segunda-feira, 17 de setembro de 2018

VERDURINHA


            Corria os anos oitenta. Verdurinha era um inferninho escondido por uma única porta de entrada, dessas sazasaki, localizado no bairro vermelha, em Teresina. Era entrar e sair pela mesma porta. Só ia lá quem sabia. Propaganda só de boca em boca. Um lugar fedorento, mistura de bafo de cachaça com cigarros baratos. Quando se entrava no salão, e era apenas um grande salão, uma fumaça cobria sua vista que era preciso tempo para visualizar as coisas.
              O ambiente era cheio de prostitutas, mulheres de todo tipo, pareciam ter saído do filme O Vingador do Futuro, se misturavam aos bêbados, drogados, rufiões e bandidos de toda espécie. Eu e meu amigo gostávamos de ficar no pé do balcão, de olho em tudo. A primeira coisa era pedir um litro de vodka, dessas que sabíamos ser cortada, ou seja, falsificadas. Mas fazer o que? A música era uma mistura de sucessos bregas e lá vai Waldick, Evaldo Braga, Fernando Mendes, com a sujeira americana própria das boites da época. Ninguém reclamava, aplaudia. 
            A bebida rolava solta, mas o grande charme era o cigarro no bolso.Ali dentro daquele inferno, um luxo.  Portanto, era para fumar e dar. Para as putas, claro. Ainda que fosse para elas darem para seus homens, ou cafetões. Nisso eu era craque, pois não fumava. Mas a Hollywood estava sempre no bolso, e cheia. Quando não, a charmosa carteira de Carlton. 
             Passávamos pouco tempo sozinhos, pois as mulheres logo encostavam, a pedir alguma coisa. Ou mesmo para se entregar. Ali no Verdurinha você escolhia a carne que quisesse, a preço de banana, ou simplesmente a preço da bebida. Tinha apenas que saber escolher, por que senão corria perigo, e a próxima parada podia muito bem ser a boca de pau, a temida delegacia do bairro Piçarra, onde a taca comia solto no couro dos presos.
            Naquele dia eu não estava a procura dela. Uma lourinha que tinha encontrado ali mesmo no Verdurinha, cheia de alegria e palavras, e de cheiro no corpo, e de dentes perfeitos e cabelos fartos.  Um espanto naquele lugar. Tinha ficado várias vezes com ela, mas agora quem sabe, não encontraria outra? A música e a bebida rolaram na noite. E meus olhos embaçados, e a conversa com o amigo descambavam para outros rumos. A política daqueles tempos, jogando o país para um lado e para o outro. Mas até ali essa conversa?
           Foi quando ela chegou ao pé do balcão e se jogou em meus braços. Estava bebinha, e o cheiro de seu corpo exalava o puro prazer da fêmea, limpo, inebriante. Fazia tempos que eu não a via. Mas parecia coisa de ontem. Aquela moça era um feitiço,como feitiço era o Verdurinha, um inferninho que deixou de existir, para o desespero de toda espécie de homens. Inclusive o meu. 
               

Nenhum comentário: