Minha formação em Licenciatura em
Educação Artística – Artes Cênicas, na UFPI, foi uma saga. Basta dizer que fui
o único aluno a terminar o curso. Ele acabou quando fui formado. Mas o que vou contar aqui é outra história. É
o bom combate de quem lutou arduamente para a criação de um curso superior de
teatro no Piauí. O que nunca foi criado. Perdi a luta? Pelo contrário.
A modalidade artes cênicas, na
Universidade Federal do Piauí, acabou na primeira metade dos anos oitenta. Foi
quando comecei minha luta para a criação do curso superior em teatro. Uma luta
solitária. O primeiro artigo sobre o assunto saiu no Jornal O Dia. Fiquei
alegre com a repercussão. Depois em seminários, fóruns, congressos, minha fala
era uma só: a necessidade de um curso superior de teatro no Piauí. Continuava
sozinho na causa. E triste com isso.
Fui eleito presidente do Sindicato
dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – SATED-PI, criado por mim
e alguns amigos, no final dos anos oitenta. Agora com um instrumento de luta
nas mãos me sentia mais fortalecido. Com o SATED-PI ganhei uma vaga no Conselho
Estadual de Cultura-CEC. Mais combustível para a luta. Não perdi tempo. No
Conselho de Cultura do Estado comecei a discutir sobre a triste situação da
classe teatral que não tinha onde se capacitar pela falta de um curso superior.
Encontrei adeptos, muita repercussão. Achavam um absurdo a UFPI ter acabado com
a modalidade artes cênicas, na Licenciatura em Educação Artística, e eu
completava, o pior é que na nova LDB da educação exige o ensino do teatro, da
dança, das artes visuais, e da música, mas a UFPI teima em não oferecer a modalidade
teatro. Pelo Sindicato criei uma oficina de teatro que denominei de Núcleo da
Escola de Teatro do Piauí. Todavia eu continuava solitário na ideia da criação
do curso superior. Sai do SATED e o núcleo da escola de teatro não teve
continuidade. Mas eu continuei na luta.
Na luta fui convidado para dirigir o
Theatro 4 de Setembro. Que oportunidade, pensei. Vou colocar o espaço do
Theatro para capacitação da classe. No Theatro 4 de Setembro existia uma
oficina de teatro chamada Procópio Ferreira. Conversei com a presidente da
Fundação Cultural do Piauí e expliquei sobre o Projeto do Núcleo da Escola de
Teatro, ela prontamente encampou a ideia. Ainda encontrei resistência do
pessoal da Oficina Procópio Ferreira, no entanto, estava implantado o Núcleo da
Escola de Teatro do Piauí nas dependências do Theatro 4 de Setembro. A demanda
de matriculas foi imensa. Tudo bem não era o que eu queria, mas já era o
começo, e também uma vitrine para a discussão sobre o abertura de um curso
superior no Piauí, fosse na universidade federal ou na universidade estadual.
O
Núcleo da Escola de Teatro deu frutos. Os próprios alunos, muitos deles atuando
no teatro, começaram a discutir a
necessidade do curso superior, e ajudavam a difundir a proposta. Minha passagem
como diretor do Theatro 4 de Setembro foi rápida, pela mudança de governo. Com
isso teve fim o Núcleo da Escola de Teatro. No entanto, surge a cobrança de
muitos artistas pela criação do curso superior na área. Eu não estava mais
sozinho na luta. Tinha sido presidente do SATED-PI por três vezes e não queria
mais entrar naquela luta. Todavia precisava de um instrumento para continuar a
reivindicação do curso. Voltei a ser presidente do SATED-PI, e coloquei no
papel toda a sistematização do que se pensava sobre um curso superior de teatro
no Piauí.
Fui
ao Conselho Estadual de Cultura levando a proposta ao presidente, o Professor
Manuel Paulo Nunes, pedindo que o CEC desse um parecer sobre o projeto. O
parecer foi feito pelo Conselheiro, o ator Maneco Nascimento, muito bem
argumentado a favor da abertura do curso superior de teatro. Governava o Estado do Piaui no seu primeiro mandato, Welington Dias. Com o
projeto esboçado e o parecer do CEC solicitamos uma audiência no Palácio de
Karnac, para solicitar ao governador a abertura do curso superior de teatro na
UESPI. Convidamos alguns colegas da classe teatral para a audiência e fomos bem
recebidos em Karnac. O governador prontamente atendeu a reivindicação
encaminhando o projeto para a reitoria da Universidade Estadual do Piauí. Tudo
registrado pela assessoria de imprensa, com direito a reportagem em
jornal.
.
A euforia tomou conta de
todos nós agora na luta. Rapidamente marcamos audiência com o Reitor da UESPI,
Doutor Nouga Cardoso e fomos ao Palácio Pirajá em comissão de artistas. Fomos
bem recebidos pelo reitor e pela a Pró-Reitoria de extensão. A proposta do
curso superior foi discutida e muito bem recebida pela Reitoria. Saímos
exultantes! Mas o tempo passou e nada. A UESPI não deu sinal de que encamparia
a abertura de um curso superior de teatro. Balde de água fria. No entanto, nada
de desistir.
