quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ARTE INDEPENDENTE


           Vez por outra esse tema volta a discussão. Arte independente, artista independente. Sempre me perguntei, quando me deparei pela primeira vez com  esse tema, o que seria isso, melhor dizendo - arte ou artista  independente de que? 
           Lembro que foi no ano de 1981 que aconteceu em São Paulo, capital, o I Encontro de Arte Independente, se não me engano no Sesc - Pompeia, onde inúmeros grupos de teatro e de arte do Brasil se fizeram presente. As discussões foram muitas, varavam as noites, e os botequins. O Piauí se fez presente com dois espetáculos e a presença dos membros da Federação do Teatro. Para chegar a São Paulo precisamos contar com a ajuda do governo do Estado, o evento era bancado além do Sesc, também, do governo do Estado de São Paulo e do governo Federal, então, a pergunta que eu me fazia era, I Encontro de Arte independente de que, se tudo era pago dos cofres públicos?
            Ainda hoje essa discussão permeia com o mesmo tom, o mesmo pensamento. No mês passado, na Câmara Municipal de Teresina, numa audiência pública sobe a Lei A. Tito Filho, um artista vociferou do microfone - Enquanto nós artistas piauienses vivermos atrás do poder público continuaremos na miséria, nunca seremos artistas de verdade. O rapaz dizia isso enchendo o peito como se estivesse descoberto o ovo de Colombo. Primeiro dizer que o poder público não cria arte, segundo dizer de sua deselegância com artistas e produtores culturais que estavam na audiência e que,  naquele momento, defendiam a Fundação Cultural do Município como funcionários da casa. Ora, esse argumento de que o artista que precisa do poder público para viabilizar sua arte não é artista é, no minimo perigoso, é igualar toda criação artística e toda forma de cultura ao mercado. Mas tem manifestação artística, principalmente da cultura popular, portanto, menos conhecida e visível que necessitam de proteção para se manter como identidade de um povo.
        Depois voltamos a pergunta lá do inicio - Arte Independente de que? Por não precisar do Estado para se manter? Por não precisar de empresas privadas para viabilizar seus projetos? Seria independente aquela arte que se mantêm  apenas pelo público que a consome? Mas esse público não tem suas preferências, seus gostos e só consume aquilo que quer ou aquilo que lhe metem de goela abaixo. Nesse caso o criador continuaria independente?
         Nunca me prendi a esse tipo de dilema. O Estado como ente federativo deve cuidar com equidade e da mesma forma  de todas as necessidades de seus cidadãos, e se o cidadão precisa de educação, saúde, segurança e casa própria, também, precisa de cultura e arte. Ou será que só quem pode exigir do governo são os empresários? O agronegócio? Os banqueiros? Os taxistas? Os donos de empresas de ônibus? Os artistas não podem exigir que se cumpra as leis de incentivo? Que se destine dinheiro para a preservação do patrimônio, seja material e imaterial? Que papo é esse? 
        Quem deve ser independente é o artista e sua criação. Nunca se vender nem se render a regras que possam tolher sua criatividade. No momento em que a forma de viabilizar sua obra seja tolhida ou direcionada ai sim, o artista deve ser independente e agir como um ser criador. Mas se em nenhum momento ele é proibido de fazer o que quer com sua arte, o dinheiro pode vir de onde vier, pois o que importa é a sua manifestação e a sua criação livre e soberana. 

Nenhum comentário: