domingo, 5 de maio de 2013

                          JOÃO  COM RESSACA NO MEIO  DA SEMANA.
                                                    Ací  Campelo.

           Nos ouvidos o estalo do tapa na noite passada. Tudo passara despercebido, agora era o sol na cara de cachaça, cachaça tímida. No íntimo do João furacão furado com a revolta de volta voltada contra ele no meio da multidão. (Estava em frente à Lobrás)
       - Hum...hum...hum...     
        Os olhos embaçados lendo um cartaz apregado na frente e nas costas de um homem: "Surdo e mudo...por favor...ajude este hom..."     
        Para João era tudo sem nexo, sem razão de ser, também, para que? Devia ter ficado mesmo lá em baixo, no baixo meretricio, de trouxa retornara a esse mundo ardente dos infernais mundos conhecidos. Essa multidão ociosa no aspecto. Acabara o dinheiro, sem ele sem cachaça, sem amor, tentara uma solução levara um tapa no pé da orelha. Taí, João, tudo acabado! Silencio e remorso é só o que levara para casa. Vai, retorna, regressa...blefe...blefe...e a mulher, João? Vida fraca a tua, sem evidencia, sentes dor na, agora em tudo que há, não é assim João? A começar pelas pontas dos cabelos da perna e via além, além muitissimo!
     - Uma esmola aí, moço...    
      Os olhos quase não viam ardendo de dor, fechando e abrindo rapidamente, passando tudo em revista ao redor rodeado de gente ociosa sem aspecto. E a crepitante zuada de motores, batendo batidas creptar. Igualdade de ser dos povos sem serem a e b, tudo desigual. Velhas teclas batidas de um país batido, por ser lesado por velhos sistemas. E o homem andando com o cartaz na frente e nas costas:    
      - Hum...hum...hum...
     João com dor no coração de solidão deixada pela cachaça, segredo semeado em todos que olhavam seu rosto no meio da rua. A dor notada até nos cabelos das pestanas.Moral, João, moralidade, fim das economias nos fundos dos bolsos. O dia se indo no temporal da rua que abrigava todo mundo sob um sol de quarenta graus.
     - Uma esmola aí, moço...
     Desespero misturado com desgraça da palhaçada que fizera, quando é o sabado, João? Amanhã? Que dia é hoje João? Final da cachaça que não deu para satistazer a ânsia da loucura e da sede de ser, miserável do João agora na pura mão. E a mulher? De certo estaria a sua espera parecendo uma sapa devido ao claro da noite passada. No caminho de casa João se lavando com o suor do sol do meio dia. A ressaca apertando o espaço findando, restando vontade de se acabar.
     - Uma esmola aí, moço...
      As esquinas falando na vista embaçada de João que agora não via nada. Só a fraqueza de morte chegando no bucho.
                                      (Conto premiado em 1º lugar pela extinta Secretaria de Cultura do Piauí, em
                                        1976 e publicado no Jornal o Estado, no mesmo ano, sendo, também, o
                                        primeiro  conto de minha autoria) 

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