segunda-feira, 15 de novembro de 2021

JACÓ, O VELHO - I

               A última vez que vi seu Jacó, o velho, carinhosamente chamado de Jacosinho, foi no final dos anos oitenta, já na altura dos seus oitenta anos.Seu Jacó era um dos patriarcas da Roça dos Pereira, Pedro II. Nunca esqueci o jeito dele cumprimentar as pessoas que não conhecia. Primeiro ficava de cócoras na frente da pessoa, depois botava a mão no queixo, ai disparava.

                 - Quem é você?

                   Foi a primeira vez que ouvir alguém fazer essa pergunta na cara de  outra pessoa, pergunta que se tornaria tão popular nos anos dois mil, feita de forma jocosa.

                - Quem é você!

                  Jacó, o velho, cognominado assim para diferenciar do sobrinho Jacó, o novo, também chamado de Jacosinho. Os dois Jacós habitavam o mesmo mundo da imaginação criando ao redor deles histórias que eram repetidas exaustivamente, passando ao imaginário dos habitantes da Roça. Cada um na sua proporção. 

                 Muitas das história de Jacó, o velho, depois da sua morte tinham virado lendas, e eram contadas em rodas de conversas, e repetidas em rodas de conversas, como forma de animar a todos e de lembrar a figura venerada do velho Jacó.

                  Entre tantas histórias se costuma lembrar de algumas. Entre as quais de como seu Jacó guardava a lembrança daqueles que lhes deviam dinheiro. Para cada devedor ele colocava caroço de milho dentro de um vidro, cada caroço um cruzeiro. Quando o cidadão ia lhe pagar eu contava quantos caroços tinha dentro do vidro e cobrava a conta. Não errava uma. Vendo que fazia tempo que nenhum devedor ia saldar sua divida seu Jacó pegou o vidro com mais caroço de milho e começou a contar. Para tanto, ele enfileirou os caroços de um por um no chão. Aquela fila sem fim de caroço de milho no meio da sala. Mas seu Jacó não prestou atenção na galinha que comeu quase todos os caroços de milho. Foi um deus nos acuda.

                Sua mulher vendo a aflição do marido veio a sala.

             - E agora,mulher, vou fazer o que?

             - Mas o que foi, homem?

             - A desgraçada da galinha  comeu a divida de seu Didor, quase toda!

                Momentos de silencio. O que fazer? Foi ai que seu Jacó lembrou.

             - Agora só tem um jeito,mulher.

             - Pois diga, homem?

             -  Comer a galinha. E contar quantos caroços de milho tem no papo da bicha.

 

                                                                                    CONTINUA

 

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