quinta-feira, 9 de novembro de 2017

LUCY VANESS, UMA HISTÓRIA I


          A festa era no interior de uma cidade do interior. Como acontecia apenas uma vez por ano, era uma verdadeira festa, assim mesmo redundante. Desses acontecimentos dignos de ficar na memória. O lugar era um clube a beira de uma  estrada carroçal, de piçarra e poeira avermelhada. Mas quem queria saber disso?
           Chegamos cedo, eu e o amigo de infância, que há muito tempo não viu. Portanto, o momento era ímpar. Uma sanfona sertaneja já abria o evento. Coisa telúrica para meus ouvidos. Percebi que naquela noite queria degustar cada minuto do tempo, queria mesmo que o tempo parasse, coisa impossível, mas valia apena sonhar. Quem sabe a manhã não demorasse o suficiente? 
          Antes de entrarmos no salão percorremos barracas e mesinhas. E bebemos, comemorando os velhos tempos. Portanto, meu olhar já estava dando conta de coisas que normalmente eu não via. Durou pouco para percorremos o grande espaço da festa e escolhermos um local onde ficar. E durou menos ainda para que eu a visse no meio de suas amigas, principalmente por aquele olhar fulminante em mim, e um gesto esquisito de meter o dedo na boca e chupar, como se estivesse chupando uma rola. De repente, pensei que fosse alguma brincadeira de mal gosto, mas percebi que era para mim, pois cada vez que eu tirava o olho dela, e tornava a fitá-la, ela repetia aquele gesto obsceno.  e sorria. Pedrinho não se fez de rogado.
       - É pra ti, primo. Ela não pode ver rapaz de fora. 
       Fiquei sabendo algumas coisas dela. Era a Lúcia Antonia, filha de Dona Miquilina e de seu Deodato. Morava ali mesmo, no interior. Pedrinho a conhecia muito bem, portanto, sabia o que estava dizendo para mim.
        Era impossível ficar parado com aquele assédio, digamos assim. Algumas amigas dela já achavam graça, não se sabe por que. Mas eu já tinha colocado na cabeça que era por minha causa. No minimo ela estava me sacaneando. 
        Lúcia Antonia era espetacular. Uma pele branca saltando do vestido pretinho básico, e um cabelo preto farto, caindo aos ombros. Se não fosse pela bebida, eu estava na frente de uma pequena deusa.
         - Prometida para o doutor Ambrósio, meu  primo.
         - Como é que Pedrinho?
        - Prometida em casamento para o doutor Ambrósio. Nunca ouviu falar? Um pica grossa  lá da cidade. Mas é namoradeira.
           Agora danou-se, pensei. Prometida em casamento e namoradeira. Só podia ser uma piada. O cara é corno consciente?
           - Mas como é ele?
           - Quem?
           - Esse seu Ambrósio..
           - Um velho ranzinza, cheio de manias. 
             Quando o forró pé de serra foi trocado por uma banda de música sertaneja, fui ao encontro de Lúcia Antonia.
          - Vixe, custou a vim aqui! 'Tava pra ir lá te puxar, sabia?
          -  Meu nome Antonio.
          - Ah, o meu Lúcia, mas pode me chamar de Lucy...
          - Como?...
          - Pode me chamar de Lucy...Lucy Vaness. É por causa de um sabonete que mãezinha usava, e me dava banho.
          - Pode me chamar de Tony.
          - Ah, pois vamos dançar, Tony!
            Quando segurei a mão daquela moça e senti aquele corpo na dança colado ao meu, tive absolutamente certeza que o tempo ia parar. 

                                                                          SEGUE....
     
 
          
         

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