quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

LAMPIÃO E SEUS CABRAS NA LITERATURA DE CORDEL - UM ESTUDO II


         Sebastião da Silva relata as condições sociais de Lampião no final de seu folheto. Ao mesmo tempo que o cangaceiro matava, estuprava e queimava suas vitimas, fazia caridade, como ser parteiro, religioso e devoto do Padre Cicero Romão Batista, inclusive, sendo o Padre Cícero quem lhe ortogou a patente de Capitão, o Capitão Virgulino Ferreira, por ele ter combatido revoltosos que enfrentavam romeiros de Padre Cícero. É bom lembrar que Lampião não matava ninguém que se valesse de Padre Cícero. Na Paraíba, conta o cordelista, Lampião encontrou uma moça, com quem passou a conviver no cangaço, logo apelidada de Maria Bonita. O cordel termina narrando a morte de Lampião no Estado de Sergipe, sem muito detalhes.
          "Lampião na Bahia", de autor desconhecido, achamos todo sem nexo. Fala que Lampião vem dos sertões do Pará e vai esbarrar na Bahia, exatamente na Fazenda Cruz Vermelha, propriedade de um tal de Pedro Farias. Apenas cita algumas coisas pitorescas, como por exemplo, Lampião ter possuído um cavalo chamado Anil, e que o bandoleiro usava um lenço de seda no pescoço com as cores da bandeira do Brasil. Nesse cordel são citados os nomes de inúmeros cabras de Lampião, como Garatuja, Peitica, Coruja, Patativa, Gavião , Corisco, Engole Cobra, Trovão e Toitiço, alguns nomes que carecem de veracidade. Corisco e Garatuja terminam morrendo num confrnto com a policia exatamente na dita fazenda de Pedro Farias. Em outro cordel " A Morte Comanda o Cangaço", de Joaquim Batista de Sena, nome de um filme sobre o cangaço brasileiro, o autor fala da situação do nordestino e de como foi gerada a violência, com o aparecimento de vários bandos de revoltosos e desordeiros, que estupravam, matavam e queimavam inocentes. Alguns feitos de Lampião do cordel de Sebastião da Silva são repetidos em "A Morte Comanda o Cangaço".
            "O Encontro de Lampião Com o Falso Lampião", de João José da Silva é um outro cordel, ao nosso olhar,  sem muita veracidade, mas muito engraçado. Fala de um lugar de bonança, um vale onde existia de tudo. Um Lampião falso chega a uma fazenda desse lugar e acaba com a paz do local. Aparecem Zé Calixto e seu filho Miguel e descobrem que o verdadeiro Lampião estava na Bahia. Quando o verdadeiro Lampião soube que existia um farsante em seu lugar manda um de seus cabras para saber quem o estava imitand"o. O cangaceiro apanha do Lampião falso e é salvo por Miguel. Combinam, então, que o falso Lampião será combatido pelo verdadeiro que, no embate, termina vencendo o falso Lampião. Já em "A Eleição do Diabo e a Posse de Lampião no Inferno.", de Severino Gomes da Silva, o enredo é muito interessante. Começa com a aparição de Zelação, um cabra do gangaceiro  Antonio Silvino, numa sessão espirita para contar como andam as coisas no inferno. Zelação fala de um monte de bandidos que foram mortos na terra, e que agora estão no inferno, como: Cambeta, Capataz, Formigueiro, Parafuso, Quebra-Osso, Coxinha, Corcundo, Cotó, Cangueiro, Capado, Pontinha, Canela Suja, Canguinha, Sirigaita, Cachimbeiro, Carrapeta, Cuscuz, Maioral, Bigode e Faceta. Todos querendo eleger Lampião a prefeito do inferno.  

