quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PAU A PAU



                  Foi no ano de 1978 que fiz a estreia de meu segundo espetáculo como autor e diretor, a peça Pau a Pau, com interpretação de Lorena Campelo, Lili Martins, Afonso Miguel Aguiar e Ribamar Rocha, a apresentação  foi no Theatro 4 de Setembro.
                  O texto falava sobre o latifúndio, problemas de terras do nordeste brasileiro, de uma forma meio rançosa. O plot era mais ou menos o seguinte: Um roceiro desafia o coronel da cidade em corridas de cavalos, coisa que nunca tinha acontecido no lugar. Mas a corrida de cavalo era apenas o pano de fundo para a discussão das terras que o Coronel tinha em seu poder, terras tomadas o troco de bananas de várias familias. A disputa da corrida de cavalos levou o povo do lugar a tomar partido, uns do lado do Coronel e outros do lado do roceiro. O embate final dava-se numa quitanda, onde o coronel e o roceiro bebiam pinga antes da corrida. Lá para as tantas, o coronel descobre  que o roceiro botou chifre nele com sua jovem mulher, o homem parte para o roceiro e é morto por ele.
                  Naquele ano a  censura ainda era braba em nosso país, e todos os nossos trabalhos de teatro tinham que passar pela censura prévia da Policia Federal. Lembro que fui liberar o texto e o censor foi taxativo - a peça não podia se apresentar com o final escrito. Era tirar, reescrever ou suspender a estreia. Para mim foi um deus nos acuda.
                    Lembro que discuti  o problema com Lili Martins, ator e cenógrafo da peça, e para o ensaio geral, com a presença do sensor o tempo todo com o texto na mão, fazendo questão de minha presença a seu  lado, ensaiamos apagando a luz antes que o coronel caísse morto em cena. Foi a solução que encontramos para driblar a censura. Só que na apresentação para valer ninguém obedeceu isso, por que sabíamos que raramente algum sensor assistia aos espetáculos
                     Mas o interessante mesmo foi a polêmica. Quando contei a censuara do texto  para Santana Silva, diretor e ator de teatro, meu amigo, ele não contou conversa. Disse que era amigo de Petrônio Portela, e na realidade era, que naquele período era Ministro da Justiça, e que ele daria um jeito. O mais interessante de tudo foi que o Ministro Petrônio Portela, responsável pela abertura politica do pais, veio a Teresina para dar uma palestra. E eu fui a palestra no auditório do Ministerio da Fazenda quase obrigado por Santana e Silva, para falar com o Ministro, vejam só. Terminada a palestra, Santana furou caminho até o ministro, e sapecou. Ministro este é o Ací Campelo, ele é diretor de teatro, tem uma peça sua que foi censurada, e coisa e tal. O ministro simplesmente olhou para mim e não disse nada, só que passei muito tempo sem esquecer daquele olhar. Um olhar que parecia dizer muita coisa.
                    A peça Pau a Pau continuou a se apresentar com o mesmo final que foi escrita. Um roceiro matando um coronel em pleno palco por motivo de terras. Naquele tempo um desafio.
                  

Nenhum comentário: