domingo, 31 de janeiro de 2016

SOBRE A LEI A. TITO FILHO, NOVAMENTE



            Não custa lembrar para os que conhecem e, em especial, para quem não conhece que a Lei que criou o Projeto Cultural A. Tito Filho - Lei A. Tito Filho - foi criada em março de 1993, pelo então prefeito Municipal de Teresina,  professor Wall Ferraz. Essa Lei foi baseada na Lei Rubem Braga, de Curitiba, Paraná, quando foi apresentada por nós quando éramos diretor da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
            A Lei A. Tito Filho, na sua primeira versão era no Sistema de Mecenato, ou seja, o produtor cultural de posse de Incentivos Fiscais do município ia atrás do patrocinador, simples assim. Nesse sistema ela durou de 1993 a 1997, e muitos projetos foram incentivados. A critica mais ferrenha do meio cultural era a  falta de conhecimento da Lei pelos empresários assim como o desconhecimento, também, dos empresários de quem produzia cultura em Teresina, terminando por beneficiar apenas aqueles artistas e produtores que tinham visibilidade na cidade. 
          Na campanha de Firmino Filho para a Prefeitura de Teresina, em 1996, houve um encontro entre o candidato, artistas e produtores culturais que reivindicaram a criação do Fundo Municipal de Cultura, o que democratizaria o acesso a Lei A. Tito Filho. O doutor Firmino Filho foi eleito e imediatamente nomeou uma comissão formada por três membros para rever a Lei e criar o Fundo Municipal de Cultura. Essa Comissão formada por mim, Afonso Lima e o advogado Jean Paulo apresentou ao Prefeito o texto da Lei, nos dois formatos - Mecenato e Fundo, no entanto, o prefeito optou apenas pela criação do Fundo. Dessa forma, a partir da Lei 2.548, de 10 de julho de 1997, Decreto 3.915, de 1998, foi criado o Fundo Municipal de Cultura, dando a gestão do Fundo á Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
           Agora estamos sabendo que a Fundação Monsenhor Chaves nomeou comissão para rever novamente a Lei A. Tito. O que podemos dizer é que da forma que a Lei se encontra não funciona. Primeiro, por falta de gestão e segundo, por que o próprio Fundo Municipal de Cultura não tem como se manter seja por pura falta de interesse da Prefeitura ou pelo próprio sistema de Fundo, onde quem faz a captação do dinheiro é a Fundação Monsenhor Chaves junto as empresas. Ora, a FCMC até o momento mostrou pouco interesse nesse sentido, emperrando a Lei.  Na nossa opinião, caberia os dois sistemas de incentivo - Mecenato e Fundo -, pois Teresina cresceu, os empresários tem maior consciência empreendera e os artistas e produtores estão mais conscientes do seu papel e já aparecem visivelmente como classe profissional. O Fundo ficaria para entidades sem fins lucrativos, e para incentivar a cultura identidade de um povo, de uma cidade.
           Portanto, que essa comissão trabalhe e mostre ao prefeito a necessidade de reformular a Lei mas, principalmente, de cumprir a Lei, por que senão de nada vai adiantar.
             Depois voltaremos ao assunto. É muito importante.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PAU A PAU



                  Foi no ano de 1978 que fiz a estreia de meu segundo espetáculo como autor e diretor, a peça Pau a Pau, com interpretação de Lorena Campelo, Lili Martins, Afonso Miguel Aguiar e Ribamar Rocha, a apresentação  foi no Theatro 4 de Setembro.
                  O texto falava sobre o latifúndio, problemas de terras do nordeste brasileiro, de uma forma meio rançosa. O plot era mais ou menos o seguinte: Um roceiro desafia o coronel da cidade em corridas de cavalos, coisa que nunca tinha acontecido no lugar. Mas a corrida de cavalo era apenas o pano de fundo para a discussão das terras que o Coronel tinha em seu poder, terras tomadas o troco de bananas de várias familias. A disputa da corrida de cavalos levou o povo do lugar a tomar partido, uns do lado do Coronel e outros do lado do roceiro. O embate final dava-se numa quitanda, onde o coronel e o roceiro bebiam pinga antes da corrida. Lá para as tantas, o coronel descobre  que o roceiro botou chifre nele com sua jovem mulher, o homem parte para o roceiro e é morto por ele.
                  Naquele ano a  censura ainda era braba em nosso país, e todos os nossos trabalhos de teatro tinham que passar pela censura prévia da Policia Federal. Lembro que fui liberar o texto e o censor foi taxativo - a peça não podia se apresentar com o final escrito. Era tirar, reescrever ou suspender a estreia. Para mim foi um deus nos acuda.
                    Lembro que discuti  o problema com Lili Martins, ator e cenógrafo da peça, e para o ensaio geral, com a presença do sensor o tempo todo com o texto na mão, fazendo questão de minha presença a seu  lado, ensaiamos apagando a luz antes que o coronel caísse morto em cena. Foi a solução que encontramos para driblar a censura. Só que na apresentação para valer ninguém obedeceu isso, por que sabíamos que raramente algum sensor assistia aos espetáculos
                     Mas o interessante mesmo foi a polêmica. Quando contei a censuara do texto  para Santana Silva, diretor e ator de teatro, meu amigo, ele não contou conversa. Disse que era amigo de Petrônio Portela, e na realidade era, que naquele período era Ministro da Justiça, e que ele daria um jeito. O mais interessante de tudo foi que o Ministro Petrônio Portela, responsável pela abertura politica do pais, veio a Teresina para dar uma palestra. E eu fui a palestra no auditório do Ministerio da Fazenda quase obrigado por Santana e Silva, para falar com o Ministro, vejam só. Terminada a palestra, Santana furou caminho até o ministro, e sapecou. Ministro este é o Ací Campelo, ele é diretor de teatro, tem uma peça sua que foi censurada, e coisa e tal. O ministro simplesmente olhou para mim e não disse nada, só que passei muito tempo sem esquecer daquele olhar. Um olhar que parecia dizer muita coisa.
                    A peça Pau a Pau continuou a se apresentar com o mesmo final que foi escrita. Um roceiro matando um coronel em pleno palco por motivo de terras. Naquele tempo um desafio.