terça-feira, 17 de setembro de 2024

TEMPOS DE CHUMBO

              Ao participar da FELIPI - Feira da Literatura Piauiense, promovida pela Academia Teresinense de Letras - ATL e Editora Lamparina, no Sesc Cajuina, dias 02 a 04 de setembro, como um dos homenageados, fiz uma fala ao público. Interessante é que de tudo que falei uma das partes que foi mais ouvida e teve repercussão foi sobre a ditadura militar. E foi por que contei apenas uma pequena passagem daqueles tempos de chumbo. Vamos aqui recordar ela e outras.

             Relatei que ao ir a policia federal para liberar meu texto teatral Alto do Corisco, no inicio dos anos oitenta, um texto que contava a história do Piauí de forma satírica, fui surpreendido pelo censor, um velho conhecido, com a seguinte questão. Você não pode colocar no texto a frase "Meu amigo liguei-se na liga do Julião". A frase fazia parte parte do texto, sim. E se referia a Chico Julião, criador das ligas camponesas do Recife na década de sessenta. Chico Julião se tornou um inimigo da ditadura. E foi exilado do Brasil por muitos anos. Eu, na frente do censor, me fiz de inocente. "Mas doutor porque?" O censor. "Porque não. Chico Julião é um subversivo! ". "Eu não sabia, doutor". O homem foi taxativo. "Não pode. Você vai ter que trocar esse nome por Pedrão, Raimundão, Toião, mas Julião não pode". Eu, simplesmente. "Tá bem, doutor". Recebi o texto mas nunca troquei o nome de Julião.

            De outra feita eu estudante da Universidade Federal do Piauí no inicio dos anos oitenta fomos surpreendidos quando a policia cercou o campos da universidade. Eu estudava educação artistica, e estava no auditório do departamento. A gente sabia da gravidade da situação naquele periodo. O embate entre os estudantes e a ditadura. Mas não esperava tanto. O certo é que foi uma correria danada dentro da universidade. Ninguém se entendia. estudantes cercado, bombas de gás, cacetetes, o escambau. Eu ao invés de correr para onde os estudantes estavam corri foi para dentro de um banheiro. Fiquei lá dentro me tremendo de medo. Na minha cabeça era fácil me pegar, bastava os soldados fazerem uma vistoria. O tempo foi um século. Então, tive a coragem de sair para olhar como estavam as coisas. quando sai do banheiro vinha um colega correndo ao me encontro. Vamos entrar no banheiro, ele quase grita. Entramos no banheiro. Ele disse que os soldados estavam vindo fazendo vistoria nas salas. Fo um terror. O que é que eu tinha a ver com aquilo? 

           Passaram- alguns minutos. Escutamos os soldados. Fiquie dentro do banheiro em cima do vaso sanitário. Um soldado entrou de relance e bateu com o cacetete na porta. a pancada foi terrivel. Viajei no tempo. Mas ele não entrou nos banheiros. Apenas falou alto que não tinha ninguém ali. Foi terrível!

             Tem muitas histórias do tempo de chumbo. Não dar para esquecer. Ditadura jamais!          

sábado, 10 de agosto de 2024

CARTA ABERTA AOS CANDIDATOS A PREFEITOS E VEREADORES DE TERESINA - 2024

                   Foi lançada pelo movimento THE CARNAVAL, no Conselho Estadual de Cultura, no dia 08 de agosto de 2024, uma cara aberta aos candidatos a prefeito e vereadores de Teresina - Um compromisso pela preservação do carnaval. O Movimento THE CARNAVAL é formado por vários seguimentos e movimentos carnavalescos da capital, e tem uma coordenação formada por Messias Júnior, Aci Campelo, Bernardo Sá e Edson Correia. Segue a carta.

                   Ás vésperas das eleições municipais, o THE CARNAVAL, um momento de salvaguarda do carnaval de Teresina, gostaria de expressar suas preocupações  com a constante descaracterização do carnaval de nossa capital. A preservação dessa festa popular, que é um importante patrimonio cultural imaterial, deve ser protegida e transmitida ás gerações futuras, junto com as representações carnavalescas (blocos e escolas de samba), grupos de samba de raiz, frevo e o corso do Zé Pereira.

                   O carnaval contribui para o fortalecimento da economia, criando oportunidades de emprego e renda para músicos, artistas, vendedores ambulantes e impulsionando uma ampla variedade de serviços, como bares, restaurantes, , hotéis, transportes e comércio. Além disso, preservar nossas tradições e celebrar a cultura são aspectos fundamentais.

                  O movimento THE CARNAVAL propõe um compromisso por parte  dos candidatos a prefeitos e vereadores de Teresina, no qual se comprometam com a proteção e melhoria da qualidade do carnaval da cidade. esse compromisso se baseia em três grande fundamentos:

                     1) CRIAÇÃO DA COMISSÃO ORGANIZADORA PERMANENTE DO CARNAVAL.

                        Após a definição do novo gestor municipal, torna-se necessário estabelecer, de forma temporária e extraordinária, uma Comissão Organizadora do Carnaval 2025 (COC 2025) por meio da equipe de transição. Essa comissão terá a representação das agremiações carnavalescas , como blocos e escolas de samba, além de contar com representantes do setor público e privado.

                          No inicio do novo mandato é fundamental uma portaria oficial para instituir formalmente a Comissão Organizadora Permanente do Carnaval (COPC) essa comissão terá a representação das agremiações carnavalescas, como blocos e escolas de samba, além de contar com representantes do setor público e privado.

                  2) LANÇAMENTO DA PROGRAMAÇÃO CARNAVALESCA NO ANIVERSÁRIO DE TERESINA, 16 DE AGOSTO.

                        A programação carnavalesca a ser lançada no aniversário de Teresina tem como objetivo celebrar o aniversário da cidade e valorizar uma das festas mais importantes do calendário - o carnaval.Com o intuito de engajar todos os setores do sociedade, busca-se criar uma atmosfera de união, comemoração e responsabilidade. O lançamento do calendário momesco a cada 16 de agosto evitará ações improvisadas, pontuais e ineficientes, promovendo a coordenação de esforços para garantir um carnaval que impacte, positivamente a vida social, cultural e economica da cidade.

                   3) APROVAÇÃO DA LEI DO CARNAVAL.

                       A  aprovação do lei do carnaval  se baseia na necessidade de estabelecer diretrizes claras para a organização do carnaval, garantindo sua segurança, infraestrutura adequada e fomento cultural. A lei busca regulamentar aspectos como a licença para blocos e eventos carnavalescos, a destinação de recursos para a realização da festa, a delimitações de horários e locais para os desfiles, entre outros pontos. a aprovação da lei é fundamental para garantir que o carnaval de Teresina seja realizado de forma organizada e com qualidade, tornando- o uma referencia no cenário nacional.

                    Esse é o compromisso pelo resguardo e melhoria da qualidade do carnaval da cidade de Teresina que o movimento THE CARNAVAL propões a sociedade e as candidatos a prefeito e vereadores nas eleições municipais de Teresina de 2024. Com isso a sociedade terá parametros minimos em mãos para o planejamento o organização do carnaval de 2025 e garantiria a formulação ou aprimoramento dos programas de governo dos candidatos, integrados a uma visão de planejamento de longo prazo que demonstre o compromisso com uma agenda de fortalecimento da economia criativa e da cultura popular. 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

CURSO SUPERIOR DE TEATRO E DANÇA

   

                O Piauí é um dos únicos estados do país onde não existe curso superior de teatro e dança, se não for o único. Portanto, o diferencial do artista da cena local é ter que superar a falta de formação tão essencial para o seu trabalho como para a evolução de seu conhecimento.

                Muito se tem discutido a formação do artista piauiense e o que isso representaria para o desenvolvimento da arte e a inserção do profissional no mercado de trabalho. O próprio estado se ressente de mão-de-obra, através da Secretaria de Estado da Educação, nas áreas de teatro e dança por falta de curso superior para suprir demanda de professores de arte na educação básica. Nos editais de concurso da Secretaria Estadual de Educação para professores de teatro e dança as vagas são preenchidas por pessoas formadas em outras licenciaturas.

             O estado possui uma Escola de Teatro a nível médio, a Escola Técnica Estadual de Teatro Gomes Campos, na formação profissional do ator e da atriz, no entanto, ao aluno formado na escola não dar o direito de lecionar na rede pública ou privava de ensino. O aluno formado em curso profissionalizante daquela escola – ator/atriz – tem o direito ao reconhecimento da profissão através do seu registro profissional, para atuar no mercado de trabalho no ramo da atuação de espetáculos. Todavia, para aqueles alunos que querem continuar os estudos, e mesmo a pesquisa, em teatro e dança não  resta alternativa. O único caminho é sair do Piauí.

            Temos a Universidade Federal do Piauí e a Universidade Estadual do Piauí, duas universidades públicas, que poderiam oferecer cursos superior em Teatro e Dança. Dentro das estancias superiores desses órgãos a discussão é intensa, mas sempre na perspectiva de que não vale a pena abrir esses cursos. O argumento parece até um mantra - não tem demanda. E o Piauí continua na rabeira de todas as universidades públicas do Brasil nesse setor. Inclusive, alguns estados do nordeste já contam com mestrados e doutorados na área de teatro e dança. Parece que além da nossa vergonha é um descaso.

             O estado não pode ter um olhar diferenciado para suas categorias sociais de trabalhadores e trabalhadoras. A classe de teatro e dança há muto tempo clama pela abertura de curso superior em teatro e dança nas universidades públicas do Estado. Já foram feitos diversos encontros com reitores da UESPI e UFPI mostrando essa necessidade. Na Universidade Estadual chegou-se a nomear uma Comissão entre professores e sociedade civil para discutir a apresentar o Projeto do Curso superior em teatro e dança. Tudo foi feito e apresentado a reitoria. E não aconteceu absolutamente nada. A não ser a recusa do órgão em abrir esses cursos..

          Convenhamos é muita falta de consideração com o mundo da arte. Enquanto isso os artistas continuam com sua grandeza de colocar o Estado em um pedestal, através de seu talento e criação.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

18º ENCONTRO NACIONAL DE CINEMA E VIDEO DOS SERTÕES.

           Aconteceu de 05 a 09 de junho passado, o 18º Encontro de Cinema e Video dos Sertões na cidade de Floriano, Piauí. Na realidade um festival charmoso do cinema nacional, onde a diversidade da tela se encontra para celebrar o cinema do pais. No Encontro pode-se assistir o estreante  como pode-se assistir estrelas do cinema, tudo em um clima de harmonia.

          Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Sergipe, Pará,  Goiás,  Maranhão, Alagoas, Distrito Federal, Porto Alegre, Minas Gerais e o nosso Piauí estiveram celebrando a arte do cinema em um painel que mostrou a cara do país na tela. Atores e atrizes do poste de Lucélia Santos, Caio Blat, Zeze  Mota, Ana Rosa, Roberto Sousa, Edite Rosa, estiveram ao lado  de artistas estreantes. Uma beleza para a assistência de uma plateia que lotava diariamente o Cineteatro da Cidade Cenográfica. Painéis de discussões e cursos de cinema enriqueceram o Encontro, onde pontificaram Fabiana Penna diretora de arte; Vânia Catani, produtora de cinema; Zezéh Barbosa, atriz e produtora, e ainda Ramon Farias, Bruna Valden, Renah Berindelli, Thaigo Pitta, Aci Campelo, Paulo de Tarso, Igor Cruz, Rafael Bezerra, e ainda, a participação do Ministério da Cultura nas pessoas de Leandro Anton, coordenação da cultura viva do Minc e os representantes do Piauí Patricia Mendes e Waldilio Siso, ou seja o Encontro de Cinema e Video dos  Sertões deu a dimensão da maturidade dos organizadores do evento,  colocando o Piauí na rota dos grandes festivais do cinema nacional. 

           Em relação ao cinema feito no Piauí podemos colocar, sem medo, que foi como uma retomada da produção do audiovisual piauiense. Nunca tinham se encontrado em um mesmo evento diretores e roteiristas como Douglas Machado, Valdery Duarte e F. Monteiro Junior, em produções fenomenais como A Carta de Esperânça Garcia, Mestre Pascoal e Estalos, filmes que encantaram tanto o júri técnico como o júri popular do Encontro. Os três filmes nas suas respectivas categorias levaram os troféus de Melhor Diretor, Melhor Montagem, Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator, Melhor caracterização e Melhor trilha sonora desbancando grandes filmes nacionais. Por isso, quando dizemos que o Encontro pode servir como uma retomada do cinema piauiense apostando exatamente nesse novo gás proporcionado pelo Evento.

           A Escalet Produções Cinematográfica, um braço do Grupo Escalet, se coloca como veículo de maior difusão do cinema no Piauí, com um Encontro de Cinema organizado de forma profissional.Na coordenação geral a figura de Cesar Crispim, encabeçando uma equipe de pessoas como Paulo de Tarso, Iraci Costa, e tantos outras figuras importantes.  E aqui nem vale colocar a ausência de representantes do orgão oficial de cultura do Estado do Piauí no evento, mesmo por que passou um branco. No entanto, fica um alerta de que todos aqueles Estados citados acima tem uma presença marcante do poder público no desenvolvimento do cinema de sues produtores, enquanto o poder público do Piauí teima em ir na contramão da história.

           Vida longa ao Encontro de Cinema e Video dos Sertões!  

segunda-feira, 13 de maio de 2024

MEU AMIGO ELIO FERREIRA

               É preciso um certo distanciamento para escrever sobre a morte de um amigo. Quando este amigo é um querido, precisamos muito mais, precisamos de coragem. Faz pouco tempo da morte de meu amigo Elio Ferreira. Um poeta, ensaista, pesquisador, escritor, um professor! Conheci Elio ainda nos anos oitenta, na sua cidade natal Floriano. Ele já era um agitador cultural da cidade, um ser humano preocupado com a cultura e a criação. Levou para aquela cidade um espetáculo meu chamado Auto do Corisco. A partir de então ficamos amigos.

              Quando Elio veio morar em Teresina estreitamos os laços de amizade. Ele era professor da Universidade Estadual do Piauí e eu passei dois anos trabalhando naquela instituição como técnico servindo no Departamento de Letras, onde existia um setor de Artes. Minha atividade ali era implantar um laboratório de Artes, hoje existe um teatrinho lá fruto do nosso trabalho - Laboratório Torquato Neto -  e do professor Gonçalves, que cuidava de um coral. Continue minha amizade com Elio.

                Nos anos dois mil dirigi o Theatro 4 de Setembro, e Elio criou a Roda de Poesias e Tambores. Apresentou muitas vezes no Espaço Osório Junior, do Theatro. Nos aproximamos muito. Elio era um poeta libertário. Um ser humano incrível. De nossa aproximação cada vez mais conhecemos um amigo comum, o jornalista, escritor, etnológo, ensaista Júlio Romão da Silva. Um negro fantástico. Passamos a comparecer juntos onde Júlio passava a morar. Sim, porque Júlio Romão ao se mudar do Rio de Janeiro para Teresina, mudou várias vezes de endereço. E nós, eu e Elio, sempre no seu encalço. Amizade dos dois irrepreensível.

            A UESPI fez uma homenagem a Júlio Romão da Silva  nos seus 85 anos, e o Theatro 4 de Setembro repetiu essa homenagem com a mesma grande exposição Eram fotos, livros, comendas e recortes de jornais da vida e da obra de Júlio Romão. Dessa exposição foi surpreendido por Júlio Romão quando disse para mim que gostaria que eu ficasse responsável pela guarda de todo seu material. Claro,  não me opus mas pedi que ele assinasse uma declaração. Fiquei cuidando de seu material, principalmente das fotografias. 

              Numas das inúmeras visitas a Júlio Romão ele contou uma história a mim e ao Elio. Disse que uma vez estava na residência da Condessa herdeira do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Era aniversário da Condessa E lá estavam escritores, poetas, políticos e artistas. Gente do porte de Jorge Amado. Quem tocava no aniverrsário era Pixiguinha. Elio sorria das histórias de Júlio. Um sorriso que era sua marca. Foi ali onde eu e ele planejamos um livro sobre Júlio Romão, onde faríamos uma compilação sobre sua vida e sua obra. No ano de 2012 lançamos o livro Júlio Romão da Silva - Entre o Formão, a Pena e a Lei, na Academia Piauiense de Letras. Edição da Editora da Universidade Federal do Piauí. Júlio morreria no mesmo ano.

            Portanto, Elio Ferreira não era só um amigo. Era um parceira de fé e coragem.

terça-feira, 2 de abril de 2024

AS PAIXÕES DE CRISTO E A DRAMATURGIA

               Os espetáculos da Paíxão de Cristo aumentaram consideravelmente no estado do Piauí. Muitos municípios encenaram sua paixão de cristo, cada um dentro das suas possibilidades, e muitos deles misturaram atores locais com atores conhecidos, inclusive, a nível nacional. Teve espetáculos para todos os gostos.Aqui vamos nos prender um pouco sobre a dramaturgia criadas para esses espetáculos.

