domingo, 16 de agosto de 2015

BRECHT: UM TEATRO PELA PAZ


                                                                     (Publicado no Jornal da Manhã, em 1986)

             Neste ano de 1986 comemora-se em todo o Brasil os trinta anos de morte (Ou seria eternidade?)do grande dramaturgo alemão Eugen Berthold Friedrich Brecht ou Berthold Brecht ou simplesmente B.B. (E, nesse caso, cuidado para não confundir com Brigitt Bardot) Aqui em Teresina acontecerá nos dias 8 e 9 de dezembro próximo a comemoração BRECHT: UM TEATRO PELA PAZ, no Theatro 4 de Setembro, com conferências, exposição, interpretação de poemas, numa promoção da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, com apoio da Federação de Teatro Amador do Piauí. Já confirmada a presença de Lélia Abramos, João das Neves e o diretor teatral Aderbal Júnior.
                    Quem foi realmente Berthold Brecht? Do homem dizia-se que era arisco, meio sujo, barbudo, óculos aro de aço, grosseiro, solitário, sensual, dom juan, com seu eterno boné na cabeça e seu eterno charuto na boca. Do artista, que era rebelde, inconformista, sensível, revolucionário, cheio de dilemas políticos, acusado até de ter violentado seu talento ao aderir ao partido comunista, paradoxo intelectual do engajamento artistico, quando sofria restrições na própria orbita do partido ao mesmo tempo em que servia para propagar a cultura marxista  aos intelectuais do ocidente. Simples conjecturas? Não sabemos. O importante é que Brecht é, inegavelmente, um dos mais brilhantes e iluminados gênios da literatura deste século.
                   Brecht nasceu em Ausburgo, a 10 de fevereiro de 1898, filho de pais abastados, frequentou bons colégios onde era tido como um menino taciturno, de uma certa quietude negativa, mas que logo revelara sua rebeldia ao fazer uma redação condenando o conflito armado. Aos dezoito anos, quando estudava medicina e e ciência na Universidade de Munique foi convocado para a guerra como atendente de um hospital militar. Veio daí, talvez, a sua angustia permanente e a sua perseguição implacável a favor da paz, quando na sua poesia e duro e seco, torturado por imagens sofridas, injustiçadas, o que dar bem o tom da sua revolta, da sua quase impotência e, ao mesmo tempo, o sentido da sua sensibilidade, da sua delicadeza diante  dos horrores e das tragédias que afetam os homens. Em  "A Lenda do Soldado Morto" um poema duramente Brechtiano ele falava de um cadáver que é exumado e posto a desfilar gloriosamente, pronto a retornar ao campo de batalha, por que a guerra precisa de homens  como buchas de canhão. No final, o poema sentencia: "Era tanta gente que ele nem se via/da multidão em volta soltando vivas!/Do alto, pode ser que fosse visto:/ mas lá, a não ser astros, não há nada."
                A contribuição de Brecht ao teatro, a poesia e ao pensamento político do artista o fazem como um dos mais importantes do século vinte. Premiado aos 24 anos com a peça "Tambores da Noite" teve outra proeza aos escrever a sua primeira peça "Baal" em 4 dias, quando havia assistido a uma outra peça e não gostara, apostando com um amigo que escreveria sobre o mesmo tema e melhor - e assim o fez. Brecht não gostava do exibicionismo gratuito e simples e nem da emoção ilusionista no teatro. Colaborador do encenador Erwin Piscator, que fazia um teatro de esquerda, tipo "Agir Prop", e que via o palco como um instrumento para a mobilização das massas, Brecht aprofundou-se. Nasceu, então, o seu teatro dialético e o seu teatro épico, com a teoria baseada na rejeição da empatia e do desenvolvimento emocional do público com as personagens apresentadas no palco. É o badalado efeito do distanciamento ou efeito V, compreensão fundamental de todo seu teatro.
               Brecht era um artista que lutava com sua genialidade para amenizar a distancia entre os homens, entre as classes sociais, entre os povos, com enorme senso político de justiça, de compreensão e de amor. Ganhador do prêmio Stalin da Paz, em Moscou, em 1956 morre de trombose coronariana. Antes de morrer, porém, Brech viu realizado um sonho, a Fundação Berliner Ensemble, onde ele praticava seu teatro espalhando pelo mundo seu ideal artístico, um alerta geral em nome da humanidade: um grito poético em nome da paz. Para sentirmos a dimensão da coisa basta citar um escrito de sua autoria bem conhecido: "Lutem pela paz!É preciso denunciar a bomba, decida o futuro da cultura! Já foi dito que a liberdade é uma conquista. Comecemos já com a liberdade de trabalhar pela paz!" Sem dúvida alguma um aviso final aos navegantes.

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