quinta-feira, 22 de agosto de 2019

E O FOLCLORE, O QUE É, O QUE É?


      Pensar no folclore como uma coisa passadona, amorfa ou mofada, que  tem uma data marcada, e coisa do passado. Opa, nada de passado! Ou ainda pensar que lendas, crendices, mitos, superstições não tem fundamento nenhum, é perca de tempo, também não é assim. E você, o que pensa do folclore? Aliás, sabemos o que é folclore?
       Uma vez perguntaram ao poeta cearense Patativa do Assaré, o que era folclore e ele não pestanejou:
                      Folclore, meu camarada 
                      ouvimos a toda hora
                      é a história da alma penada
                      De lobisomem e caipora
                      Preste atenção e decore,
                      Pois com certeza folclore
                      Ainda posso dizer
                      Que é aquele búzio de ouro
                      Que você  põe no pescoço
                       Do filho pra não morrer.
       E Patativa continuou por aí. Mas a palavra folclore tem um significado muito amplo que vai desde a geografia a história, desde a quimica a arqueologia, desde a fisica á música, a sociologia, o teatro...quer dizer tudo o que nós podemos imaginar. Um conjunto de manifestações populares,culturais e artisticas, que vão passando de geração a geração traduzindo o modo de sentir, de pensar, de agir, de comer, de vestir nas sociedades, sejam elas iletradas ou as elites culturais, cada um a seu modo.
         Mas de onde veio essa palavra com tanto significado? Ela veio da Inglaterra quando um arqueólogo chamado William Jonh Thoms, em carta enviada ao Ateneu de Londres, no dia 22 de agosto de 1846 propos o termo folk-lore que quer dizer saber de um povo, depois simplificada para folclore.A ideia dele era de preservar lendas, tradições, usos e costumes das gerações passadas. No Brasil foi o ex-presidente Castelo Branco quem instituiu o dia do folclore, 22 de agosto, através da Lei 56.767.
         O nosso pais é rico em tradições, por que a nossa colonização foi feita por vários povos, como o Português que trouxe a língua, o reisado, o pastoril, as danças portuguesas, etc. O negro que trouxe o samba, o candomble, a macumba, etc. E o indio com sues mitos e sua culinária. Pra dizer a verdade o saber dos negros e dos indios só foram incorporados ao nosso folclore no ano de 1888, por determinação da Sociedade Americana de Folclore.
          São quatro os setores formadores do folclore, divididos assim: Narrativas tradicionais - contos populares, baladas, canções e lendas; Costumes tradicionais - costumes locais, os jogos, festas e cerimonias; Suertições e crenças - são bruxarias, candomblé, etc; Linguagem popular - ditos populares, adivinhações e provérbios. 
           No folclore brasileiro existem inúmeras lendas interessantes, como o Saci Pererê, o Caipora, o negrinho do Pastoreio, etc. Existem danças, quadrilhas, festas religiosas, o carnaval, comemoradas em todo o país.
                O meu boi morreu
                Que será de mim
                 Manda buscar outro maninha
                 Lá no Piauí.
           Essa música, por exemplo, é do folclore piauiense do Bumba Meu Boi, o folguedo mais caracteristico do nosso estado, como de outros estados brasileios. Sabe por que o Bumba meu Boi é tão conhecido? É por que a colonização piauiense foi feita através das fazendas de gado. O Bumba meu Boi é uma representação dramática, uma farsa. É o desejo de Catirina, a mulher do pobre vaqueiro Chico, em comeer a língua do boi mais gordo da fazenda.
             Mas o Piauí tem outras lendas e folguedos. Tem o Cabeça de Cuia, a Num-se-Pode, Zabelê, Miridan, o Reisado, o Tambor de Crioula, as quadrilhas, tem o Pinto Pelado, você já ouviu falar na lenda do Pinto Pelado? Pois é, existe sim. Vamos procurar essas lendas e tradições e nos deliciar com elas.
                Quer dizer o folclore é formado assim por essas coisas fantásticas, lendas maravilhosas, tudo contribuindo para o conhecimento da identidade dos povos, para a formação da sociedade. Ah! E nada de achar que folclore é aquela coisa passada, morta, coitadinha,  que vive morrendo á mingua. Vamos ter orgulho das nossas tradições, e de quem passa essas tradições de geração a geração..