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

LAMPIÃO E SEUS CABRAS NA LITERATURA DE CORDEL - UM ESTUDO - UM

         Os autores da chamada literatura de cordel sobre o cangaceiro Lampião são obrigados a saber da história e da vida do fora da lei? Se Lampião fosse uma lenda, uma ficção, entendemos que não. Acontece que Lampião era o apelido de Virgulino Ferreira da Silva, um homem de carne e osso e, portanto, além do talento e do imediatismo de cada cordelista, todos deveriam ter um ponto em comum: saber da vida e da turbulenta história de Lampião. Mas, seria obrigado mesmo?
         Fiquei curioso em saber como os autores de cordel usaram suas fantasias e criatividade para tratar do tema Lampião. Separei vários cordéis da minha coleção sobre o cangaço no nordeste brasileiro para fazer um estudo comparativo das histórias sem usar qualquer critério técnico cientifico, apenas curiosidade mesmo. O primeiro cordel foi "Trechos da Vida Completa de Lampião", de Expedito Sebastião da Silva. Conforme o titulo , o autor quis ser o mais completo possivel sobre o mito Lampião. Dessa forma, é a partir desse cordel que vamos fazer o nosso estudo.
         Expedito traça um painel da vida de Virgulino Ferreira da Silva, nascido em Vila Bela, Pernambuco, filho de José Ferreira da Silva e de sua mãe Maria, tendo como irmãos - Antonio Ferreira, João Ferreira, Ezequiel Ferreira e Levino Ferreira e as irmãs Amália e Maria Vitória. O pai foi agricultor e os seus irmãos tropeiros.
          O começo da história de Lampião, é a seguinte, segundo o autor. A familia de Lampião tinha um vizinho e amigo por nome Saturnino. Um vaqueiro de Saturnino inventa ao seu patrão que Virgulino Ferreira e os seus irmãos amarraram um chocalho em um boi pertencente a ele, Saturnino. Amarrar um chocalho em uma rês naquela região era uma desfeita descomunhal. Saturnino, então, vai a casa dos Ferreira tirar satisfação, claro. O pai de Virgulino, seu José Ferreira, pede aos filhos que procurem Saturnino para tirar a história a limpo. Saber que invenção foi aquela, mas Saturnino não os recebe. Para piorar a situação, acontece outro agravante com o boi de Saturnino, o animal é ferrado com o nome dos Ferreira. Saturnino vira uma fera. Junta dez homens, invade a casa dos Ferreira, mata José Ferreira e dona Maria, só não mata os filhos por que todos fogem, inclusive Virgulino. Estava feito o salseiro. Virgulino e seus irmãos resolver matar Saturnino que tentava fugir, atacam sua fazenda, matam seu gado e incendeiam tudo. O pior os irmãos Ferreira fizeram quando encontraram o vaqueiro, que tinha inventado toda a confusão. Matam o vaqueiro, sangrando-o, e jogam nas chamas da fazenda de Saturnino. Os irmãos Ferreira, depois de enterrarem seus pais, fogem com medo da policia. Sem poder voltar para o lugar de onde moravam, os irmãos terminam formando um grupo de assassinos, tendo Virgulino como chefe.  Numa perseguição policial morrem João, Ezequiel, Levino e Antonio Ferreira. Virgulino escapa e termina formando um bando sozinho, passando a aterrorizar todo o sertão. Tinha virado assim Lampião.
         Depois do relato de como Lampião entrou no cangaço, expedito continua a contar no seu cordel as escaramuças do bandoleiro. Segundo ele o nome Lampião vem do fuzil de Virgulino, que cuspia fogo como um candeeiro. Lampião vivia nos estados da Paraiba, Pernambuco e Ceará. O cordel relata vários casos extravagantes de Lampião, como: fazer um cabra dele comer um litro de sal;invadir a casa de um inimigo no dia do casamento de sua filha, fazendo todo mundo dançar nu, estuprar as mulheres, matar toda sua familia,  queimar a casa e sair cantando mulher rendeira.; espetar um coiteiro, depois de matá-lo num pé de mandacarú; Capar um velho que queria estuprar uma moça, e prender um capitão da policia, depois de andar com ele amarrado em cima de um animal, mas pela bravura do capitão terminou soltando o homem, dando-lhe um cavalo para que ele fugisse.