                   Vamos colocar três filmes, claro existem muitos outros, que para nós dão a dimensão de um bom tratamento de roteiro sobre a vida e a morte de Jesus Cristo. O primeiro é o convencional, e muito bom, filme de Franco Zeffirelli Jesus de Nazaré, aquele que ficou a imagem de um cristo de olhos azuis e penetrantes; o segundo, é A Paixão de Cristo, do ator e diretor Mel Gibson, onde temos uma violência extremada, quase escatológica em cima de Jesus, um filme chocante, e por último, o filme de Pier Paolo Pasolini, O Evangelho Segundo São Mateus, na minha concepção um dos melhores filmes de todos os tempos sobre Jesus Cristo. Porque estamos colocando aqui esses filmes, por que para mim são bons exemplos de dramaturgia cinematográfica, já que estamos tratando de uma história super conhecida, portanto, sempre adaptada.

                 Muito se tem discutido se a paixão de cristo é um drama ou uma tragédia. No sentido clássico da dramaturgia, a paixão de cristo é um drama, ou seja, o drama da vida e morte de Jesus Cristo. Isso porque, mesmo com todo seu sofrimento e sua morte  pregado na cruz, Jesus, digamos assim como herói da história, tinha o domino sobre seu destino, e poderia ter sido salvo bastaria não ter aceito todo o seu sofrimento. Na tragédia clássica o destino do personagem herói é imutável, com obstáculo intransponível. 

                 Assisti muitas paixões de cristo esse ano. Para ver o desenvolvimento de sua dramaturgia. Como já disse, teve para todos os gostos. Paixão de Cristo que se divide em três dias, e o texto se arrasta nesses três dias, fazendo com que o autor divida os dias em episódios, e tome cenas para tanto espetáculo! Muitas vezes cenas que duram apenas três minutos e outras que se arrastam podendo durar também apenas três minutos.E as que se arrastam nas cenas de choros e sofrimentos? Longe de nós falarmos aqui de atores e atrizes, pois merece um capitulo a parte. Nossa senhora!

                Enfim, não é porque se trata da Paixão de Cristo que se vai fazer um espetáculo sem emoção, apenas recontando o sofrimento de cristo que todos nós conhecemos. É preciso colocar emoção na ação, emção no drama, e emoção no teatro está numa boa escrita dramaturgica, que leva a boas interpretações e a um um bom espetáculo. A velha e boa dramaturgia. 

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quarta-feira, 6 de março de 2024

NÃO PERDI A LUTA

       

             Minha formação em Licenciatura em Educação Artística – Artes Cênicas, na UFPI, foi uma saga. Basta dizer que fui o único aluno a terminar o curso. Ele acabou quando fui formado.  Mas o que vou contar aqui é outra história. É o bom combate de quem lutou arduamente para a criação de um curso superior de teatro no Piauí. O que nunca foi criado. Perdi a luta? Pelo contrário.

            A modalidade artes cênicas, na Universidade Federal do Piauí, acabou na primeira metade dos anos oitenta. Foi quando comecei minha luta para a criação do curso superior em teatro. Uma luta solitária. O primeiro artigo sobre o assunto saiu no Jornal O Dia. Fiquei alegre com a repercussão. Depois em seminários, fóruns, congressos, minha fala era uma só: a necessidade de um curso superior de teatro no Piauí. Continuava sozinho na causa. E triste com isso.

           Fui eleito presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – SATED-PI, criado por mim e alguns amigos, no final dos anos oitenta. Agora com um instrumento de luta nas mãos me sentia mais fortalecido. Com o SATED-PI ganhei uma vaga no Conselho Estadual de Cultura-CEC. Mais combustível para a luta. Não perdi tempo. No Conselho de Cultura do Estado comecei a discutir sobre a triste situação da classe teatral que não tinha onde se capacitar pela falta de um curso superior. Encontrei adeptos, muita repercussão. Achavam um absurdo a UFPI ter acabado com a modalidade artes cênicas, na Licenciatura em Educação Artística, e eu completava, o pior é que na nova LDB da educação exige o ensino do teatro, da dança, das artes visuais, e da música, mas a UFPI teima em não oferecer a modalidade teatro. Pelo Sindicato criei uma oficina de teatro que denominei de Núcleo da Escola de Teatro do Piauí. Todavia eu continuava solitário na ideia da criação do curso superior. Sai do SATED e o núcleo da escola de teatro não teve continuidade. Mas eu continuei na luta.

