domingo, 26 de março de 2017

AOS CRIADORES, NO SEU DIA


                 Quero falar para todos aqueles que amam o teatro, especialmente para a minha classe. Amanhã, dia 27 de março, é o dia mundial do teatro. O teatro foi a profissão que escolhi para viver, desde o dia em que me dei conta de que era isso que eu queria fazer. Sem fazer teatro, o meu tempo não teria vida.
                 Homens e mulheres do nosso tempo. Criadores do amanhã e do prazer de sonhar, que usam a inteligência para o bem da vida, denunciam a arrogância e o mal, lutam pela paz e o direito de todos; Denunciam a intolerância e tentam esbarrar a violência. Vamos dar as mãos, os homens gritam por socorro e a natureza clama em desespero. Lembrem-se depois dela não há nada. Por isso o momento exige mais do que palavras. A vida precisa urgentemente viver!
             Nós, pessoas de teatro, resistimos a todas as investidas do tempo, maldades e diabruras, perseguições e invisibilidade. No entanto, atravessamos tudo, e resistimos no nosso ofício de representar, de escrever, dirigir, iluminar, vestir, criar lugares e produzir, sempre transbordando energia de viver. 
                 As personagens nos acompanham, santas ou bruxas, deuses ou demônios, presas a seus costumes, dogmas ou ideologias, ou livres de qualquer forma de opressão. Cobram, sugam, exploram-nos, deixam-nos vazios quando se vão. Mas um vazio supremo de ter convivido, gestado e colocado no mundo, para o prazer de tantos e o ódio de outros tantos, criaturas que só nós, na condição de criadores, temos o livre arbitro sobre elas. Por isso fazem de nós, muitas vezes, um outro, ás vezes mansos, ás vezes loucos, diante de tanta barbárie! 
                    Assim no nosso oficio, apesar de tudo,  amamos, compreendemos, e somos generosos, pois temos compromissos com a humanidade. E se sorrimos do mundo, e de nós mesmos, é por que somos criadores e, como o criador supremo, estamos aqui para amar a todos. Viva o nosso dia! 
 

quarta-feira, 1 de março de 2017

A TRAGÉDIA DO GÓLGOTA

   

                  A Tragédia do Gólgota foi o primeiro grande espetáculo sobre a paixão de Cristo apresentado em Teresina. Era dirigido por Santana e Silva, na sua primeira versão, depois por Ary Sherlock e Santana e Silva, na sua segunda versão, no inicio dos anos 1970, com grande elenco de atores piauienses. Foi também o primeiro espetáculo de teatro que assisti, e fiquei encantado.
                  No ano de 1969, fazia o  curso ginasial no Colégio Helvidío Nunes, e meu passatempo era ler e colecionar revistas de Tarzan e ler um gibi chamado K.O.  Durban, sobre um agente secreto que tinha sete mulheres, uma para cada dia da semana. Achava aquilo perfeito. Costumava ir ao Cine-Rex e Cine-Theatro 4 de Setembro, tanto para assistir filmes como para vender e trocar revistas do Tarzan e do Zorro, principalmente. Era como uma religião. Eu adorava filmes, e roubar cartazes de filmes. Tinha vários, surrupiados em plena noite, num rasgo de adrenalina. Claro, para tanto eu contava com um amigo de adolescência inseparável, o João Leandro. Figura carismática, brincalhão, meio louco, e que me ensinou a tomar optalidon, mandrix, anfetaminas que deixavam a gente mais forte que cimento.
                  Assisti A Tragédia do Gólgota no Cine-Theatro 4 de Setembro, enfrentando uma imensa fila de pessoas para a segunda sessão da noite. Não estava muito eufórico por que era teatro, uma coisa que eu nunca tinha visto, mas enfim, os amigos iam assistir e a cidade comentava o espetáculo. No elenco tinha Tarciso Prado, Ana Maria Rego, Ary Sherlock, José da Providência e, também, meu irmão Assaí Campelo. As pessoas que citei aqui todas, naquela época, faziam parte do teatro amador do Piauí, e iriam futuramente fazer parte da própria  história do teatro piauiense. Todas também se tornariam meus grandes amigos.
                  Ao assistir aquele espetáculo me encantei com uma cena linda, era o sermão da montanha, representada por Ary Sherlock, que interpretava Jesus Cristo, um monstro sagrado do teatro cearense que veio morar uns tempos no Piauí, e aqui continuou sua tragetoria de sucesso no teatro. O Ano era 1971, e foi o último ano da Tragédia do Gólgota no velho Cine-Theatro 4 de Setembro, pois logo depois ele entraria em decadência total e seria fechado pelo governo do Estado, para reforma. A Tragédia do Gólgota ficou marcada na minha memória. Talvez ali tivessem,mesmo sem saber, sido conquistado pelo teatro.