Há muito tempo vem me preocupando a inserção do ator piauiense no mercado de trabalho. Não só como gestor de uma Escola Técnica de Teatro, que trabalha a formação profissional do ator, mas como produtor e diretor teatral tenho levantado essa questão junto a vários artistas de teatro.
Existe ainda uma confusão, de certa forma normal, mas também duradoura em nosso meio, de que não existe mercado de trabalho para o ator piauiense. A pergunta, então, vem de cara? Pra que formar profissionais de teatro? Se esse dilema ainda é forte no meio teatral, imagine fora dele, onde as universidades particulares e as universidades públicas piauienses, sem contar outros seguimentos sociais, fazem questão de desconhecer o nosso teatro. Claro que o mercado de trabalho para o ator piauiense é incipiente, mas isso impede a formação e a capacitação de mão-de-obra? Se não preparamos a mão-de-obra, como enfrentar o mercado de trabalho, seja aqui ou lá fora? Feita essa observação, lá vem outra questão de fundo: a questão artistica não deve visar o mercado de trabalho. Arte é outra coisa, sim, concordo. Mas concordo, também, que o artista precisa viver de seu trabalho.
A colocação sobre o mercado de trabalho é que tem levado nosso artista de teatro ao impasse: ser o não ser ator? Assumo ou não assumo? A crueldade da dúvida é que tem levado verdadeiros talentos ao estaleiro, a desistência pura e simples. Aliás, os produtores teatrais do Piauí, sempre que descobrem um bom ator, se peguntam: quando é que ele vai trocar o palco por um salário minimo de balconista? Não que ser comerciário seja ruim, ou ganhar um salário também. Mas é que parece que o dinheiro que o ator piauiense ganha, ele não considera. E olhe que como produtor eu digo: o ator piauiense, formado e consciente, ganha dinheiro, e não lhe falta trabalho. Mas isso é preciso ser ator, investir-se do papel da representação, ser no sentido do devir e estar sempre antenado a procura de papel. O ator tem como função atuar, seja no palco, na tv, na publicidade ou no cinema, e, ainda, socialmente, isso significa investir-se da máscara de ator e não dizer simplesmente que é, e fugir na hora de atuar. Esconder no bairro onde mora, no trabalho que executa ou em cada esquina sua profissão. Ser ator, mesmo em Teresina, Piauí, Brasil, é uma profissão digna. Mas tem que encarar. Não é querer ser funcionáro público em primeiro lugar, ou vendedor de perfume, ou comerciário, é querer ser ator em primeiro lugar. Quantos médicos não são cantores, pianistas, atores? Eles se dizem artistas? Não, se dizem médicos. Agora nossos atores, e aqui não generalizo, nunca dizem que são atores, preferem dizer que são empregados na fundação tal, na secretaria tal, no supermercado tal, e tome irresponsabilizadade na hora do ensaio, por que não tem tempo. Por que aquele emprego lá é mais importante do que ser ator, do que seu sonho de vida. Triste realidade de nossos atores.
Bem, espero ter suscintado um debate que está me apaixanando muito. Mesmo por que nosso teatro, mesmo com todas as mazelas, continua em pleno desenvolvimento, e será seguramente a arte maior em pouco tempo.
2 comentários:
Vim dar vistas ao seu artigo só agora. Que texto instigador. Parabéns!
É sempre bom ver alguém refletir sobre o teatro no Piauí... lamento que isso seja expediente de poucos. Virando e revirando as páginas de Odilon, Clodoaldo e Pe. Chaves, passando pela Pç. Aquibadã s/n de A. Tito e, claro, pelos sempre esforçados textos de Aci, vem-me uma reflexão sumária:
A Questão do Ator Piauiense é que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos avós...
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