Adoro a vibração, a alegria e a explosão da torcida durante uma partida de futebol; Gosto da força, da saúde, da garra e da beleza dos dribles dos jogadores no campo. Mas confesso que uma das únicas coisas que não discuto é futebol, acho completamente inútil.
A primeira vez que assisti a uma copa do mundo pela televisão foi em 1970 quando o nosso país estava em plena ditadura e o Brasil sagrou-se tri -campeão mundial. Eu sabia de cor o nome de todos os jogadores da seleção, eles eram nossos deuses do gramado, salvadores de uma pátria que sangrava nos nos porões da repressão. Aliás, a primeira e última vez que fui a um estádio de futebol foi para ver Tiradentes do meu Estado e Botafogo do Rio de Janeiro, ou melhor para vê Jairzinho, o furacão da copa e Carlos Alberto Torres, o eterno capitão.
Como acho detestável discutir futebol foi isso que me afastou dos estádios, pois as pessoas ao seu lado não se contentam com o jogo teimam sobre tudo, xingam o juiz, a mãe do juiz, os técnicos, os jogadores, e são capazes de lhe matar com uma tijolada na cabeça se você discordar delas. Um horror! Outra coisa deplorável para mim é ver os torcedores imitando seus ídolos - cabelos, bigodes, cuecas, perfumes, tudo eles usam para se parecer com eles, seus ídolos. Ridículo! Agora, jamais direi alguma coisa contra, quero permanecer vivo.
Meu país do futebol talvez não seja como o país do futebol de milhões de brasileiros, talvez não, tenho certeza que não é mesmo. Meu país do futebol é o país da leitura, da boa saúde, da não violência e da educação de qualidade; meu país do futebol é o país onde as pessoas assistem teatro, balé, shows musicais e apreciam exposições de arte, e assim viajam na imaginação, bem alimentados de corpo e espírito.
Se naqueles longe anos de 1970 eu sabia decorado o nome de todos os jogadores da seleção brasileira, confesso que atualmente não sei o nome sequer de dois deles. Desinteresse meu? Não, pois continuo gostando de futebol, mas é que eles, ao contrário daqueles jogadores dos anos setenta, são deuses para o povo sem terem feito nada para isso. A maioria deles nem sequer moram no seu país, e muitos deles são feitos pela mídia, e ainda por cima, multimilionários parecem pairar sobre os mortais. Muitos deles vendem a alma para se manter no topo, ou então, estão no topo por que já não tem alma.
Não fiquei triste por que perdemos a copa do mundo, absolutamente. Mas também não disse isso para ninguém.com medo de pegar um murro no olho daqueles mais exaltados. Mas é que bastava ter um pouco de senso para saber que não seríamos campeão. Como ganhar a copa do mundo jogando todas as fichas em apenas um jogador? Até aí tudo bem, poderia ser. Mas como ganhar a copa do mundo se o jogador colocado para meter gols não meteu um sequer?
Fiquei arrasado mesmo, caído e triste foi com a alegria do time adversário que nos tirou da copa. O sorriso dos alemão cada vez que metiam um gol no Brasil não era por estar goleando o país do futebol, não! A alegria deles era por saberem que ali estava o resultado do esforço de um país que aprendeu a sair da adversidade. No sorriso daqueles jogadores estava a alegria de uma nação que reaprendeu muitas coisas, inclusive a jogar futebol. Meu país do futebol precisa aprender muitas coisas, nclusive, reaprender a jogar futebol..
18.07.2014
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