           Na luta fui convidado para dirigir o Theatro 4 de Setembro. Que oportunidade, pensei. Vou colocar o espaço do Theatro para capacitação da classe. No Theatro 4 de Setembro existia uma oficina de teatro chamada Procópio Ferreira. Conversei com a presidente da Fundação Cultural do Piauí e expliquei sobre o Projeto do Núcleo da Escola de Teatro, ela prontamente encampou a ideia. Ainda encontrei resistência do pessoal da Oficina Procópio Ferreira, no entanto, estava implantado o Núcleo da Escola de Teatro do Piauí nas dependências do Theatro 4 de Setembro. A demanda de matriculas foi imensa. Tudo bem não era o que eu queria, mas já era o começo, e também uma vitrine para a discussão sobre o abertura de um curso superior no Piauí, fosse na universidade federal  ou na universidade estadual.

                     

          O Núcleo da Escola de Teatro deu frutos. Os próprios alunos, muitos deles atuando no  teatro, começaram a discutir a necessidade do curso superior, e ajudavam a difundir a proposta. Minha passagem como diretor do Theatro 4 de Setembro foi rápida, pela mudança de governo. Com isso teve fim o Núcleo da Escola de Teatro. No entanto, surge a cobrança de muitos artistas pela criação do curso superior na área. Eu não estava mais sozinho na luta. Tinha sido presidente do SATED-PI por três vezes e não queria mais entrar naquela luta. Todavia precisava de um instrumento para continuar a reivindicação do curso. Voltei a ser presidente do SATED-PI, e coloquei no papel toda a sistematização do que se pensava sobre um curso superior de teatro no Piauí.

         Fui ao Conselho Estadual de Cultura levando a proposta ao presidente, o Professor Manuel Paulo Nunes, pedindo que o CEC desse um parecer sobre o projeto. O parecer foi feito pelo Conselheiro, o ator Maneco Nascimento, muito bem argumentado a favor da abertura do curso superior de teatro. Governava o    Estado do Piaui no seu primeiro mandato, Welington Dias. Com o projeto esboçado e o parecer do CEC solicitamos uma audiência no Palácio de Karnac, para solicitar ao governador a abertura do curso superior de teatro na UESPI. Convidamos alguns colegas da classe teatral para a audiência e fomos bem recebidos em Karnac. O governador prontamente atendeu a reivindicação encaminhando o projeto para a reitoria da Universidade Estadual do Piauí. Tudo registrado pela assessoria de imprensa, com direito a reportagem em

jornal.

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          A euforia tomou conta de todos nós agora na luta. Rapidamente marcamos audiência com o Reitor da UESPI, Doutor Nouga Cardoso e fomos ao Palácio Pirajá em comissão de artistas. Fomos bem recebidos pelo reitor e pela a Pró-Reitoria de extensão. A proposta do curso superior foi discutida e muito bem recebida pela Reitoria. Saímos exultantes! Mas o tempo passou e nada. A UESPI não deu sinal de que encamparia a abertura de um curso superior de teatro. Balde de água fria. No entanto, nada de desistir.

         Foi quando pensamos em realizar um seminário para discutir a questão da profissionalização do artista de teatro no Piauí. O evento denominado de Seminário: Teatro e Profissionalização,  foi realizado pelo SATED na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, com sucesso. A palestra de fundo foi feita pelo Doutor em Artes Cênicas Professor Arão Paranaguá, com a participação de representantes de órgãos culturais do Estado e do município. O Seminário teve boa repercussão, chegando a Secretaria Estadual de Educação, onde era secretario, o professor Antonio Jose Medeiros. A luta estava viva!

           Mas eu precisava sair da direção do  SATED-PI, era uma decisão minha não prosseguir mais naquela labuta de classe. No entanto, como último ato de minha gestão realizamos o I Congresso Estadual do SATED, onde seriam discutidos vários temas e, claro, a abertura do curso superior de teatro. No último dia do evento adentra na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, o professor Antonio José Medeiros, Secretario Estadual de Educação e eu o chamei para a mesa. Surpresa para todos! O professor leu o decreto do governador do Estado criando a Escola Técnica Estadual de Teatro Professor José Gomes Campos. Se eu sabia? Sim, já tinha conversado com o professor, só não esperava que fosse tão rápido. Emoção e lágrimas. Tudo registrado.

