Quando terminei de tomar o café de Dona Miquilina, diga-se um belo desjejum que me tirou de uma fome canina, estava disposto a resolver a parada com a filha do casal, de uma vez por todas. Ora, bolas, onde já se viu tamanha hipocrisia? A moça, que não era mais moça, querendo se aproveitar de minha pessoa! Ainda mais acobertada pelos pais! E o tal de doutor Ambrósio, qual o papel dele? Putz, vão se a merda!
- Bem, o negócio é o seguinte. Casar com Lucy eu não caso, não - Disparei.
- Como é que é, moço? Interrogou Dona Miquilina, incrédula.
- Vou casar, por que?...
- O senhor dormiu com a minha filha! Quase grita a mulher.
- Calma, Miquilina - Disse seu Deodato.
Mas Dona Miquilina não se acalmou. E me fez acreditar que se eu não cassasse com sua filha não sairia ileso daquele lugar. Ileso, era modo de falar. Não sairia vivo, mesmo.
- Mas porque, minha gente?
Ai me fizeram ver que eu tinha sido o único de coragem a dormir com Lucia Antonia, apesar dela já ter corneado o tal de doutor Ambrósio várias vezes, sempre com rapazes de fora. Bem, isso já tinha me dito o primo Pedro. Mas é daí?
- Doutor Ambrósio não vai perdoar o senhor ter dormido com a namorada dele. E o desgraçado é mau que só um pica - pau. Se o senhor não casar com minha filha pode se despedir da vida, viu.
Meu esse seu Ambrósio vai deixar eu casar com a namorada dele, mulher, sei lá?
- Casar e levar Lucia Antonia daqui. Isso ele aceita - Encerrou Dona Miquilina.
Meu Deus que loucura. Onde eu tinha metido meu saco. Dona Miquilina tirou a mesa do café e saiu para a cozinha. Seu Deodato me confidenciou.
- Moço, Miquilina, é meio avexada. Essa história de casamento...deixa pra lá. O que o senhor tem de fazer mesmo é levar Lucia Antonia daqui pra cidade. Faça de conta que vai casar com ela por lá.
- Mas o tal de doutor Ambrósio, seu Deodato? É capaz de me matar.
- Coisa de Miquilina, rapaz. Tudo fachada. Basta levar Lucia Antonia pra cidade e está tudo resolvido. Acredite.
Fiquei mais calmo. Foi quando entrou Lucia Antonia na sala, mais bonita do que o desabrochar de uma rosa.
- Meu pai, bom dia. E tu, Tony?...Pelo visto já foi tudo conversado.
Ela me abraçou e eu sentir como eu era frágil e tolo diante daquela moça.
- Já, minha filha, já foi tudo conversado. O rapaz aí...
- Antonio, meu pai...
- Antonio Felinto...
- O rapaz vai lhe levar para a capital.
Os olhos de Lucia Antonia, a Lucy Vaness brilharam intensamente. E ela mais uma vez se jogou em meus braços.Não tive como não abraçá-la e sentir toda a rigidez e fortaleza daquele corpo.
-Meu Deus, que bom! Vou me arrumar. Até que enfim vou sair dessa terra, meu pai!
E foi assim que conheci Lucy Vaness e trouxe ela comigo para a capital. No caminho pude sentir e presenciar sua alegria por ter saído do lugar onde nasceu e viveu até ali. No caminho ela me contou que trazia com ela o endereço de uma amiga, que há muito tempo, morava na capital.Disse também que não me preocupasse com ela, pois estava preparada para enfrentar a vida na cidade grande. Fora para isso que ela aprendera todas as artimanhas que uma mulher pode usar para adquirir o que quer.
Quando chegamos na cidade deixei Lucia Antonia no local que ela pediu. Era lá que morava a amiga dela. Passo muito tempo sem ver Lucy Vaness. Agora uma mulher mais do que dona de si. Dona daquilo que quer.
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