quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Teresina, De carnaval, Ganhos e Cinzas.

2012 vai ser o ano marco do carnaval de Teresina, afinal de contas o nosso corso carnavalesco é o maior do mundo, segundo o Guiness Book, o livro dos recordes, mesmo que esse recorde pertença a nós próprios, por que o nosso corso da forma que é realizado é o ùnico no mundo. Enfim, temos alguma coisa só nossa, e no ano que vem vamos quebrar nosso próprio recorde! Mas vamos falar dos rumos que o carnaval de Teresina tomou e que vamos ter de conviver daqui pra frente.

Lembro que em 1997, foi realizado pela Fundação Mons. Chaves o Seminário: Reviver Carnaval-Rumos e Identidade do Carnaval de Teresina, com a participação de Cecilia Mendes, Paulo Vasconcelos. Bernardo Sá, Galba Coelho, Marcos Peixoto, Manoel Messias, Osvaldo Almeida, Daniel Aracacy, Jamil Said, Bosco e nossa participação, com uma platéia excelente. Estavamos em busca de retomar o carnaval de Teresina, e ali foi feito um dos melhores diagnóstico sobre nossa festa momesca. Depoimentos sinceros e apaixonados. Como surgiu nosso carnaval, qual sua contribuição e de como ele poderia ser. O Seminário serviu para traçar extratégias.

O carnaval de Teresina nunca teve uma identidade. Nossas escolas de samba foram criadas no rastro das escolas de samba do Rio de Janeiro, inclusive, importando luxuosas fantasias daquele estado para os desfiles daqui. Até mesmo o caminhão das raparigas, criado pelas mãos das prostitutas da antiga Paisandú, era mais um protesto, um grito de revolta por não poderem participar de bailes chiques da cidade. Transformado em corso, saiam pelas ruas de Teresina, depois foi substituido pelos blocos e pelas escolas de samba, também uma invenção do Rio de Janeiro, ainda nos anos de 1930. Lembramos que o corso, também, é uma festa excludente por que só participa diretamente quem tem carro ou quem pode alugar um caminhão.

Sem nunca ter encontrado sua identidade ou vocação, o carnaval de Teresina vive de momentos, nascendo e morrendo. Nem mesmo os sambas enredos das escolas conseguiram contar nossa história. Mas elas tinham uma tradição, afinal de contas desde a Escravos do Samba, nossa primeira escola, criada em 1952, já se vão mais de 60 anos. E acabar com o desfile das escolas usando argumento de que o povo não gosta é uma tremenda bobagem. Nem se discute, é estatisco, a maioria gosta. O que deveria ser discutido era o compromisso do Municipio e do Estado com o carnaval de sua capital, seu rumo, apoio e ganhos. Até que o municipio tem tentado, agora o Estado sempre foi omisso, como se a capital não existisse. Mas isso é o reflexo da maioria de nossa elite que vê a cidade de cima, por que elas não gostam da cidade, nem da cultura da cidade e nem do carnaval da cidade. Então, que se lixe. Mas tem, também o outro lado. E se as escolas de samba foram pras cucuias cabe responsabilidades de seus dirigentes que sempre agiram com amadorismo, com grandes egos e com brigas internas por migalhas de poder. Junte-se a isso, parte da imprensa, via colunas de jornais e midias eletronicas , que fazem tudo para denegrir a imagem do carnaval da cidade. As escolas de samba não desapareceram apenas por falta de apoio financeiro, mesmo por que é vergonhoso sair por outros estados dizendo que a prefeitura de Teresina se nega a destinar miseros 50 mil para cada escola, enquanto por lá briga-se por milhões. Pobreza nossa, não, é falta de grandeza mesmo, como se dinheiro destinado as escolas fosse salvar nossas mazelas e pobrezas seculares. Aliás, esse espirito parti das elites no poder que não amam sua cidade.

Daquele Seminário de 1997, foi recriado o corso carnavalesco em 1998, com o caminhão das raparigas representado por atrizes piauienses e um caminhão de apoio com convidados especiais. O corso cresceu e se transformou no que conhecemos hoje e as escolas de samba passaram a ter apoio oficial naquele ano, saindo do desfile realizado na Av. Frei Serafim para a Avenidade Marechal Castelo Branco.

O municipio de Teresina, via Fundação Monsenhor Chaves e Semel, por mais esforço que faça não tem conseguido se sobrepor aos atropelos e desencontros. Continua sempre com o mesmo nhem,nhem,nhem, cuidando apenas de reis e rainhas do carnaval, sem dimensionar o poder do povo da cidade, sua criatividade e seu entusiasmo. O corso foi um exemplo, quando o poder público perdeu as estribeiras e deixou a coisa rolar solta: foram dezenas de caminhões perdidos pela cidade, carteiradas de espertalhões em cima de guardinhas de transito e o povo olhando o nada, como se nada tivesse controle, ainda bem que o povo convocado e comparecido ao local suportaram cordeiramente aquilo tudo. Foi tudo lindo para lentes e cameras!

Ganhos para a realização do concurso de marchinhas de carnaval; para as previas de blocos, para a festa dos artistas, galo da madrugada, sanatório geral e para a promoção do carnaval por alguns bares de Teresina com artistas locais. Quanto aos desfiles dos blocos de sujos, a mesma desorganização no local, quando os que estavam ali invadiam a passarela e se misturavam aos participantes dos blocos e, pasmem, nem a banda de axé que tocava parava para se escutar os enredos dos blocos. Aliás, vamos encerrar com as tais Bandas. Muitos dirão é aquilo ali, pronto. Que maravilha, encontramos a identidade de nosso carnaval! Mas eu direi, pronto acabamos com o que restava de nossa esperança em encontrar algum resquicio de nosso poder de transformação pela nossa cultura. Pois a juventude bela e linda que dançava na Marechal Castelo Branco, com certeza, vai dizer que carnaval é aquilo ali. Afinal de contas, é um retrato de quem não conhece suas caracteristicas e sua vocação. No ritmo Bahiano chegamos lá. Axé, minha gente!