segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

LAMPIÃO E SEUS CABRAS NA LITERATURA DE CORDEL - UM ESTUDO - UM

         Os autores da chamada literatura de cordel sobre o cangaceiro Lampião são obrigados a saber da história e da vida do fora da lei? Se Lampião fosse uma lenda, uma ficção, entendemos que não. Acontece que Lampião era o apelido de Virgulino Ferreira da Silva, um homem de carne e osso e, portanto, além do talento e do imediatismo de cada cordelista, todos deveriam ter um ponto em comum: saber da vida e da turbulenta história de Lampião. Mas, seria obrigado mesmo?
         Fiquei curioso em saber como os autores de cordel usaram suas fantasias e criatividade para tratar do tema Lampião. Separei vários cordéis da minha coleção sobre o cangaço no nordeste brasileiro para fazer um estudo comparativo das histórias sem usar qualquer critério técnico cientifico, apenas curiosidade mesmo. O primeiro cordel foi "Trechos da Vida Completa de Lampião", de Expedito Sebastião da Silva. Conforme o titulo , o autor quis ser o mais completo possivel sobre o mito Lampião. Dessa forma, é a partir desse cordel que vamos fazer o nosso estudo.
         Expedito traça um painel da vida de Virgulino Ferreira da Silva, nascido em Vila Bela, Pernambuco, filho de José Ferreira da Silva e de sua mãe Maria, tendo como irmãos - Antonio Ferreira, João Ferreira, Ezequiel Ferreira e Levino Ferreira e as irmãs Amália e Maria Vitória. O pai foi agricultor e os seus irmãos tropeiros.
          O começo da história de Lampião, é a seguinte, segundo o autor. A familia de Lampião tinha um vizinho e amigo por nome Saturnino. Um vaqueiro de Saturnino inventa ao seu patrão que Virgulino Ferreira e os seus irmãos amarraram um chocalho em um boi pertencente a ele, Saturnino. Amarrar um chocalho em uma rês naquela região era uma desfeita descomunhal. Saturnino, então, vai a casa dos Ferreira tirar satisfação, claro. O pai de Virgulino, seu José Ferreira, pede aos filhos que procurem Saturnino para tirar a história a limpo. Saber que invenção foi aquela, mas Saturnino não os recebe. Para piorar a situação, acontece outro agravante com o boi de Saturnino, o animal é ferrado com o nome dos Ferreira. Saturnino vira uma fera. Junta dez homens, invade a casa dos Ferreira, mata José Ferreira e dona Maria, só não mata os filhos por que todos fogem, inclusive Virgulino. Estava feito o salseiro. Virgulino e seus irmãos resolver matar Saturnino que tentava fugir, atacam sua fazenda, matam seu gado e incendeiam tudo. O pior os irmãos Ferreira fizeram quando encontraram o vaqueiro, que tinha inventado toda a confusão. Matam o vaqueiro, sangrando-o, e jogam nas chamas da fazenda de Saturnino. Os irmãos Ferreira, depois de enterrarem seus pais, fogem com medo da policia. Sem poder voltar para o lugar de onde moravam, os irmãos terminam formando um grupo de assassinos, tendo Virgulino como chefe.  Numa perseguição policial morrem João, Ezequiel, Levino e Antonio Ferreira. Virgulino escapa e termina formando um bando sozinho, passando a aterrorizar todo o sertão. Tinha virado assim Lampião.
         Depois do relato de como Lampião entrou no cangaço, expedito continua a contar no seu cordel as escaramuças do bandoleiro. Segundo ele o nome Lampião vem do fuzil de Virgulino, que cuspia fogo como um candeeiro. Lampião vivia nos estados da Paraiba, Pernambuco e Ceará. O cordel relata vários casos extravagantes de Lampião, como: fazer um cabra dele comer um litro de sal;invadir a casa de um inimigo no dia do casamento de sua filha, fazendo todo mundo dançar nu, estuprar as mulheres, matar toda sua familia,  queimar a casa e sair cantando mulher rendeira.; espetar um coiteiro, depois de matá-lo num pé de mandacarú; Capar um velho que queria estuprar uma moça, e prender um capitão da policia, depois de andar com ele amarrado em cima de um animal, mas pela bravura do capitão terminou soltando o homem, dando-lhe um cavalo para que ele fugisse.

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