É preciso um certo distanciamento para escrever sobre a morte de um amigo. Quando este amigo é um querido, precisamos muito mais, precisamos de coragem. Faz pouco tempo da morte de meu amigo Elio Ferreira. Um poeta, ensaista, pesquisador, escritor, um professor! Conheci Elio ainda nos anos oitenta, na sua cidade natal Floriano. Ele já era um agitador cultural da cidade, um ser humano preocupado com a cultura e a criação. Levou para aquela cidade um espetáculo meu chamado Auto do Corisco. A partir de então ficamos amigos.
Quando Elio veio morar em Teresina estreitamos os laços de amizade. Ele era professor da Universidade Estadual do Piauí e eu passei dois anos trabalhando naquela instituição como técnico servindo no Departamento de Letras, onde existia um setor de Artes. Minha atividade ali era implantar um laboratório de Artes, hoje existe um teatrinho lá fruto do nosso trabalho - Laboratório Torquato Neto - e do professor Gonçalves, que cuidava de um coral. Continue minha amizade com Elio.
Nos anos dois mil dirigi o Theatro 4 de Setembro, e Elio criou a Roda de Poesias e Tambores. Apresentou muitas vezes no Espaço Osório Junior, do Theatro. Nos aproximamos muito. Elio era um poeta libertário. Um ser humano incrível. De nossa aproximação cada vez mais conhecemos um amigo comum, o jornalista, escritor, etnológo, ensaista Júlio Romão da Silva. Um negro fantástico. Passamos a comparecer juntos onde Júlio passava a morar. Sim, porque Júlio Romão ao se mudar do Rio de Janeiro para Teresina, mudou várias vezes de endereço. E nós, eu e Elio, sempre no seu encalço. Amizade dos dois irrepreensível.
A UESPI fez uma homenagem a Júlio Romão da Silva nos seus 85 anos, e o Theatro 4 de Setembro repetiu essa homenagem com a mesma grande exposição Eram fotos, livros, comendas e recortes de jornais da vida e da obra de Júlio Romão. Dessa exposição foi surpreendido por Júlio Romão quando disse para mim que gostaria que eu ficasse responsável pela guarda de todo seu material. Claro, não me opus mas pedi que ele assinasse uma declaração. Fiquei cuidando de seu material, principalmente das fotografias.
Numas das inúmeras visitas a Júlio Romão ele contou uma história a mim e ao Elio. Disse que uma vez estava na residência da Condessa herdeira do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Era aniversário da Condessa E lá estavam escritores, poetas, políticos e artistas. Gente do porte de Jorge Amado. Quem tocava no aniverrsário era Pixiguinha. Elio sorria das histórias de Júlio. Um sorriso que era sua marca. Foi ali onde eu e ele planejamos um livro sobre Júlio Romão, onde faríamos uma compilação sobre sua vida e sua obra. No ano de 2012 lançamos o livro Júlio Romão da Silva - Entre o Formão, a Pena e a Lei, na Academia Piauiense de Letras. Edição da Editora da Universidade Federal do Piauí. Júlio morreria no mesmo ano.
Portanto, Elio Ferreira não era só um amigo. Era um parceira de fé e coragem.
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