segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

CHICO PEREIRA OU O DESTINO DE DUAS RAIMUNDAS - I

                                                    (Publicado no Jornal da Manhã, de 19.12.1985)

              Chegou ao final a Semana Chico Pereira, ocorrida de 09 a 15  próximo passado.Com ela a certeza de que um dos mais importantes eventos foi cumprido na historiografia do teatro piauiense. Nosso teatro que, sem dúvida alguma, foi a arte que desabrochou, afirmou-se e brilhou soberana no decorrer deste ano. Com o término da Semana Chico Pereira fechou-se um ciclo brilhantemente,  dando-nos a certeza da maturidade em que nosso teatro se encontra, ao mesmo tempo em que abre um leque incrivel de considerações, debates e analises desse árduo caminho percorrido pelo nosso teatro.E é sobre este prisma que vamos abordar a Semana Chico Pereira enfocando, de um lado, a própria Semana e, do outro, seus dois textos encenados, ou sejam: Raimunda Jovita na Roleta da Vida e O Trágico Destino de Duas Raimundas.
                 Sobre a Semana Chico Pereira muito se tem a dizer. Deixando de lado os lances sem muito relevo, vamos abordá-la de três ângulos que achamos da maior importância para uma futura promoção deste porte. Mas antes vamos dar vivas e palmas para Tarciso Prado, o idealizador e realizador da Semana que, com garra, sangue e pique total sacudiu mais uma vez o pó de velhas estruturas e desnudou outra vez a burrice e a ignorância de nossa tecnoburocracia cultural. E bota burrice nisso. Os três enfoques que gostariamos de abordar  sobre a Semana são bem simples: Primeiro uma certa falta de planejamento. Em teatro, e Tarciso sabe disso, a equipe é imprescindivel. Para nós faltou um trabalho em conjunto na Semana Chico Pereira. Claro que tem os percalços, inerente a todo grande evento. É tanto que a Semana esteve ameaçada de não acontecer, mas aconteceu, felizmente. Faltou mais entrosamento, para evitar os furos, como por exemplos, o espaço livre que não funcionou e iria ajudar muito na manifestação de outras áreas culturais, como da própria manifestação da Semana.; O lançamento do livro de Francisco Pereira da Silva e a não presença do diretor teatral Aderbal Junior, foram outros furos da programação. 
              Apesar da ajuda de muitas pessoas, Tarciso prado terminou realizando a Semana quase sozinho, muitas ajudas foram isoladas e as pessoas envolvidas diretamente no evento só deram conta das montagens que seriam levadas durante o evento. Talvez tenha faltado um trabalho maior junto a classe teatral, com exposição de propostas, e temos certeza, que todo o movimento teatral teria se engajado. Nesse sentido, também verificamos uma falha incrivel na divulgação. Outro ponto que nos chamou atenção foi a importancia que se deu a presença de autoridades na programação. Era o Secretario de Cultura, o Prefeito, não sei lá mais quem, atrasando tudo, e terminando nem comparecendo. Ora, é preciso acabar com essa coisa de fazer arte para autoridades se deleitarem. Para isso eles promovem seus próprios eventos. Arte é para o povo, pode ser que a partir daí, quando o povo tomar de conta de suas manifestações, as autoridades possam enxergar e dar valor, por que mesmo elas precisam do povo para se manter nos seus postos. Esperar por comparecimeno de autoridades para assistirem aos nossos espetáculos, é perda de tempo. Eles não estão interessados em nossa arte, o que é uma pena porque estão perdendo belissimos espetáculos e o que é pior, uma boa oportunidade de crescerem culturalmente. Esse negócio também de mandarem seus representantes já está enchendo o saco. Por último vamos falar do aspecto economico da Semana Chico Pereira. Sabemos do gasto com a produção, sabemos do pagamento de atores, diretores, técnicos, do sacrificio que foi feito para isso. Não entramos na questão do dinheiro, mas em outro aspecto. Por que tudo de graça? Houve patrocinio da prefeitura? De outros orgãos? Por se ter ganho a publicidade? Se foi para o povo vir ao teatro, a intenção foi ótima. Agora nossa colocação acima, por ter sido de graça, é que nesse momento, em que o teatro piauiense busca se afirmar, é tremendamente prejudicial ao movimento de teatro amador, que luta no escuro para produzir teatro e que não tem oporunidade de patrocinio. Depois foram ótimos espetáculos e que mereciam plateias pagantes. Até que a estreia poderia ser de graça, por ser festa, mas certamente teatro de graça não é a melhor forma de manter público para o teatro. Isso não cria hábitos, pode criar vicio. E como manter produções dessa forma? Se os atores foram pagos porque a Semana foi patrocinada, até quando vai ser assim?Só se forem patrocinados nossos atores vão ganhar dinheiro?                .

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