segunda-feira, 20 de maio de 2013

                                               O DRAMA.


                O drama era o de Zé Firmino tentando arranjar um emprego nas fileiras do Estado. Queria, pelo menos, ser vigia, o cidadão. Coisa simples, pensava: assim como ficar sentado em alguma repartição pública durante horas, aqui e acolá uma espiada, esperando a hora passar. Quem sabe tirar um cochilo e sonhar com mesa farta, uma camisa nova, um vestido pra Joana.
                Jamais sonhar com  a queda da inflação, da especulação imobiliária, do liberalismo massacrante ou da oligarquia repressora:
                - Não me meto em política, doutor. Só faço votar, que é o dever de toda gente.
                Mas, o homem queria ser empregado do Estado. Era quase uma coisa organica. A velhice não lhe tinha tirado o ânimo de viver nem a coragem a coragem de batalhar a existência. Depois, precisava compor a economia domésitica, já que a familia se mudara para a capital, corrida da seca, da fome que se alastrara pelo sertão, todos vivendo de biscate.
               Parecia tão fácil! Um simples viigia de uma dessas tantas repartições estaduais. Um salário minimo. Agora esse drama.
                   Enfrentava a primeira via crucis. E o doutor rabiscava em um papel e nem olhava para sua cara faz o cáculo para os seus olhos.
                 - Não posso seu Zé, não posso. Trabalho aqui mais não tenho poder nenhum.
                  Aceitou as desculpas de prontidão, pelo menos fora sincero, o doutor. Que lhe procurasse para outras coisas, não pra arranjar emprego. Melhor procurar um político, ele mesmo tinha sido posto ali por influências polticas. Zé Firmino partiu convito.
                  O deputado. O seu querido homem público, há vários mandatos toda a familia votava nele. Era uma voz amada por todo o sertão de dor e miséria.
                 - Com o deputado é certeza, Joana!
                 - Talvez ele seja diferente aqui na capital.
                 - Oh, gente, mas por que mulher?
                    Na sala de espera estava o homem e seu drama. O fantasma do desemprego concretizado no rosto de cada um. Caras sonolentas, olhos tristes e amarelados, frios percorrendo a espinha, vazio nos buchos. O deputado se lembrará de mim? Claro, quantas vezes apertou minha mão!
                   A moça, voz de aço, devidamente instruída:
                 - Ele mandou dizer que não pode despachar hoje.
                    Burburinhos, cochichos, decepções:
                 - Moça, por favor, ...
                 - O senhor não ouviu?
                 - Sou do interior...
                 - Do interior?
                   A moça fechou a porta, ajeitou algumas coisas sem pressa e sentou-se:
                 - Na verdade, moço ele não vem mais ao gabinete. Essa multidão atrás de emprego. Vou levar o senhor até o plenário.
                    No plenário o eminente homem público discursava aos berros, o rosto vermelho, veias alteradas. Defendia a participação das massas no processo social e politico. Zé Firmino sentou-se nas galerias. Um sentimento de temor vindo de dentro do peito. Terminada a sessão:
                 - Deputado
                 - Sim, fale - O deputado escutou atento.
                 - Seu Zé, o senhor sabe. Sou um homem de oposição. todos os empregos estão na mão do governo. Procure um deputado da situação...
                   O homem e seu drama vinha pela rua cabisbaixo. As últimas palavras do deputado zuando nos ouvidos. "Eles seguram os empregos como forma de perpetuar essa oligarrquia. Uma tremenda barganha política, é só o que eles fazem."
                  Zé Firmino só queria ser um simples vigia. O homem e o pensamento em seu titulo, silencioso, sofrido. O que fazer?
                                                (Publicado no Jornal O Estado, em dezembro de 1981)
                    

domingo, 5 de maio de 2013

                          JOÃO  COM RESSACA NO MEIO  DA SEMANA.
                                                    Ací  Campelo.

           Nos ouvidos o estalo do tapa na noite passada. Tudo passara despercebido, agora era o sol na cara de cachaça, cachaça tímida. No íntimo do João furacão furado com a revolta de volta voltada contra ele no meio da multidão. (Estava em frente à Lobrás)
       - Hum...hum...hum...     
        Os olhos embaçados lendo um cartaz apregado na frente e nas costas de um homem: "Surdo e mudo...por favor...ajude este hom..."     
        Para João era tudo sem nexo, sem razão de ser, também, para que? Devia ter ficado mesmo lá em baixo, no baixo meretricio, de trouxa retornara a esse mundo ardente dos infernais mundos conhecidos. Essa multidão ociosa no aspecto. Acabara o dinheiro, sem ele sem cachaça, sem amor, tentara uma solução levara um tapa no pé da orelha. Taí, João, tudo acabado! Silencio e remorso é só o que levara para casa. Vai, retorna, regressa...blefe...blefe...e a mulher, João? Vida fraca a tua, sem evidencia, sentes dor na, agora em tudo que há, não é assim João? A começar pelas pontas dos cabelos da perna e via além, além muitissimo!
     - Uma esmola aí, moço...    
      Os olhos quase não viam ardendo de dor, fechando e abrindo rapidamente, passando tudo em revista ao redor rodeado de gente ociosa sem aspecto. E a crepitante zuada de motores, batendo batidas creptar. Igualdade de ser dos povos sem serem a e b, tudo desigual. Velhas teclas batidas de um país batido, por ser lesado por velhos sistemas. E o homem andando com o cartaz na frente e nas costas:    
      - Hum...hum...hum...
     João com dor no coração de solidão deixada pela cachaça, segredo semeado em todos que olhavam seu rosto no meio da rua. A dor notada até nos cabelos das pestanas.Moral, João, moralidade, fim das economias nos fundos dos bolsos. O dia se indo no temporal da rua que abrigava todo mundo sob um sol de quarenta graus.
     - Uma esmola aí, moço...
     Desespero misturado com desgraça da palhaçada que fizera, quando é o sabado, João? Amanhã? Que dia é hoje João? Final da cachaça que não deu para satistazer a ânsia da loucura e da sede de ser, miserável do João agora na pura mão. E a mulher? De certo estaria a sua espera parecendo uma sapa devido ao claro da noite passada. No caminho de casa João se lavando com o suor do sol do meio dia. A ressaca apertando o espaço findando, restando vontade de se acabar.
     - Uma esmola aí, moço...
      As esquinas falando na vista embaçada de João que agora não via nada. Só a fraqueza de morte chegando no bucho.
                                      (Conto premiado em 1º lugar pela extinta Secretaria de Cultura do Piauí, em
                                        1976 e publicado no Jornal o Estado, no mesmo ano, sendo, também, o
                                        primeiro  conto de minha autoria)