Corria o ano de 1983. Teresina era a cidade, dentre outras coisas, dos cabarés. Era cabaré para tudo quanto é canto. No Promorar, Piçarra, Parque Piaui, Poty Velho, Morro da Esperança, Dirceu Arcoverde, chovia de cabarés, uns que não passavam de espeluncas fedorentas, outros mais sofríveis. A verdade era que tinha para todos os gostos.
Eu tinha um amigo boêmio, vivedor, gastador de dinheiro, um bon vivant. E que gostava de me convidar para noitadas. Nos cabarés, obviamente. As vezes passávamos uma noite e um dia enfurnado nessas casas de reputações, digamos, não ilibadas. A gente ficava bebendo, jogando sinuca - alguns tinham mesas de sinucas - e ouvindo músicas. E certamente aqui e acolá ficando com alguma mulher.
Lembro de alguns desses lugares que faziam a festa da rapaziada. A Loura, Ana Paula, Raimundinha, Cabaré da Romana, Margarete, Verdurinha, Raimundo da Lancheira, e por aí vai. A Paisandú, o cabaré mais afamado na cidade, na realidade quase um bairro de casas noturnas, para nós dois, era o ultimo recurso.
Meu amigo chamava-se José da Providencia, já falecido. Era cenógrafo, figurinista, fotografo e um excelente diretor de teatro. Muito querido por toda a classe teatral. Foi diretor do Theatro 4 de Setembro e técnico do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Piauí.
No ano de 1981, tínhamos ido ao II Congresso Brasileiro de Teatro Amador, em São Paulo, promovido pela Confederação Brasileira de Teatro Amador - a Confenata, já extinta. Do Piauí, foram ao Congresso sete delegados, representando o movimento de teatro local. Isso tem muito a ver com o caso que aconteceu, ainda que não tenha nada a ver uma coisa com a outra.
Bem, numa dessas noitadas, eu e Providência estávamos no cabaré da Ana Paulo, muito frequentado por jogadores de futebol, e um pessoal, mas selecionado. Altas horas da noite baixou uma ronda policial no local. Estavam atrás de um meliante perigoso. Foram logo mandando todo mundo ficar de mãos para o alto, e alguns encostados na parede da sala. O Providência, para quem o conheceu sabe, só andava de branco. Ele não levantou da mesa, e nem eu. O sargento se aproximou e foi dando ordens para que mostrássemos os documentos. Providência puxou a identidade e outros documentos do bolso da camisa. Eu fui tirar minha identidade da bolsa, mas não precisou. O sargento simplesmente se desculpou -Desculpe, doutor, passar bem. Tinha dito com o Providência, e saído. Sem antes entregar a carteirinha da Confederação Brasileira de Teatro Amador.
Ficamos parados, eu e Providência. Na carteirinha estava escrito em letras grandes: José da Providência, delegado, Piauí. Em letras pequenas - Confenata.
Achamos graça, e continuamos a nos divertir.
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