domingo, 30 de outubro de 2016

A MOÇA E O LIVRO.


          A primeira vez que a viu foi na Galeria de Arte, era uma manhã de sol brilhante, como quase sempre é brilhante o sol de todas as manhãs de Teresina. Não sabe se foi notado, pois estava completamente absorta lendo um livro. Sua imagem sentada e a longa saia estampada com flores até aos pés, calçados em delicadas sandálias de couro cru, e a sua imagem de pele alva e cabelos louros caindo aos ombros, estavam absolutamente de acordo com sua fina blusa de malha rosa. 
         Ficou por segundos a observá-la no seu silencio de encantamento na leitura daquele livro. Na Galeria de Arte do Complexo Cultural estava havendo uma exposição de quadros, formada por lindas aquarelas e naturezas mortas, mas que pareciam insignificantes diante dela,sentada de pernas cruzadas  naquele puf, tão simples e angelical, como uma fotografia saída de um ensaio de moda, feita por um fotografo famoso.
         Naqueles poucos segundos de olhos fixos nela chegou a conclusão de que não era o brilho do sol que fazia a alegria daquela manhã, que não era o brilho do sol que iluminava a terra, mas a incrível beleza daquela moça. Foi com esse pensamento que voltou a si, e se deu conta de que precisava sentar na sua mesa para mais um dia de trabalho.
          Entre papeis e tarefas chatas a cumprir não esqueceu da moça na Galeria de Arte. Que livro seria aquele? Quem seria ela? Qual o seu nome? E o pior: Ainda a veria? Eram interrogações que lhe assustavam por que, além de lhe desconcertar dos afazeres, tiravam-lhe do seu mundo acomodado e triste em que estava atolado naqueles dias de cão!
           Depois de vinte anos de um amor avassalador, tresloucado e único, tinha ficado só, e a solidão que se abatera sobre ele era daquelas em que opiniões, ajudas, conselhos, de nada valiam, por que pensava que o mundo tinha desaparecido, que sua vida tinha acabado, e que o amor. esse mistério da vida, nunca mais faria parte da sua. E agora vinha aquela moça e seu livro!
          A vontade foi de deixar tudo para vê-la novamente, mas ela não se encontrava mais na Galeria. Foi ai que se deu conta de que precisava urgentemente acordar para as coisas da vida.Mas como esquecer as lembranças, como desapegar das coisas que estão tão arraigadas em sua vida? Tinha deixado de pensar no amor há algum tempo, e agora aquela moça vinha acordar tudo dentro dele?
          Mas adianta procurar o amor? Não é ele que lhe encontra? Filosofia barata! De uma coisa tinha certeza, quando a encontrasse novamente ela é quem lhe diria se gostava dele, pois a mulher é quem escolhe o homem. E ela o escolhera, com sua pele alva, seus cabelos louros, seus olhos castanhos escuros, sua boquinha meio dentuça, e sua incrível alegria de viver! Foi um amor sincero e verdadeiro!
           As feridas da vida passada ainda precisavam ser fechadas, afinal de contas ele tinha vivido por vinte anos com outra pessoa. E veio os desencontros, as decepções, os contratempos. A moça que gostava de ler não suportava a sua ausência, não entendia a sua preocupação com a outra, nem o silencio sobre o futuro dos dois, pois ela tinha entregue seu amor para ele sem restrições. Ele fora um covarde aos olhos dela, mas a verdade é que ele tentava agir como um homem na conciliação dos fatos, para poder se entregar ao novo amor de sua vida.
         O livro que a moça lia na Galeria de Arte era O Pequeno Príncipe. Ela estava em constante descoberta da vida, e não entendia por que ele não largava tudo para estar com ela. Para ele, o tempo iria  dizer a ela que a vida não é simples assim. Aquela moça e seu livro tinham-lhe tirado do limbo. E a cada dia seu amor por ela crescia cada vez mais, de forma densa e verdadeira. E era esse amor que ele tinha que mostrar a ela a cada encontro, reconquistando-a. Um amor sem restrições, que protege, dedica-se. Um amor eterno, para sempre. Afinal de contas o passado tinha ficado totalmente  para trás.

sábado, 1 de outubro de 2016

NOVAS PROPOSTAS VELHAS



          Todos nós da sociedade civil esperamos, em cada eleição, escutar as  propostas dos  candidatos a cargos políticos, seja de vereadores, prefeitos, deputados, senadores ou governadores. A eleição deste ano é para os cargos de vereador e prefeito. É sempre bom refletir sobre o que os candidatos falam ou, melhor ainda, sobre o que eles prometem.
          A nós artistas, produtores culturais, escritores, criadores de arte não é diferente a expectativa das propostas para o desenvolvimento do setor cultural. Pena é que nos últimos anos a desmobilização da classe em relação as eleições municipais de Teresina, é simplesmente gritante. Alguém pode até perguntar, mais já houve mobilização da classe artística de Teresina em relação a eleições municipais? Claro, que sim. Basta dizer que a Fundação Cultural Monsenhor Chaves foi criada da mobilização da classe; Basta citar, também, que toda a programação de eventos culturais dessa mesma Fundação foi solicitação da classe, através do Sindicato dos Artistas, implantada há mais de vinte anos atrás.
         O problema, e é uma opinião nossa, é que a administração municipal de Teresina envelheceu nesse setor, e há mais de vinte anos não propõe coisas novas, não avalia o que existe e, ainda por cima, acabou com alguns programas existentes. Veja alguns: Lei A. Tito Filho não existe mais, ela que é um verdadeiro instrumento de apoio a produção cultural; Acabou-se com os Festival Nacional de Monólogos, Salão de Artes Plásticas de Teresina, Salão de Fotografia, Festival de Cinema e Vídeo, entre outros. E não se deu alternativas para outros eventos. Louve-se para não errar, a residência artística na área de artes plásticas.
         No entanto, o problema maior é que se você for ver as propostas dos candidatos, de todos eles, para a área cultural, é uma repetição da repetição da repetição. Absolutamente nada de novo. Vejam, Teresina é a única capital do pais que não tem um evento cultural a nível nacional. Somos invisíveis. Nesse sentido, parece que cabe ao Estado preencher as lacunas culturais do município. Até mesmo o único evento a nível nacional e internacional existente no município, este na  área de teatro, é realizado por um grupo de teatro. Diga-se de passagem sem nenhuma ajuda do munícipio.
         Portanto, é uma pena que os candidatos não tenham se inteirado do setor cultural. Não se falou em marcos regulatórios: Lei do Patrimônio municipal; Sistema municipal de Cultura; Lei de Incentivo Municipal - Mecenato, ampliando o Fundo Municipal de Cultura; Conselho Municipal de Cultura, hoje inexistente; Plano editorial do município; Profissionalização do setor e regularização de editais culturais. Quer dizer, ficaram repetindo, e alguns deles sem conhecimento, de atividades corriqueiras da Fundação Cultural do Município. Uma pena.
        E assim, a classe fica que como perplexa, sem reação. Uma pena para uma capital que beira a um milhão de habitantes, e que a cultura parece uma coisinha de menos importância para a vida das pessoas.