segunda-feira, 9 de abril de 2018

NA POEIRA DO MITO - UM


                   O Jeep Toyota rodopiou no lamaçal feito uma banheira em corrente de água, e terminou afundando os dos pneus traseiros. O motorista ainda tentou várias vezes tirá-lo do atoleiro, mas a situação só piorou. A lama ameaçava os quatro pneus do veículo. 
                   Sem saída, o motorista sentenciou:
                 - Estamos atolados, pessoal.
                - Caralho, isso eu já sei! Disse o cantor Waldick Soriano ilustre passageiro do Jeep, e o maior ídolo da música popular brasileira naquele ano de 1969.
                 O cantor estava sentado no banco traseiro do veiculo, que mais parecia um banco de praça, com um litro de Vodka entre as pernas e, mesmo o dia escurecendo, conservava o chapéu de massa preto na cabeça, sua marca registrada. A seu lado Brás do Pedro, uma mistura de empresário artistico e promotor de eventos por todos os lugarejos ao redor da Roça dos Pereira, um município perto da cidade de Pedro II, que naquele ano tinha descoberto a pedra de opala em suas terras. Um feito que ficaria na história do lugar.
                 - Não se preocupe, Waldick, vamos dar um jeito - Falou Brás do Pedro, descendo do carro e melando os sapatos - Caramba, foi muita barbeiragem. Temos que sair daqui logo, hem! Por que senão como é que fica? Bravejou.
                O motorista e seu companheiro sairam do carro, tiraram os sapatos e arregaçaram as calças. Começaram a ver como desatolar o Jeep, o que certamente a luz clara no meio da amplidão da estrada carroçal, ajudaria. Os dois homens atolaram os pés na lama e começaram a missão de desatolar o Jeep, na certeza de que levavam dentro do veículo o homem que milhões de fãs adoravam país a fora. A prova da fama do artista eram eles próprios, ardorosos fãs e Waldick.
                 Brás do Pedro vendo a labuta dos dois homens, sem resultado, gritou:
              - Puta que pariu! Tem que tirar esse carro daqui. Temos que fazer um show, caramba!
                O motorista e seu ajudante estava atolados na lama tentando descobrir os pneus do Jeep com pedaços de paus. A noite era de um céu límpido, apesar do inverno, com estrelas reluzentes e uma lua clara bonita de se apreciar. Waldick continuava a tomar a sua vodka tranquilamente.
               Acostumado a enfrentar todo tipo de situação, o cantor romântico mais amado do país estava mais uma vez fazendo uma turnê pelo nordeste brasileiro, onde além de fazer shows em cada capital, saia pelas cidades interioranas se apresentando em qualquer biboca. Podia ser em praças públicas, clubes e cabarés famosos. Para o ídolo das multidões nada daquilo o constrangia.
               - Desculpe, Waldick, desculpe ai velho pela situação - Lastimava-se Brás do Pedro.
               - Pode deixar, bicho.  Vamos desatolar o carro, eu espero.
               - Claro, vamos, sim.
    

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