Foi quando pensamos em
realizar um seminário para discutir a questão da profissionalização do artista
de teatro no Piauí. O evento denominado de Seminário: Teatro e
Profissionalização, foi realizado pelo
SATED na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, com sucesso. A palestra de
fundo foi feita pelo Doutor em Artes Cênicas Professor Arão Paranaguá, com a
participação de representantes de órgãos culturais do Estado e do município. O
Seminário teve boa repercussão, chegando a Secretaria Estadual de Educação,
onde era secretario, o professor Antonio Jose Medeiros. A luta estava viva!
Mas eu precisava sair da direção
do SATED-PI, era uma decisão minha não
prosseguir mais naquela labuta de classe. No entanto, como último ato de minha
gestão realizamos o I Congresso Estadual do SATED, onde seriam discutidos
vários temas e, claro, a abertura do curso superior de teatro. No último dia do
evento adentra na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, o professor Antonio
José Medeiros, Secretario Estadual de Educação e eu o chamei para a mesa.
Surpresa para todos! O professor leu o decreto do governador do Estado criando
a Escola Técnica Estadual de Teatro Professor José Gomes Campos. Se eu sabia?
Sim, já tinha conversado com o professor, só não esperava que fosse tão rápido.
Emoção e lágrimas. Tudo registrado.
Fui nomeado diretor da Escola que
ainda não existia. Implantamos a escola e a primeira turma formada em Técnico –
Ator/Atriz saiu em 2008, com 36 alunos. Foi um passo gigantesco. Mas a luta por
um curso superior não parou. Foi então que recebemos um recado da professora
Ercilene Costa, da UESPI, que tinha tomado conhecimento de nossa proposta
entregue a reitoria daquela instituição. Novas perspectivas se abriam.
Arregimentamos alguns companheiros do teatro. A professora queria sistematizar
o projeto para apresentar oficialmente a reitoria. Entre as pessoas presentes
na discussão com a professora eu e o ator Adriano Abreu ficamos de esboçar o
projeto do plano de curso, seria formação em Licenciatura em Teatro. Todavia,
durante as discussões com a comissão de artistas a professora Ercilene veio a
falecer. Novo abalo. Mas não deixamos de trabalhar no Projeto do Plano de Curso. Veio a ideia de
partimos para a Universidade Federal do Piauí. Uma reunião com o reitor da
instituição foi realizada com a presença de inúmeros artistas de teatro. A
ideia foi discutida, e muito bem recebida. Novas fotos para a posteridade. A
reitoria nos encaminhou para uma conversa com o Departamento de Educação Artística
da instituição. Ali encontramos resistência, portas fechadas. Uma grande
decepção. Desistir jamais!
Do encontro com a professora Ercilene Costa
muito material sobre formatação de curso da UESPI foi disponibilizado para nós.
E assim, com toda nossa ingenuidade, porém com grande determinação, criamos um
esboço do que seria um plano de curso superior em teatro. Dessa forma, criamos
coragem e agora com um documento mais
elaborado, e com a memória da professora
Ercilene, partimos novamente para a UESPI. A entrega do documento deu-se numa
solenidade super concorrida com a presença de inúmeros artistas de teatro e do
secretario de Estado da Cultura deputado Fábio Novo. O projeto foi protocolado.
Fotos lindas e emocionantes!
Obviamente que o projeto, apesar de ter sido
criado com base em outros cursos superior de teatro de universidades
brasileiras, carecia de melhor formatação dentro dos princípios que regem os
cursos da UESPI e das leis que regem os cursos superiores. O importante foi que
com a entrega desse documento a classe teatral passou a cobrar, de forma mais
sistemática, a abertura do curso. E nós sempre erámos chamado para discorrer
sobre o tema em encontros da classe. Veio então o mais forte indicio de que
finalmente o curso sairia, quando fomos chamados pela UESPI para discutir o
tema, agora encabeçado pela coordenadora do CCECA - Centro de Ciências da
Educação, Comunicação e Artes, Valdirene Sousa. Nessa reunião foi criada uma
comissão oficial da UESPI formada por professores da instituição e pessoas da
comunidade. Ficou decidido também que o curso seria de teatro e dança, no
formato de Licenciatura.
A comissão instituída pela UESPI foi formada
pelos professores Luciano Melo, Kácio Santos, Feliciano Bezerra, Socorro
Machado e Dalva Stela, e pela comunidade Aci Campelo, dramaturgo; Moises
Chaves, ator; Augusto Neto, ator e Arão
Paranaguá, doutor em artes cênicas. A coordenação da comissão foi entregue ao
professor Kácio Santos. A comissão se reuniu inúmeras vezes no CCECA. O Plano
de Curso foi finalizado, optando-se, em primeiro lugar, pela concretização da
Licenciatura em Teatro pelo avanço nas discussões. Com o Projeto do curso
superior em teatro concluído, agora sob a responsabilidade do próprio CCECA da
UESPI, partiu-se para as estancias superiores. Todos os esforços da comissão
foram feitos. Todavia, pasmem, o Projeto não andou, ficou parado nos labirintos
da UESPI. Portanto, o Estado do Piauí
continua como um dos únicos a não oferecer um curso superior em teatro para um
público de grande demanda.
Se essa história não é uma saga,
é quase uma! Perdedor, eu? Absolutamente! Enfrentei todos os combates
possíveis! E fiz o bom combate. Continuo na luta. O Piauí precisa!