Nestes tempos sombrios, de pandemia e
restrições, vou me dirigir àqueles que, como eu, escolheram o palco ou o
picadeiro como profissão, e conhecem profundamente o que é isso. Cada um
comemora este dia como queira, se há alguma coisa para comemorar. Mas sempre
há, nem que seja de forma virtual, com expectadores imaginários, ou comemorar a
própria vida. Distanciados um dos outros pelas circunstâncias, coisa terrível
para nós, por que gostamos de público,
de sorrisos e de abraços, ficamos a refletir.
Refletir sobre as
dificuldades imensas de produzir espetáculos; Sobre Grupos, Coletivos e
Companhias de teatro e de circo morrendo pelas tabelas; Trabalhadores de teatro
e de circo, na sua maioria, sem perspectiva e sem horizontes de trabalho; A
falta de formação superior da classe, onde não possuímos um curso superior na
área; Sim, precisamos refletir. Sobre a inexistência de programas e projetos
consistentes para o teatro e o circo no Estado e no Município; Sobre o
isolamento cultural, onde os palcos ficam vazios e ás escuras, por falta de
espetáculos de fora; Falamos de espetáculos de qualidade, não de enganação da
cena. Sobre a falta gritante de público,
onde tudo tem de ser de graça. E assim produtores e artistas padecem no paraíso!
E ainda vem uma pandemia e isola criadores e suas criaturas, trancados! Como
sobreviver a isso tudo? Dirijo-me, principalmente, aos artistas e produtores,
que como eu labutam a dezenas de anos nessa profissão. Mas também dirijo-me aos
novos artistas de teatro e de circo que escolheram seguir essa trilha. E, para
eles, um recado, aprendam, se fortaleçam e se alimentem da profissão. E sejam
solidários aqueles que abriram caminho, e abram caminhos.
Dia de refletir? Sim! Um dia para refletir
tudo o que se disse acima, e um dia para se perguntar por que acontece tudo
isso. É bom pensar que não sentamos em mesas de grandes negócios e nem temos
câmaras de arte e culturas em nossos parlamentos, de forma concreta. Bom pensar
também que somos necessários a toda a humanidade, que sonha e se deleita com
nossas criações. Mas somos a parte mais frágil da cadeia no sentido da
sustentabilidade. A maioria absoluta dos grupos e coletivos de teatro padece de
ações, e o circo está na lona, isto é, no chão literalmente. E os festivais de
teatro, as mostras e as iniciativas do setor? Também, na lona a procura de
saídas, ás vezes desesperadas.
Refletir,
sim, sobre a despolitização do movimento, o medo e o pavor de se expor, quando
se trata de reivindicar politicas públicas de cultura seja do município ou do
estado, e aprofundar debates local sobre o tema. Onde muitos preferem se isolar,
e se enterram em egos, sem se permitir sequer serem questionados. Ou, então,
fazem trincheira em redes sociais ou
batem panelas e soltam gritos, dividindo-se em esquerda e direita radicais,
contra ou a favor. Denegrindo, muitas vezes, o amigo de classe, esquecendo-se
que o inimigo não somos nós, e de que todos tem livre arbítrio, inclusive, os
próprios. No meio disso tudo uma
multidão invisível, sem esperança, apenas assistindo o duelo e, talvez, se
perguntando - onde vamos parar? E nós, do teatro e do circo, que precisamos
sobreviver de nossa arte, a nos perguntar, onde vamos parar, em um estado de
mais de três milhões de habitantes e numa cidade de mais de oitocentos mil, que
não conseguem as condições mínimas de sobrevivência para seus artistas. Isso é necessário reflexão.
Resistir. É o que todos nós do teatro e do
circo temos feito. Ainda mais em tempos negros e sombrios. Resistir é a palavra
chave para este dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo. Resistir,
em todos os seus aspectos. Lutar coletivamente, dar as mãos e ser solidário uns
com os outros, mesmo confinados momentaneamente por uma pandemia. Ser pessoas,
ser gente, ser artistas. Resistir e continuar
lutando com todas as nossas forças para sairmos dessa situação de palcos vazios
e sem luz. A criação é a nossa prova dos nove, mas precisamos viver plenamente
para transmitir alegria. Palavra de todos nós, resistência!