela sua permaneça se faz mais do que necessário, é quase uma imposição. Qual o povo que não gosta de ser visto, apreciado e elogiado pelos outros povos?
Há vinte e seis anos acompanho o Salão internacional de Humor do Piauí, inclusive, já dirigi, no Theatro 4 de Setembro, um de seus espetáculos de abertura numa de suas edições. Portanto, já vi de tudo acontecer em torno dele, à frente, atrás e dos lados. Posso dizer espantado que o episódio acontecido nesta sua 26ª edição vai para a galeria dos acontecimentos sombrios: as obras de alguns dos maiores artistas plásticos piauienses foram retiradas na calada da noite do passeio da avenida Frei Serafim, coração de nossa bela cidade. Qual o motivo? Segundo nota da Prefeitura de Teresina, estavam em desacordo com as normas técnicas do passeio público. Normas técnicas no passeio público para exposições de obras de arte já soa estranho, mas até aí tudo bem. Quixotesco mesmo, grotesco, ridículo, bizarro e horroroso foi a forma de retirar as obras.
A Prefeitura de Teresina, conduzida tão bem há quase vinte anos pelo mesmo partido, parece decidir tudo sozinha em nome de todos. Diga-se decidir tudo em nome de todos, o senhor prefeito municipal. O prefeito manda, os subordinados fecham os olhos e obedecem. Nada mais correto do ponto de vista político, mas talvez politicamente incorreto do ponto de visto ético. Aqui não é obedecer cegamente, é obedecer burramente. E, convenhamos, nem tudo se obedece burramente. Ora, a Prefeitura tem seus secretários, seus superintendentes, seus diretores e assessores especiais, e, neste caso, tem uma fundação de cultura municipal - A Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Portanto, um elo de ligação entre aqueles que produzem arte e o poder público. Pelo menos era para ser assim. Até que perdoamos um superintendente de desenvolvimento urbano da cidade que manda jogar obras de arte em cima de um caminhão em plena madrugada. Não era para perdoar, mas o fazemos em nome do bom senso: eles são incapazes de diferenciar arte de lixo. Agora fica difícil acreditar na falta de dialogo entre o presidente de uma fundação cultural da cidade e um produtor de cultura, ainda mais quando esse produtor cultural é o presidente de outra fundação - A Fundação Nacional de Humor e, ainda mais além, quando a Fundação Monsenhor Chaves é dirigida por um dos mais digno e ilustre homem de cultura do nosso Estado, o Professor Cinéas Santos. Dessa forma, a falta de diálogo que marcou o episodio foi de um mau humor sem fim. Em pleno Salão de Humor.
Mesmo que o prefeito tenha proibido terminantemente a exposição e determinado ao tal superintendente retirar as obras de arte da Avenida Frei Serafim, não custava nada o presidente da fundação cultural do município ter entrado em contato com a direção do evento e combinado a retirada das obras. Mas não, as coisas não aconteceram dessa forma. Se o prefeito quis, se vire com ele. Não temos nada com isso. Não temos? E a criação artística, a expressão livre da palavra, do pensamento e das obras de arte não são princípios a serem defendidos por uma fundação cultural?
O fato foi de uma barbeiragem impressionante. Foi incrível! O prefeito teria que ter tido um interlocutor, não é para isso que existem os cargos de confiança na prefeitura? Quer dizer que sua excelência trata tudo pessoalmente? Custa crer, mesmo por que nem tempo ele teria. Portanto, o que custaria um telefonema, um aviso, um encontro em nome do prefeito para acertar e deixar tudo bonitinho? E por que retirar as obras na calada da noite? Foi especial por que se tratava de um evento cultural a nível nacional? Ou seriam velhas rixas com o parceiro presidente da Fundação Nacional de Humor? Novamente custa crer. Sua excelência não seria capaz de tanto por tão pouco. Vamos acreditar que foi mesmo em nome de normas técnicas ou que não houve tempo para o dialogo ou mesmo que não se discutiu o bom senso por falta de bom senso, e as obras deixaram de ser vista pelo público lá onde elas ficariam mais interessantes de serem vistas. Tudo aquilo ficou difícil de digerir, principalmente em se tratando de cultura, que não é privilegio de ninguém, no entanto, é uma área tão necessária para a cidade quanto gente em primeiro lugar.
O mais grave para mim, por tão grave que tenha sido a retirada das obras daquela forma, foi a falta de ligação entre o senhor prefeito e o artista Albert Piauí, e essa ligação teria que ter sido feito via Fundação Cultural monsenhor Chaves. Pois do jeito que a coisa foi feita parece teimosia de iluminados e só quem saiu perdendo foi a cultura. Com todo respeito que tenho ao ilustre professor Cinéas Santos, mas de outra vez abra o dialogo com o prefeito e, então, os velhos amigos não passarão a ser inimigos, e a arte e a cultura não passarão a fazer mal à cidade, e o silencio jamais prevalecerá em nome de uma nesga de poder. Me perdoem meus queridos amigos que exercem o mando nos órgãos oficiais de cultura, o mínimo que se exigiria em momentos como aquele seria uma palavrinha na defesa, senão dos artistas, mas de suas obras.