quinta-feira, 1 de abril de 2021

DESCOBRINDO A POLITICA ESTUDANTIL

                 A  primeira vez que atentei, de verdade, para um fato político foi no ano de 1968, quando foi morto pela ditadura militar no Restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luiz. Eu estudava o último ano do primário no Grupo Escolar Anisio de abreu,  perto de minha casa, na zona norte de Teresina. A morte daquele estudante acendeu um estopim no país todo, e acendeu também, um alerta na minha cabeça. Já tinha ouvido falar muito em ditadura militar, pois meu pai fora cassado por ela, quando era vereador na cidade de Altamira, no Estado do Maranhão. No entanto, nos meus treze anos de idade a ditadura ainda não tinha me alcançado, e nem eu tinha alcançado ela. Foram os clamores  da morte de Edson Luiz  que me fizeram ficar esperto, e a começar a criar dentro de mim uma vontade de defender a liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de ser e de viver da pessoa.

               No ano de 1969 fiz o exame de admissão e ingressei no curso ginasial, no Colégio Estadual Helvidio Nunes, também perto de minha casa. Meus amigos do ginasial já incluia futuros poetas, escritores, advogados, engenheiros, médicos e outras profissões e, também, um bando de maconheiros, curtidores de festinhas embaladas a rock'roll, anfetaminas e Coca-cola com Rum Montilla. Uma loucura! Mas era o outro lado além da ditadura. Éramos jovens e nada mais. Para quem discutia e pensava em mudar a realidade do país, botando os militares para correr, tomei pau. E pau aqui era pra valer. Sim, sabíamos disso. Foi no ginasial que acordei completamente para a politica, no sentido de defesa da democracia. Logo eu um tímido de dar pena. 

             Lembro que minha mãe fazia questão de que eu fosse sempre impecável para o colégio. Limpo e engomado dos pés a cabeça.Nesse quesito podia-se dizer que eu era o numero dois do colégio, senão o primeiro. Não sei se por isso mesmo, o diretor Agnaldo Camilo estava sempre de olho em mim, e tome ser pelotão nos desfiles de 07 de setembro, e de ser convocado para alguma comemoração festiva do colégio.

             Acho que de tanto me esmerar no vestir e no calçar, diga-se por causa de minha mãe, e de obedecer sempre ao diretor, fui convidado para compor uma chapa de criação do grêmio escolar do colégio. Logo eu que falava pouquíssimo! Mas, enfim, fui eleito vice-presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Helvidio Nunes. O presidente era o extrovertido e divertido Raimundo Santana, o Raimundinho, liderança incontestável. Obviamente tendo como parâmetros a obediência a todos os preceitos da moral, da ética e dos bons costumes. No entanto, mesmo que o pessoal da grêmio tenha sido escolhido a dedo pelo diretor.Quem garantiria isso tudo?

            O movimento estudantil nos anos setenta era forte no Estado. Os grêmios eram filiados ao Centro Colegial dos Estudantes Piauiense, o famoso CCEP, verdadeiro celeiro de lideranças estudantis, e de lutas intensas de resistência politica a favor da democracia. Ser eleito e participar do grêmio estudantil foi uma guinada em minha vida de colegial. O grêmio promovia vários eventos no colégio  e estava sempre a frente da organização de datas festivas, sem contar a promoção de festinhas e passeios em açudes e balneários. E tome esbórnia!

           O teste final do meu aprendizado como participante de um grêmio e do movimento estudantil veio com um congresso para renovação da diretoria do CCEP. Um inferno de luta pelo poder da entidade. Ninguém queria perder. O congresso foi realizado no Auditório Herbert Parentes Fortes. Na minha timidez jamais me pronunciei em debate, mas conversava nos bastidores. No último dia, quando da eleição da diretoria, o debate foi grande. Ninguém queria conduzir a mesa dos trabalhos da eleição. Quando em plenário fui consultado se aceitaria. Como eu? De pronto aceitei. Sem pensar. Só podia ter sido articulação do Raimundinho Santana. E foi. Lá vai eu, junto comigo dois secretários da mesa. 

          Quando peguei o microfone para falar, já fui interrompido por vários membros da assitência pedindo a palavra, questão de ordem, o escambau. Fiquei sem saber o que fazer. Um dos secretários me aconselhou a dr cinco minutos para a apresentação das chapas. E eu dei. Tomei uma vaia terrível. Para alguns eu tinha cassado a palavra, para outros eu não sabia patavina de conduzir mesa para eleição. Esses últimos acertaram.

          Enfim, a eleição aconteceu. Depois alguns estudantes batiam em meu ombro dizendo:

       -. É assim mesmo que a gente aprende, companheiro!

          Foi ai que comecei a aprender tudo de bastidores de uma eleição de entidade.   

               

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