           Fui nomeado diretor da Escola que ainda não existia. Implantamos a escola e a primeira turma formada em Técnico – Ator/Atriz saiu em 2008, com 36 alunos. Foi um passo gigantesco. Mas a luta por um curso superior não parou. Foi então que recebemos um recado da professora Ercilene Costa, da UESPI, que tinha tomado conhecimento de nossa proposta entregue a reitoria daquela instituição. Novas perspectivas se abriam. Arregimentamos alguns companheiros do teatro. A professora queria sistematizar o projeto para apresentar oficialmente a reitoria. Entre as pessoas presentes na discussão com a professora eu e o ator Adriano Abreu ficamos de esboçar o projeto do plano de curso, seria formação em Licenciatura em Teatro. Todavia, durante as discussões com a comissão de artistas a professora Ercilene veio a falecer. Novo abalo. Mas não deixamos de trabalhar no Projeto do Plano de Curso. Veio a ideia de partimos para a Universidade Federal do Piauí. Uma reunião com o reitor da instituição foi realizada com a presença de inúmeros artistas de teatro. A ideia foi discutida, e muito bem recebida. Novas fotos para a posteridade. A reitoria nos encaminhou para uma conversa com o Departamento de Educação Artística da instituição. Ali encontramos resistência, portas fechadas. Uma grande decepção. Desistir jamais!

         Do encontro com a professora Ercilene Costa muito material sobre formatação de curso da UESPI foi disponibilizado para nós. E assim, com toda nossa ingenuidade, porém com grande determinação, criamos um esboço do que seria um plano de curso superior em teatro. Dessa forma, criamos coragem e agora com um documento mais 

 elaborado, e com a memória da professora Ercilene, partimos novamente para a UESPI. A entrega do documento deu-se numa solenidade super concorrida com a presença de inúmeros artistas de teatro e do secretario de Estado da Cultura deputado Fábio Novo. O projeto foi protocolado. Fotos lindas e emocionantes!

           Obviamente que o projeto, apesar de ter sido criado com base em outros cursos superior de teatro de universidades brasileiras, carecia de melhor formatação dentro dos princípios que regem os cursos da UESPI e das leis que regem os cursos superiores. O importante foi que com a entrega desse documento a classe teatral passou a cobrar, de forma mais sistemática, a abertura do curso. E nós sempre erámos chamado para discorrer sobre o tema em encontros da classe. Veio então o mais forte indicio de que finalmente o curso sairia, quando fomos chamados pela UESPI para discutir o tema, agora encabeçado pela coordenadora do CCECA - Centro de Ciências da Educação, Comunicação e Artes, Valdirene Sousa. Nessa reunião foi criada uma comissão oficial da UESPI formada por professores da instituição e pessoas da comunidade. Ficou decidido também que o curso seria de teatro e dança, no formato de Licenciatura.

           A comissão instituída pela UESPI foi formada pelos professores Luciano Melo, Kácio Santos, Feliciano Bezerra, Socorro Machado e Dalva Stela, e pela comunidade Aci Campelo, dramaturgo; Moises Chaves, ator; Augusto Neto, ator  e Arão Paranaguá, doutor em artes cênicas. A coordenação da comissão foi entregue ao professor Kácio Santos. A comissão se reuniu inúmeras vezes no CCECA. O Plano de Curso foi finalizado, optando-se, em primeiro lugar, pela concretização da Licenciatura em Teatro pelo avanço nas discussões. Com o Projeto do curso superior em teatro concluído, agora sob a responsabilidade do próprio CCECA da UESPI, partiu-se para as estancias superiores. Todos os esforços da comissão foram feitos. Todavia, pasmem, o Projeto não andou, ficou parado nos labirintos da UESPI.  Portanto, o Estado do Piauí continua como um dos únicos a não oferecer um curso superior em teatro para um público de grande demanda.

         Se essa história não é uma saga, é quase uma! Perdedor, eu? Absolutamente! Enfrentei todos os combates possíveis! E fiz o bom combate. Continuo na luta. O Piauí precisa!