sábado, 26 de janeiro de 2019

PARA AS MULHERES


             Quando eu era bem criança, bem criança ainda, ouvi minha mãe rezar – “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós...”. Foi a primeira vez que ouvi o nome de Santa Maria. Então, pensei que só existia uma santa: Santa Maria, a mãe de Deus!
             Virei menino, e descobri que existiam muitas santas. Descobri isso convivendo com minha mãe. Tantas  santas! Era  Santa Luzia, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Santa Madalena, Nossa Senhora da Conceição, Santa Teresinha...eram tantas! Fui criado sem a presença de meu pai, sem os olhos e a face de meu pai, sem os seus carinhos, sem o seu amor e as suas lágrimas; fui criado sem os conselhos, sem a retidão e o suor do trabalho  de meu pai. Mas tudo isso, e muito mais, tive de minha mãe. E o suor, o cansaço e a fadiga do trabalho, e as lágrimas que ela derramou, de forma incondicional, para me tornar um homem, foi o que me  fizeram pensar, cheio de paz e gratidão, que além de todas aquelas santas da minha meninice, existia outra santa – minha mãe!
          Mas minha mãe era uma mulher, pensei. Mas as outras santas não eram mulheres? Claro, mas nem todas as mulheres eram santas, ainda que na minha cabeça, minha mãe continuava sendo uma santa.  E quando me tornei um homem, com toda minha formação de ética, e de caráter, herdado de uma mulher, passei a admirar as mulheres e a respeitá-las. Não. o respeito do temor, não a admiração da idealização, mas o respeito pelo que as mulheres representam no meu imaginário: a sabedoria, a perspicácia, a fortaleza.   
        A beleza e a inteligência me fascinam,  nesse ser ás vezes inigmático, indecifrável, cheio de nuances. E a beleza aqui não é a beleza física, o belo em si, mas a força do ser. E a fascinação pela sabedoria delas  me faz pensar no seu poder de convicção, na certeza de seu papel no mundo. Mesmo porque, na minha imaginação, se a mulher não existisse qual o mundo que existiria?
        E nesse mundo tão cruel, em que as mulheres são mortas e violentadas, no seu direito sagrado de ser apenas mulher, fico perplexo com tanta estupidez humana. Como ser humano, e homem, vindo ao mundo e criado por uma mulher, no esforço do seu trabalho e no amor dela pelos seus semelhantes, posso com convicção engrossar o coro dos descontentes com tamanha barbárie. Nunca o homem foi tão lobo do homem.  
        

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