segunda-feira, 31 de agosto de 2020

CAVALINHO AZUL, A Poesia de Volta ao Teatro.

                                                       Publicado no Jornal Diário do Povo 20.11.1994


               O mercado para o teatro infantil em Teresina sempre foi um filão dos melhores da arte, todavia pessimamente explorado pelos grupos de teatro da cidade, sendo raros os produtores que primam pela qualidade dos espetáculos promovidos. Certas armações são um abuso em cima das crianças, indefesas por causa das rarissímas opções ou porque os pais desconhecem aquilo que o filho estar assistindo no teatro. Teatro infantil é, na essência, sinônimo de formação, formação do gosto, da personalidade, da fruição da arte e da cultura, sem maniqueísmo bobo ou falso moralismo.

                    Os últimos espetáculos infantis apresentados no Theatro 4 de Setembro foram de uma falta de imaginação acima de qualquer suspeita. Se é que podemos chamar de teatro infantil uma miscelânea de bonecos, caricaturas de animais, pernas -de-pau, malabaristas, aprendiz de mágicos, palhaços, tudo embalado por trilhas musicais, até "Zé Bandeira e Seu Agente Tetra", entraram na legitimização da falta de imaginação.

                    No meio do conturbado caos surge "O Cavalinho Azul", de Maria Clara Machado, com direção de Arimatan Martins, numa montagem do Grupo Harém de Teatro, com músicas originais do maestro Reginaldo Carvalho. Belo exemplo de bom gosto e de respeito ao publico infantil, quando o diretor se deixa levar pela poesia de Maria Clara Machado, captando sua essência,sem cair nos modismos momentaneos. Até a música original de Reginaldo Carvalho, criada no ano de 1960 para a estreia do espetáculo no Teatro O Tablado, no Rio de Janeiro, foi mantida e continua pontuando o espetáculo muito bem. Arimatan conduz o espetáculo de forma a não agredir o lúdico e a fantasia, colocando a imaginação de diretor a serviço do encantamento. São ícones, simbolos e signos num processo crescente para atingir o melhor resultado, seja estético ou de compreensão. Para a criança, não poderia ser mais bonito. Ainda que a criança Teresinense pareça viciada em palhaçadas e saramaleques no palco, prende-se ao espetáculo. "O Cavalinho Azul" é este momento mágico que pode trazer de volta a alegria do teatro infantil. Uma produção simples, mas de extremos zelo e cuidado.

                  Em "O Cavalinho Azul" nem tudo é tão azul. Existe a lentidão na interpretação do menino Vicente, falta explorar mais a graciosidade da personagem Menina e explorar o Palhaço fazendo-o mais palhaço, coisas fáceis de resolver. Outra sugestão é que não se faça coringa com o ator Siro Siris, na intrpretação da Velha-Que-Viu. a falta de atriz será tão grande na cidade? O resto é um Cavalinho Azul que resgata o fazer teatral infantil Teresinense, que há muito não via um espetáculo tão digno para a criança.           

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