No ano de 1981, o Grupo Raízes de Teatro estava em cartaz com o espetáculo Mata-me Com Teus Beijos, de Rubens Lima, com minha direção, tendo no elenco Lorena Campelo, Lili Martins, Wilson Costa, Mariano Gomes e Kleber Fé. A peça gozava de relativo sucesso.
No final daquele ano recebemos a noticia de que um assessor do antigo Serviço Nacional de Teatro/SNT viria ao Piauí para escolher dois diretores de grupo, para fazer um curso de Encenação Teatral no Rio de Janeiro com tudo pago pelo orgão. Tivemos a sorte desse assessor assistir ao nosso espetáculo e, realmente, quando foi em janeiro de 1982 eu e meu amigo José da Providência, que dirigia a peça A Guerra dos Cupins,de Afonso Lima, no Grupo de Teatro Pesquisa, viajamos para o Rio pegando um ônibus da Itapemirim, para passar dois meses. Uma aventura.
Foram dois dias e duas noites de viagem. Lembro que o Providência bebia toneladas de Vodka dentro daquele ônibus, ficando aquele odor de álcool e suor em nossas poltronas. Uma noite, ainda na cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, o ônibus deu uma parada obrigatória e eu desci para me limpar. Quando ia voltando ao carro vi um jornal com a manchete Morre Elis Regina, foi um choque. Comprei o jornal e levei para o Providência. Putz! Ai, tome mais vodka ainda. Quando chegamos a rodoviária do Rio ele quase não sai do ônibus.
Quando entramos na Kombi do Serviço Nacional de Teatro, com o pessoal do Ceará, Maranhão e Pernambuco, que também tinham chegado naquela manhã, todos ficaram assustados com a condição de meu amigo. Quando um deles me perguntou o que ele tinha eu imediatamente mostrei o jornal com a morte de Elis, todos entenderam, e batiam no ombro do Provi.
Ficamos hospedados no Hotel Ambassador, no centro do Rio, perto de tudo: Teatro Municipal, Bar Amarelinho, Teatro Glauce Rocha, Teatro Rival, cinemas e um bando de inferninhos da noite carioca. Era uma festa! O programa do curso constava de aulas de direção, cenografia, figurino, dramaturgia, iluminação, palestras e assistir aos espetáculos em cartaz naquela temporada. Lembro de profissionais como Carlos Ripper, cenógrafo; Jorginho de Carvalho, iluminador; Dias Gomes, dramaturgo e Luiz Mendonça, diretor de teatro. Nossos instrutores.
No Rio de Janeiro, minha preocupação era com a eleição da Federação de Teatro Amador do Piauí, que pegava fogo com vários candidatos, pois a FETAPI era uma entidade respeitada e que realizava um bom trabalho pelo nosso teatro. Ligava para algumas pessoas para saber das novidades e me colocar á disposição de qualquer chapa concorrente.
Na programação teatral carioca assistimos a peças fenomenais, entre elas, O Beijo da Mulher Aranha, Nelson Rodrigues: O Eterno Retorno, O Mambembe, Fedra e Bailei na Curva. Vimos muitos artistas em cena como Fernanda Montenegro, Edson Celulari, Lélia Abramo, José Dumont, Elba Ramalho, Cláudia Ohana, Tonico Pereira, Cássia Kiss, Caio Blat, Claudio Marzo, Suzana Vieira, Ney Latorraca, Marcos Nanini, Tonico Pereira, Irving São Paulo, Regina Casé, Fernanda Torres, Evandro Mesquita e Luiz Fernando Guimarães. Muitos deles consagrados e outros ainda atrás da fama.
Lembro que o Providência não parava de beber e um dia entramos no Teatro Rival, para assistir uma revista musical e quando sentamos ele chamou o garçon e pediu duas caipiroscas. Stanley Whabey, um assessor do SNT assustou-se e perguntou-nos se sabíamos o preço daquilo. Continuamos a beber sem dar ouvidos a ele. Na hora de pagar a conta gastamos nossas diárias do dia e fomos para o hotel, morrendo de achar graça. De outra vez, fomos a praia de Copacabana como lazer do grupo, mas o Providência não tirou sequer a camisa de mangas nem os tênis, e ainda por cima alugou um guarda-sol e ficou sentado o tempo todo na beira do mar.
Foi uma experiência fantástica e que me serviu muito. Quando chegamos a Teresina eu tinha sido eleito Presidente da Federação do Teatro Amador do Piauí, mesmo sem estar presente. Mas isso é outra história.
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