sábado, 11 de abril de 2020

O PRINCÊS DO PIAUÍ

                                                   Publicado no Jornal da Manhã, 28.06.1980


              Estreou no dia 12 último a peça O Princês do Piauí, do Parnaibano Benjamin Santos, no Theatro 4 de Setembro. Pela primeira vez ela sobe ao palco no Brasil, numa produção maravilhosa de Tarciso Prado, com uma montagem explêndida do Grupo Teste de Espetáculos, trazendo ao conhecimento dos piauienses a obra de um autor da terra consagrado nacionalmente, com três prêmios do Serviço Nacional de Teatro. Vamos aferir em O Princês do Piauí três itens essências para a compreensão da peça: Dramaturgia, temática e montagem.
            O próprio autor frisou numa palestra que fez ao pessoa de teatro, no auditório Herbert Parentes Fortes, que o Princês era uma reviravolta em tudo que ele escrevera para criança até ali.Não temos conhecimento aprofundado de suas montagens anteriores, mas podemos supor que a reviravolta tenha sido no sentido de catarse, de técnica. A depuração da escrita cênica e a linguagem poética encontrada  no texto deixa a criança de frente a uma dramaturgia sem ilusionismos bobos que a leve ao devaneio, tudo é procura constante, é indagação: "Quer que eu conte, quer....A história da casinha de bambuê coberta de bambuá."Benjamim na sua dramaturgia infantil faz um jogo de palavras de impactos, com comparações. Ele se preocupa com o todo, o conjunto da obra teatral, deixando á criança o prazer de captar as imagens que as palavras invocam no seu pensamento infantil. Aliás, o autor, parece bastante despreocupado com a participação ativa da criança no contexto da peça, tocando a sua beleza interior, e dando critérios para sua participação de onde ela está. É certo que a estreia foi vista por adultos, restando esperar por um público infantil, no entanto, a pureza, a inocência e a ternura, ora de uma maneira trágica ( A morte da Cabra Montês), ora de uma maneira poética ( a descoberta do amor pelo Princês) campeiam soltas no texto.
           Benjamin surpreendeu a todos na sua palestra, declarando: "Vocês dão de a zero em mim, não sei do folclore piauiense." Surpresa por que em O Princês todo um mundo de lendas e fatos, que bem poderiam ser a nossa Burrinha, Num-Se-Pode, O Cabeça de Cuia, povoam a ação dramática da peça. Assim temos O Morto-Carregando-O Vivo, A Mutuca e os bonecos. São coisas da infância do autor, retiradas do fundo da memória, estando aí talvez a força telúrica e o lirismo que emana de O Princês. A temática é iminentemente nordestina , com pinceladas de universalidade.
           O Princês sai a procura de si, o homem a procura de seu destino; o nordestino fugindo da seca, da fome, mosrada na peça para a criança de uma forma não trágica, onde os elementos caracteristicos da região vão se encontrando em cada cena, compondo assim todo um quadro alegórico. Benjamin joga com a sensibilidade da criança no seu sentido de libertação do medo, a dependência, indo ao encontro do seu eu propriamente dito, com imagens e palavra do seu mundo. É preciso que exista o conhecimento da dor, da beleza e do amor, segundo o autor, para que a criança se situe no seu mundo, enxergue a sua volta. Benjamin na sua tematca é revolucionário, não no sentido panfletário, contra ou a favor. O autor indaga, investiga, , busca, estabelecendo um equilibrio próprio, segundo seus critérios de criação.O que vale é sua mensagem que no Princês bem podemos sentir de cara, basta olhar, sentir, tocar, o que e muito da criança vivendo no seu mundo de descobertas.
          Dificil seria prever uma montagem da peça pelo autor, acostumado que é a jogar com todos os elementos criativos que o teatro possa dar. No entanto, o Grupo Teste de espetáculos, sob a direção de Tarciso Prado, revigora-se depois de um silencio e dr um banho de ousadia com a montagem de O Princ~es do Piauí. É impagavel a entrada em cena de O Morto-Carregando- o Vivo e da Mutuca, o que vem a atestar a afinação entre o diretor e o autor. Obvio que não se pode fazer uma analise de como as crianças vão receber o espetáculo, como irão reagir, pois como falamos, a maioria das pessoas presentes ao teatro eram adultas. Porém, acreditamos numa boa receptividade, tudo faz crer. Uma cenografia acima dos recursos do teatro piauiense, que revelou talentos excepcionais neste campo, como Williamas Martins e Afonso Miguel, que fizeram um trabalho artesanal fora do comum. Valeu apena por proporcionar aparições no palco belissimas como a de Arimatan Martins, o Princês; Lurdinha Lima, a Torquata ou Mãe Catinha e Maria Dias, a Neusa.

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