Nos anos noventa participei de um Seminário sobre Identidade Cultural na Universidade Federal do Piauí, promovido pelo Departamento de Comunicação e coordenado pelo ilustre jornalista e professor Fenelon Rocha. Na mesa de debate me lembro da historiadora Claudete Dias.
Comecei minha fala dizendo que Teresina não tinha uma identidade cultural por que foi uma cidade criada, planejada, e que seus moradores vieram para cá de outros lugares, portanto, trazendo de onde vieram suas tradições, seus hábitos, seus comportamentos e sua cultura. E, sendo assim, Teresina não tinha raízes culturais genuínas. No final do seminário houve um bom debate sobre identidade cultural.
Mas uma vez colocamos esse tema aqui por que continua a me instigar profundamente o fato dessa história corriqueira entre a maioria da classe artístico -cultural de que não precisamos de identidade cultural, por que somos contemporâneo, uma capital nova, integrada, portanto, a todas as tendências.
Mas uma vez recorro a um fato, e este aconteceu em 1995, quando participamos no Rio de Janeiro de um evento no Rio Centro, onde o Piauí se fez presente com sua arte: literatura, artes plásticas, música, fotografia e artesanato. Eu coordenava a parte de literatura e artes plásticas. Lembro que houve um show do grande Edvaldo Nascimento e seu rock no mesmo instante em que um grupo de Recife estava fazendo uma apresentação musical de frevo e maracatu. Não é preciso dizer que o público do nosso autentico rock piauiense era exíguo, quase inexistente, enquanto o outro bombou. Não estou dizendo aqui absolutamente que nosso rock é ruim. Foi apenas uma comparação da diferença, do inusitado, do que faz as pessoas se admirarem, do que não é comum, daquilo que não encontramos em cada esquina do mundo global. Identidade cultural talvez seja isso, o que faz a diferença.
Cada vez mais estou convencido de que precisamos encontrar um rumo na nossa criação artística. Pode ser apenas uma opinião. Mas enquanto ficarmos apenas querendo imitar, e mal feito, o que faz a cabeça das pessoas por aí afora, continuaremos sem visibilidade alguma. Será que nosso teatro não tem nada para contar? E nossa música, nossa literatura, nossa poesia? Voltando lá para o inicio, sabe qual o produto que mais fez sucesso no Rio Centro, o artesanato. As imagens do cabeça de cuia, dos santos esculpidos em madeira, feitos de forma autentica. Penso cada vez mais que nunca conseguimos penetrar no emaranhado mundo da arte por que nosso produto nunca teve a nossa verdade, a nossa história, os nossos hábitos, o nosso ambiente social, a nossa cultura. Até aqui temos sidos meros consumidores, admiradores e macacos de auditório do que vem de fora. Uma pena.
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