terça-feira, 15 de junho de 2021

A MORTE DE ANTONIO DE PAULA SILVA, O PALHAÇO BELEZA

 

            A morte de Antônio de Paula Silva, o palhaço Beleza, ocorrida a primeiro de abril de 2002, foi emblemática. Ator e bonequeiro, o artista foi, digamos assim, engolido pela própria terra, quando um quarto de sua casa onde dormia sumiu numa cratera. Mas, o que poderíamos dizer de uma fatalidade tão grande? Fatalidades acontecem, dirão alguns. Mas, como foi acontecer aquilo? Ora, são fatalidades, acontecem e pronto, dirão outros. Senão, não seria fatalidade.

           Muito bem. Está tudo explicado, foi uma fatalidade. Mas, porque com o ator e palhaço Beleza? O artista, que na década de oitenta e inicio dos anos noventa do século passado, lotava o Theatro 4 de Setembro fazendo a alegria de milhares de crianças; o artista rebelde que criticava orgãos culturais e entidades representativas dos próprios artistas; o artista que viveu,  nos últimos anos de sua vida,  de vender seus bonecos em avenidas e praças; enfim, o artista que bebia a vida em grandes goles, literalmente. E sonhava com plateias lotadas como fazia em seus espetáculos. Isso pode ter explicação: Beleza foi engulido pela terra que tanto ele amava.

             Perceberam a metáfora? Entenderam por que foi tão emblemática sua morte? O que é feito com os artistas de nossa terra? Como é que se trata a arte nesse Estado? No caso de Beleza, não foi suicídio, mas bem que poderia ter sido. Porque seu talento foi o tempo todo vilipendiado, massacrado e posto de lado. Não pelas crianças que o amavam tanto. E, aqui, não vamos confundir o homem com o artista e criador, o homem com sua arte, pois é assim que muitos artistas locais são tratados: se não se enquadram morrem a míngua, ou são engolidos pela terra. Uma perversidade do Estado e do município, onde os orgãos culturais, criados para o desenvolvimento e o incentivo à arte, são meros gestores de prédios públicos e administração de funcionários, muitos deles inéptos. Se bem que se fizessem isso com competência, ainda vá lá. Também, não se trata de dar emprego a artista, mas trabalho, renda, respeito, dignidade.

         Beleza não se enquadrava. Era um artista do desalento, de imensa competência em sua àrea. Era um dos melhores bonequeiros do país e um palhaço excepcional. Gritava, mas não era ouvido. Não se enquadrava em guetos, grupelhos, que hoje imperam na cultura piauiense. Quantos artistas gritam, mas não são ouvidos? Não estamos falando aqui daqueles que gritam em favor do próprio umbigo. Mas, do artista engajado na sua arte, criador de coisas belas ou estranhas para o deleite de todos.. Estes não são ouvidos, por que muitas vezes não contam para a  gestão cultural, onde quase sempre impera a lei do nada: nada de novo, nada de ousadia, nada de gritos, nada do contra, só a política dos iguais e a economia do resto. Que beleza poderia ter sido o palhaço Beleza, amparado e incentivado pelo seu talento, levando e espalhando alegria para todos nós.

            Beleza se foi  engolido pela terra que tanto amou. E o buraco que o engoliu serviu de sepultura. Sua casa era uma tapera numa invasão de terra.  São essas coisas que nos fortalecem e nos dão a certeza de que precisamos lutar cada vez mais para que o artista local seja valorizado e a nossa arte seja fortalecida, só assim, talvez, nossos artistas não continuem sendo engolidos pela terra.

                                                                             Artigo de 2002

 

 

 

 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

A CRIAÇÃO DA ORQUESTRA DE CÂMARA DE TERESINA

               No ano de 1993, começava uma nova administração na Prefeitura Municipal de Teresina. Era a segunda gestão do Professor Waall Ferraz a frente do município. Para assumir a Fundação Cultural Monsenhor Caves foi designada sua mulher, Dona Eugênia Ferraz. A cultura em Teresina viveria um novo boom.

                  A Coordenação de Música do orgão ficou a cargo de Aurélio Melo. No inicio do ano foram descobertos vários instrumentos de música clássica  no almoxarifado da Fundação, como Violinos, Violoncelos e Contrabaixos. A grande pergunta era porque os instrumentos não estavam sendo usados. Claro, custava caro manter um grupo musical nesse nível. Foi então pensada a criação da Orquestra de Câmara de Teresina. O Projeto de implantação da Orquestra foi feito para o Fundo Nacional de Cultura, do Ministério da Cultura. Aprovado o Projeto, passou-se para sua execução.

                    Para dirigir o projeto de criação de Orquestra de Câmara de Teresina foi contratado o Professor Emmanuel Coêlho Maciel, natural de Belo Horizonte e radicado em Teresina desde o ano de 1976, quando veio participar da equipe de implantação do Departamento de Educação Artistica, da Universidade Federal do Piauí. O maestro Emmanuel Coêlho era um eximio violonista, arranjador e regente. Como regente substituto foi contratado o professor de Violino e Contrabaixo Victor EmmanuelMaciel, filho do maestro Emmanuel, e como assistente, o professor de violino e viola José Mendes.

                   No inicio da Orquestra foram selecionados 16 bolsistas, alunos de escolas públicas na faixa etária de 16 anos. Os ensaios da Orquestra de Câmara de Teresina se davam em locais aind não definidos como sua sede, pois nem a Casa da Cultura de Teresina tina sido ainda inaugurada. O certo é que começaram os ensaios ainda no mês de maio de 1993. 

                   Professor Wall Ferraz lançou o desafio ao maestro Emmanuel para que a Orquestra fizesse sua estreia em agosto daquele ano,, no aniversário de Teresina. Quando seria inaugurada a reforma da nova Praça Da Costa e Silva, ao lado da Cepisa. o maestro topou, e passou a trabalhar para isso. No entanto, o prefeito tinha suas dúvidas se a Orquestra estaria mesmo preparada na data.Lembro que  um dia, a tardinha, a Orquestra de Câmara ensaiava no Teatro de Arena, na Praça Marechal Deodoro, e o professor Wall foi convidado a ver o ensaio. a Orquestra tocou a música asa Branca, de Luiz Gonzaga e emocionou o prefeito.

                 No dia 16 de agosto do ano de 1993, a Orquestra de Câmara de Teresina fez sua estreia na inauguração da Praça. Foi um momento de triunfo e emoção. Passado esse tempo todo a Orquestra se transformou. Hoje é a Orquestra Sinfonica de Teresina, um orgulho para a cidade e o Piauí.