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

SANGUE E CERVEJA


       Era desses domingos de manhã de sol resplandecente. Bem que poderia aproveitar, talvez um clube, piscina. No entanto, optou por uma cervejinha no bar de sempre, com tira - gosto de peixe. 
       Se alguém conhecesse o inferno diria que estava lá. Estranho. Aquele bar não costumava receber tantos fregueses numa manhã de domingo, mas estava lotado. Quis dar marcha ré, mas o garson o tratou como um freguês antigo, arranjou um local para ele sentar. Mesmo assim sentiu que tinha entrado numa roubada, o bar tinha se transformado em um campo de futebol, melhor dizendo, em um ringue de jogo de bola. Mas domingo as dez horas? Deus do céu! Já não basta futebol dia de segunda, terça, quarta, a semana toda? Fazer o que, é o país do futebol.
       Não tinha essa paixão toda por futebol. Essa cegueira, estúpida alienação, que deixa muitas pessoas transtornadas, tresloucadas, alheios ao mundo, pior dos que os viciados em redes sociais. Gostava, e só. Portanto, ao sentar-se naquele bar não teria outra opção, a não ser observar atentamente o comportamento de algumas daquelas pessoas que estavam ali. E isso ele adorava fazer. Era um inveterado na arte da observação, e de ouvir.
        Chamava a atenção que em todo o bar tina apenas dois casais. Pobres mulheres acompanhando namorados ou maridos, era como se não existissem. Então, tome celular, redes sociais. Cara direto nos aparelhos como se nada mais existisse ali. Ainda bem.
          O nome mais social que os torcedores berravam bem ato, era porra!Tomar no cú era fichinha. Filho da puta, um balsamo. De repente chega um cidadão e se dirige direto para uma mesa de um dos casais.
        - Aquela vaca tá pensando o que?Falava nervoso - Vou dar um tiro na cara dela!...
           Ninguém prestou atenção a ele.
       - Senta aí, moço, toma uma cerveja. Assiste o jogo! Disse o amigo da mesa.
        - Deixa ela chegar aqui com aquela cara lambida, deixa. Vai enganar outro trouxa, eu não!....
          O homem sentava e se levantava. Ia até a saída do bar, olhava para a rua e voltava para o mesmo lugar.
         A torcida explodiu com um lance do jog.
       - Porra, caralho, mete essa bola filho da puta!...
       - È foda, cara a cara com o goleiro...Vai tomar no cu perna de pau!...
         O cidadão nervoso não via o jogo, e repetia sua lenga-lenga junto ao casal. Casal que não ligava para ele. Até que gostaria de falar com aquele cidadão, mas preferiu observar as coisas, tomando sua cerveja, e atento e tudo.
         A zoada era infernal. 
       - Filho da puta passa essa bola, corno...
       - È um mercenário do futebol, mascarado todo...
         De repente veio o gol. O bar estremeceu do teto ao chão.A torcida se confraternizava.
      - Chupa essa, Tonhão, chupa!...
      - Meu pau, meu pau...Devia ser o próprio Tonhão falando.
        Foi quando ele notou no meio daquela algazarra que uma mulher entrou no bar, e se dirigiu a mesa onde estava o cidadão nervoso. Mas não deu tempo dela se sentar. Foram três furadas rápidas na altura do torax, sem chance alguma. A mulher desabou levando consigo a toalha da mesa e várias garrafas.
       Alguém gritou com deboche:
     - Bota na minha conta, caralho!
       O cidadão nervoso já tinha saído tranquilamente pela porta da frente do bar. Quando perceberam  que a mulher estava morta, pipocaram fotos dos celulares.
       O jogo continuava. Para o bem de todos.