quinta-feira, 12 de março de 2020

JÔNATAS BATISTA - CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO DRAMATURGO.


                                                             (Publicado no Jornal da Manhã, 20.12.1985)


           Jônatas Batista, o homem de letras de espirito combativo e indomável, o poeta de versos revoltados contra o mundo e a solidão, o dramaturgo de veia satírica  e mordaz ao desnudar os costumes sociais da nossa provincia, completou no dia 18 de abril passado, o seu centenário de nascimento. Não é tarde lembrar. Grandes homenagens? Não. Pequenas homenagens? Também não. Afinal de contas trata-se apenas do primeiro dramaturgo piauiense, nascido ainda no século passado, um rapaz metido a ator, um molecote que representava e dirigia seus textos no Theatro 4 de Setembro. Portanto, parece ser essa a visão que os orgãos oficiais de cultura tem acerca do grande dramaturgo. Nada de estranho, pois assim também é a mesma visão que ainda hoje parecem terem sobre nossos artistas de teatro. Para nós, interessa muito saber da vida e da obra de Jônatas Batista como homem de teatro, pois era ai o seu campo de luta.
          Nascido no povoado Natal, hoje Monsenhor Gil, a 18 de abril de 1885, era filho do tenente coronel João José Batista e de dona Rosa Jericó Caldas Batista, e irmão do grande poeta Zito Batista, e um dos mais combativos homem de imprensa do Piauí.Casado com Ducila Cunha, exerceu a profissão de oficial do registro civil e, como poeta, foi um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, e um de seus membros. No entanto, se na poesia o homem manifestava suas imprecações contra o destino, suas angustias secretas de glorificação  á vida, foi no teatro que Jônatas Batista despejou através de seus dramas, operets e comédias, a mais crua e contundente critica á sociedade piauiense. Talvez venha daí a sua biografia quase nunca trazê-lo como dramaturgo, mas sim como poeta e, além do mais, academico. É melhor esconder o lado marginal do imortal da sociedade, e esquecer o dramaturgo que tanto expôs as figuras sociais da capital. Basta ler a revista  de costumes O Bicho, musicada pelo maestro Pedro Silva e que foi vista por quase toda Teresina, para se sentir o perspicaz e vivaz autor de teatro do inicio do século XX.
            Entra o Coro dos Banqueiros:
           "Depositários somos do dinheiro,
            Da maior parte do povo brasileiro,
            Do povo jogador.
            Por isso,é que vivemos fartamente.
            A vida desfrutando alegremente
            Em largo esplendor"
            Por ai se nota que er melhor mesmo conservar o outro lado do homem. Coisa de familia?Pela árvore genealógica é fácil imaginar.
           De uma vida acidentada e tormentosa, Jônatas Batista, aos 18 anos, com a morte do pai, interrompeu os estudos no Liceu Piauiense para viver com seus nove irmãos. Nesta época perseguiu de uma menira firme e obstinada, o oficio de homem de imprensa. Fundou os jornais A Patria,O Mensageiro, O Arrebol, O Operário e O Facho todos pasquins endiabrados, que saiam semanalmente ou mesmo quando se podia pagar a impressão. O certo é que eram todos escritos em ritmo de denuncias, de respostas e, acima de tudo, incentivador de debates e brigas literárias, principalmente contra os inimigos do progresso.Aliás, as richas literárias também não lhe rendiam bons frutos na cidade conservadora, na capital de de preconceitos arraigados.
            Como dramaturgo Jônatas Batista era sócio da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT e o seu primeiro representante no Estado do Piauí. Dono de uma vasta obra teatral, contando inúmeras revistas, dramas históricos e operetas, podemos contar entre elas Mariquinha, Teresina de Improviso, Jovta, a Heroina de 1865, Astucia de Mulheres, Cidade Feliz, Frutos e Frutas, Alegria de Viver, Improvisações e Improvisadores, As Crianças, O Bicho, Treze de Maio e a Luta. Coisa de estranhar é o fim que tomaram essas peças de teatro, para encontramos uma foi muita luta e pesquisa. Coisa de estranhar também é que quando pesquisavamos percebemos um certo descaso pela vida artistica  de Jônatas, como se seu oficio de dramaturgo  estivesse sendo escondido debaixo de sete capas. Isso é fácil de compreender. Sua dramaturgia era de forte  conteudo de denuncias sociais, que punha a nu as falcatruas da cidade e a hipocrisia da sociedade teresinense. Sim, a sua veia sarcástica parece ter sido a maldição de ser considerado dramaturgo.
           Mais exemplos da revista O Bicho.
           Sobre a imprensa do Piauí.
          "A imprensa do Piauí
           Não tem ódio e nem capricho
           Eis-nos aqui, eis-nos aqui,
           Fiscalizando o bicho".
          Sobre a policia:
         " Se o dinheiro é curto
           Eu furtar, não furto
          Mas escurrupicho...
          Tiro uma quinzena
          Jogo na dezena
          Pra ganhar no bicho".
          O último exemplo é sobre os costumes da época:
          Não estou dizendo graça
          Nem também falando a toa
          Pelo bicho se desgraça
          Muita dona fina e boa".
          Jônatas Batista, o grande dramaturgo piauiense, morreu em São Paulo, no dia 15 de abril de 1936. Em tempo: houve uma homenagem na Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo do Piauí no dia do seu centenário, o lançamento do concurso de Dramaturgia Jônatas Batista, versão 85. menos mal.

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